quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Chorei
Não procurei entender
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava





Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima






Confesso. Não consegui sair de casa para assistir a decisão do bronze no Ibirapuera. Assisti pela Tv, ainda atônito pela derrota para a Austrália e pela vitória da Rússia. Chorei com as lágrimas de Janeth.

Nos dias seguintes, a falta de tempo e também de vontade me impediram de voltar ao assunto.

Ainda ontem voltei ao SESC Vila Mariana para assistir um show e ao atravessar o hall, me deparei mais uma vez com a (bela) exposição Mulheres de Bronze. O peito ainda dói quando vejo coisas como essa, que evocam o Mundial. Não que o quarto lugar não seja bom. Não, nada disso. É que por uma conjunção de fatores, por um certo minuto, estivemos próximos de um inédito bi-campeonato mundial. Mas, passou.

E já que já passou; ao menos precisa servir para o aprendizado.

E temos muito a aprender.

Na organização do torneio, como nossos dirigentes tem que aprender. Quanta incompetência, quanto amadorismo. Fizeram um Mundial como se organizassem uma pelada de domingo. Terrível. Moro em São Paulo. Não vi sequer um anúncio do Mundial seja onde for que eu andasse. Nenhuma inserção na Tv. Nenhum outdoor, nem anúncio no metrô. Nem no ônibus. Quando fui comprar meus ingressos, havia apenas uma faixa anunciando o Mundial em frente ao Ibirapuera. Nada mais. A venda foi problemática. Informações desencontradas. Vende, não vende, não sei. No Ibirapuera, descontando-se o que foi de responsabilidade da FIBA (quadra e placar), o que houve de novo? Banheiros em péssimas condições. Goteiras. E depois de um dia inteiro de basquete, se a fome bater, o que comer? Às vezes, o jejum parece delicioso.

Na próxima semana, um campeonato de vôlei acontece no Ibirapuera. A Copa Salonpas. Não posso nem comparar uma copa dessas com um mundial de basquete. Mas hoje, caminhava na Paulista, vi vários cartazes do torneio e fui abordado por divulgadoras dele.

No Mundial, apareceram nos primeiros dias aqueles que gostam do basquete. Ao pouco, a campanha das meninas foi empolgado o público e a exposição na Tv Globo chamando-o. Só assim se explica o bom público, principalmente nos fins de semana.

No comando do time, Barbosa tem muito o que aprender. Mas parece não ter tempo, nem interesse. Está ocupado em sua campanha eleitoral para deputado. Me garantiram que mesmo após a derrota para a Austrália nas semifinais, o velho Barba entergou seus santinhos no Ibirapuera. Barbosa deu um show de destempero nesse Mundial. Em uma das derrotas, afirmou que os que o criticavam deviam reclamar ao presidente. Não sei se ele se referia a Lula ou a Grego. Como temo os dois, vou ficar em silêncio mesmo. O problema é que, acabado o Mundial, Barbosa dá os mesmos sinais de falta de lucidez. A visão seletiva da velha raposa não consegue enxergar armadoras promissoras no país. Realmente gostaria de saber o que ele tem contra Ana Flávia Sackis e Fabianna Manfredi. Mas na cabeça do treinador, parece mais lógico tentar transformar alas como Palmira ou Jaqueline em armadoras. Acho que tal decisão diz muito sobre as atuais condições de Barbosa para o cargo que ocupa há 10 anos. Pendure as chuteiras, meu velho. A Assembléia Legislativa combina mais com você.

Alessandra teve uma despedida de gala da seleção. Fará muita falta. Jogou com a vontade que sempre caracterizaram sua história na seleção. Às vezes, mais vontade que qualquer outra coisa. Mas sempre, com vontade. Alê merecia uma despedida mais badalada. Mas acho que a pivô, cada vez mais distante geograficamente do país-natal, não deve esquecer o carinho da torcida. Acho que a imagem do Ibirapuera gritando seu nome em coro quando a vaca ia para o brejo no quarto final, contra a Austrália, deve ficar para sempre na memória da pivô, por onde quer que ela ande. Pode ter certeza que já na decisão do bronze, sentimos saudades suas, grande Alessandra.

