quarta-feira, 13 de setembro de 2006


Brasil controla erros, bate Coréia do Sul e avança no Mundial


Giancarlo Giampietro
Em São Paulo

Depois de repetir no primeiro tempo os mesmos erros da partida de estréia, a seleção brasileira conseguiu se recuperar e venceu a Coréia do Sul por 106 a 86, nesta quarta-feira, no ginásio do Ibirapuera, pela segunda rodada do grupo A do Mundial feminino.

Autora da cesta decisiva contra a Argentina, a armadora Helen teve uma tarde inspirada. Fez 19 pontos e deu oito assistências para comandar a equipe numa arrancada no terceiro período, no qual o Brasil converteu 37 pontos.

"Entro para me doar, para ser uma segunda técnica em quadra. Minha função é essa. Fiz um jogo muito bonito e espero manter uma regularidade", disse a armadora.

O técnico Antonio Carlos Barbosa revelou que pediu mais agressividade à equipe depois do intervalo. "Nós tínhamos de ser mais firmes na defesa e enfrentá-las. Isso liberou nosso ataque", disse.

A pivô Alessandra, desta vez o alvo mais constante da ofensiva brasileira, foi a segunda cestinha do time com 20 pontos, além de 11 rebotes, enquanto a ala Iziane liderou a contagem e deixou o nervosismo de lado para marcar 21 pontos.

"Tivemos mais fluidade em nossa movimentação", disse a pivô. Já Barbosa comemorou o acerto dos três pontos de sua equipe (8 de 15, com 53,3% de aproveitamento). "Isso nos abriu para enfiar mais bolas para as pivôs."

Com a segunda vitória em dois jogos, o Brasil garantiu matematicamente a sua classificação para a segunda fase do Mundial. Argentina e Espanha dividem o segundo lugar, enquanto a Coréia do Sul está na lanterna com duas derrotas.

Para ficar em primeiro lugar, o time da casa precisa vencer a Espanha nesta quinta-feira. Se perder, dependerá de outros resultados e do saldo de pontos para terminar a primeira etapa como líder.

O jogo

O sofrimento foi descartado, mas a inconstância ainda não. Por muitos momentos, a seleção permitiu que as asiáticas chutassem sem marcação. No início do duelo, voltou a apresentar nervosismo. Mas a arrancada do terceiro quarto, enfim, deixou as jogadoras à vontade em quadra.

O começo de partida brasileiro foi semelhante ao da estréia. Tensas, as jogadoras cometeram muitos erros em transição e também não conseguiram acertar seus arremessos de longa distância. A ala Iziane, nestes quesitos, era a mais desestabilizada.

Novamente, o ataque só funcionou quando a pivô Alessandra foi envolvida nas movimentações logo de início, estabelecendo posição próxima à cesta com sua força física. A grandalhona também salvou três ataques no primeiro período com três rebotes na tábua ofensiva.

Quando os ânimos se acalmaram - a própria Iziane se restabeleceu em quadra -, o Brasil conseguiu fazer seu jogo render e a pontaria ficou mais apurada. O primeiro quarto terminou com placar de 23 a 15.

Na volta à quadra no segundo período, com mais sete pontos sem resposta, a vantagem foi ampliada para a casa dos 15 pontos, com 30 a 15.

No segundo quarto, agora com Kelly no garrafão, o time voltou a ter vantagens na movimentação interior. Ainda assim, esse caminho nem sempre foi explorado nesta etapa.

Se o ataque ainda não funcionou de maneira engrenada, a defesa brasileira apresentou ainda mais problemas e vulnerabilidade. Permitiu que os asiáticos buscassem o placar, com muitos arremessos não-contestados (cinco de três convertidos em 11 tentativas nos primeiros 20 minutos) e, pior, infiltrações.

A Coréia do Sul venceu o quarto por 23 a 20 e terminou o primeiro tempo com apenas cinco pontos de desvantagem - 43 a 38. A armadora Adrianinha, que não disputava partidas oficiais desde novembro de 2005, quando se descobriu grávida, foi a que se mostrou mais frágil na contenção, sendo fintada constantemente.

