quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Diamante negro

Clarissa se destaca pelo Fluminense, mas precisa de apoio para evoluir

(Excelente) Texto de Fábio Balassiano, no site Rebote


Começa neste sábado a segunda fase do Feminino da CBB. Um campeonato fraco, insosso, mas que ficou conhecido por ser o torneio que revelou Clarissa, do Fluminense, ao país. Sem o menor demérito ou culpa, a pivô, entretanto, é o retrato da modalidade no Brasil. E a fotografia não é boa.

Com 18 anos e 1,82m de massa bruta, Clarissa Cristina dos Santos, que já praticou futebol, vôlei e arremesso de discos, atua sem receber pelo clube das Laranjeiras. Possui técnica e habilidade atlética. Mas paremos por aí. As excelentes médias de 16.7 pontos e 12.1 rebotes merecem tanta reflexão quanto os pouco recomendáveis 3.7 erros, 0.2 toco e os 65.5% nos lances-livres. Uma das razões de números tão discrepantes é a defasada carga de treinamentos de quase todas as equipes brasileiras. Sem maximizar as habilidades da atleta como o seu potencial mereceria, Clarissa é apenas uma promessa, nada mais do que isso. E uma revelação precisa de estrutura para ser lapidada.

A iniciativa do Fluminense, de colocar em ação atletas jovens para ganhar experiência, demonstra um problema ainda maior: a falta de um circuito nacional de base. Com torneios juvenis, o argumento de que ?as meninas precisam de ritmo de jogo?, dito aos quatro ventos, cai por terra. Caberia à Confederação o fomento aos clubes formadores, como é o tricolor carioca, e maior incentivo àqueles que ainda se dispõem a participar da competição organizada por ela.

Mas como cobrar organização da CBB? Dos seis times que se apresentaram para a competição, três ostentam campanhas com mais vitórias que derrotas. Até mesmo o Santo André, da competente-e-experiente Laís Elena, perdeu mais que venceu (3-7). Soa como picardia apontar o holofote da esperança para uma menina de 18 anos que atua de forma amadora pela única equipe que não venceu sequer um de seus 10 encontros na competição.

Por isso vale dar uma olhada no terceiro Circuito da NLB, que será realizado a partir do próximo dia 26, em Santos. Com uma proposta bem mais realista, a Nossa Liga de Oscar pode não ser o sonho de consumo do basqueteiro, mas é organizada e envolve as cidades participantes com o projeto. A Confederação, infelizmente, é a única que não consegue enxergar isso.

O tempo é o senhor da razão, porém. A partir de 26 de maio, a seleção feminina juvenil joga o Mundial da categoria, na Eslováquia ? no último, o Brasil chegou em sétimo. Com convocação prevista para março, Clarissa é nome certo. Contra potências bem mais organizadas, toda a falta de preparação pela qual a pivô passou nos últimos anos será colocada à prova.

Se por um lado as qualidades serão vistas pelo mundo, suas deficiências serão escancaradas e o trabalho dos treinadores cada vez mais questionados. Este é o preço que a péssima estrutura do basquete brasileiro sujeita às suas melhores revelações. O diamante negro do basquete nacional corre o risco de ser taxado de bomba de chocolate.

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Lembrança - Em março de 2004, Melchiades Filho, em sua saudosa coluna da Folha de S.Paulo, já havia detectado o potencial da pivô: ?Com ginga e força nos quadris, a novata pivô do Grajaú alucinou nos rebotes: 22,2 por jogo. Mas Clarissa, 16, gosta de atletismo, esporte em que brilha ainda mais (dardo e peso). A CBB tem de paparicá-la!?.

Pena que a Confederação não viu...

Fonte: Rebote

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