Janeth, o que dizer de Janeth? Janeth é, pra mim, um gênio do esporte. Bem ou mal, eu gosto de Janeth. Acho que suas oscilações de produção se devem a três coisas. A primeira, o natural peso da idade. A segunda, as opções da atleta nos últimos anos. Emparedada entre o desejo pela WNBA, a paixão pela Brasil e a dedicação à seleção, Janeth vem intercalando períodos de inatividade com um ritmo frenético de jogos, sob alto grau de exigência. Por fim, aponto a culpa da comissão técnica da seleção, que faz péssimas escolhas. Janeth acaba designada para marcar as melhores atletas do time adversário. Foi assim com Valdemoro, Viteckova e até com a MVP da hora Penny Taylor. Aos 37, haja perna! Janeth sai do torneio inteira como a maior referência do basquete nacional, após Paula e Hortência. Ela promete se empenhar para defender o Brasil no Pan. No duríssimo Pré-Olímpico, é dúvida.

Helen, a bela da tarde, fez um de seus melhores torneios pela seleção. Esteve muito bem. É outra que se aposenta em breve.

Iziane é uma grande jogadora. Voltou a chamar atenção. Lamento como torcedor que o Brasil não dê condições de Iziane estar no país. A maranhese é, junto à Érika, a atleta de maior apelo popular na nova geração. Mas quando veremos Iziane de volta? Nem ela mesmo sabe. Eu peço que Deus dê à Iziane a inteligência para administrar um conflito que ela viverá por um bom tempo. A natureza da menina é a da cestinha-chutadora. Foi assim que ela apareceu no basquete, foi assim que chegou à seleção, à Europa e à WNBA. Na WNBA, no entanto, não basta ser cestinha e Iziane tem sido sempre cobrada em outros fundamentos. Administrar esses dois lados, nem sempre é tão simples como parece.

Êga fez um bom Mundial, devo admitir. Acho que mais uma vez o problema é a função da 4 no esquema de Barbosa. E assim não importa se ali esteja Êga, Leila, Tuiú, Rosângela, Zaine. As dificuldades são as mesmas. Considerando isso, acho que Êga passou no teste.

Adrianinha esteve também bem. Com um excelente aproveitamento nos 3 pontos. Em forma superior a outras que nunca foram mães ou que o foram há muito mais tempo que a baixinha da turma. Ainda acho que o ímpeto ofensivo de Adrianinha prejudica-a na análise e armação do jogo. Ainda assim, foi um dos melhores torneios de Adrianinha na seleção.

À Micaela, faltaram nervos. A ansiedade de ter ficado de fora dos últimos Mundial e Olimpíada pesou e a ala não conseguia fazer-se notar no ataque. Na defesa, deve ser a melhor da categoria na seleção.

Cíntia Tuiú, no geral, não teve um bom torneio. Acho que mais uma vez pesa a mão do treinador. Acho ainda que a própria atleta sente o fato de vir perdendo o posto de titular inesperadamente. Primeiro, para Leila. Agora, para Êga.

Todos esperávamos um outro Mundial de Érika. Mas quem esperava a contusão? Érika perdeu a forma e a confiança nos dias de molho. A confiança recuperou no jogo da Austrália, na semifinal. Mas, haverá tempo para a carioca mostrar seu valor.

Kelly é uma grande pivô. Acho que precisa de jogar sobre um nível mais alto de exigência e recuperar de vez a forma.

Silvinha também precisa encontrar a forma e uma forma de reaquecer seu basquete.

Karen deve valorizar a chance que teve e se preparar para estar no futuro a altura da responsabilidade.

A maior parte delas pega (ou já pegou) avião e voa rumo ao exterior.

Aqui, segundo o calendário oficial da CBB, o Nacional começa dia 01/10, próximo domingo. Dia da eleição.

Torcer é mesmo a nossa sina.




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