Com as titulares em ação no terceiro período, o Brasil enfim controlou seu rival, com marcação individual mais combativa, que originou algumas oportunidades de contra-ataques.

E, quando não teve quadra livre para pontuar, a armadora Helen cresceu na partida - deu assistências, fez bandejas e atirou dos três pontos - e conduziu a seleção em seu melhor momento no Mundial. "Conseguimos levar a bola lá embaixo. A Alessandra conseguiu cavar muitas faltas e abriu a quadra", disse Janeth.

"Nós precisávamos jogar de uma maneira mais física. Viemos como tudo e não demos muita chance, impedir que elas chegassem aos pontos que queriam", afirmou a experiente ala, que fez quatro faltas e roubou duas bolas.

Ao final do período, o placar subiu para 80 a 60, com cesta de Iziane em jogada individual. De olho no cronômetro, a atleta quicou bola até o último segundo, arrumou espaço e encestou em arremesso de dois, com uma coreana à sua frente.

No último quarto, o técnico Barbosa começou a poupar suas principais jogadoras já pensando na seqüência da competição. Principais destaques do Brasil na partida, a armadora Helen e a pivô Alessandra, ambas veteranas da conquista do título em 1994, foram descansar no banco de reservas.

Mesmo assim, a seleção brasileira manteve a ala Janeth em quadra para administrar a boa vantagem construída no período anterior. Com as sul-coreanas já entregues, as donas da casa conseguiram superar a marca de 100 pontos pela primeira vez nesse Mundial, fechando o jogo em 106 a 86.



Seleção tenta se sentir em casa no Mundial

Giancarlo Giampietro
Em São Paulo


A decepção da estréia contra a Argentina forçou a realização de duas reuniões dentro da seleção brasileira, para lidar com a pressão por resultados no Mundial. Agora, depois da vitória expressiva contra a Coréia do Sul, na segunda rodada, o time tenta se sentir à vontade atuando como país-sede do torneio.

"Nossa seleção tem pouca repercussão no que faz. Nesse Mundial, a cobertura está sendo muito maior do que elas estão acostumadas, é uma falta de hábito. Isso aumenta a responsabilidade", afirmou o treinador Antonio Carlos Barbosa.

Preocupado com o agravamento da situação, o técnico convocou as jogadoras para uma reunião, com o intuito de mudar a percepção do grupo.

"Percebi que elas ficaram tristes, desapontadas com nosso rendimento. Sem descartar a ótima partida que a Argentina fez, deveríamos ter ganho por 15 pontos caso tivéssemos rendido o médio de nossa capacidade. Mas procurei passar para elas que essa é uma oportunidade de crescer com a modalidade", afirmou.

Grande parte da equipe possui experiência internacional - apenas três das 12 jogadoras nunca disputaram um Mundial ou uma Olimpíada. Grande parte do grupo também se dizia tranqüila para o torneio em sua fase de preparação.

Mas, apesar de testemunhar um ginásio do Ibirapuera vazio no jogo de estréia, o grupo brasileiro sentiu o baque. Não conseguiu render e pôs em risco contra as rivais sul-americanas um tabu que já dura mais de 50 anos.

Após o encontro com o técnico, as próprias jogadoras se reuniram nesta quarta. "Estávamos frustradas. Era o friozinho na barriga que dava em estréia", disse a pivô Alessandra. "Nós nos reagrupamos e decidimos que não dava mais para jogar daquela forma. Era preciso ser muito mais agressivo hoje. E ainda mais nas outras partidas", disse Janeth, a mais experiente do grupo.

Nesta quinta-feira, a seleção enfrenta seu rival mais difícil do grupo A, a Espanha, em jogo que vale a liderança. "Temos de erguer a cabeça e jogar com mais confiança e mais determinação", disse Iziane, de 24 anos. A ala nunca havia atuado em competição oficial pela seleção Brasileira em São Paulo.

Fonte: UOL

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