quarta-feira, 19 de abril de 2006

A Palhaçada Começou!




O presidente Grego disse hoje na coletiva à imprensa, em que o técnico Barbosa anunciou o grupo de 21 convocadas que disputará a temporada desse ano, que "o basquete brasileiro passa por um momento muito especial". A frase ficou martelando na minha cabeça. Reli. É. O basquete brasileiro ... muito especial. Muito. Especial. O significado das palavras me atormentou. Mas estão lá elas: muito, especial. O que dizer? Parecem haver duas razões para uma pessoa usar palavras assim tão impróprias: ignorância ou cinismo. Não sei qual é o caso do presidente.

O técnico Barbosa repetiu pela milésima vez um de seus preferidos chavões ao analisar o grupo: "uma seleção que mistura experiência e juventude, garantindo uma constante renovação".

Embora haja experiência e juventude no grupo, o que Barbosa diz não é verdade. Mas chega de desmentí-lo. Devo concordar com Barbosa: a seleção atual é uma mistura de gerações.

Há poucas remanescentes dos anos Paula-Hortência. Anos diferentes. O basquete era diferente e não só pela posse de bola de 30 segundos ou pelos dois tempos de 20 minutos. O foco da seleção era as duas estrelas, ao redor do qual flutuavam algumas coadjuvantes. A maioria delas foi talhada nas mãos de uma técnica com fama de disciplinadora (Maria Helena Cardoso). Temporadas na Europa? Rápidas passagens e só das duas estrelas. WNBA? Nem existia. O mundinho do basquete era aquele, pequeno. E estar na seleção era a glória. O dinheiro também era pouco.

Os anos de conquistas deram uma reviravolta no panorama. O interesse da mídia, de patrocinadores... O dinheiro aumentou. E enquanto, uma nova geração surgia no esporte, o mundo ouviu falar em globalização. Surgiu a WNBA. E uma geração recém-nascida ficou no meio da caminho. Pegou os holofotes que ainda brilhavam pela mágica e pela rainha, mas logo viu a luz apagar. Ficou sem-rumo. Umas pululavam de clube-em-clube. Outras assinaram contratos no exterior. Essa geração cresceu com um técnico relapso (Barbosa) e ganhou características outras: indisciplinada, apática. Ainda não conquistou nada. E corre o risco de permanecer na seca.

Na seleção de Barbosa, há ainda uma geração um pouco mais nova. A referência delas é o trabalho de Paulo Bassul (também tido como disciplinador), com o qual conquistaram o vice-campeonato mundial sub-21. Algumas já passaram, com louvor, pelo bastismo. Outras, penam buscando a afirmação.

Da mistura dessas 3 gerações, não há uma cara, uma líder, um grupo; apenas um remendo de boas intenções. Seleção já não é lá a "glória". É mais uma vitrine para os contratos em euro ou dólar. Assim, nada incomoda tanto na seleção. Companheira Injustiçada? "Hein". Treinos Horríveis? "Hãm". Amistosos contra Medíocres? "Cuma!". Matilde dispensada? "Ah!". Bassul também? "Hmpf!". Alguma coisa a mudar, a melhorar? "Quem sabe a cor da camisa?".

É com essa animação que vamos disputar o Mundial.

Dentro desse cenário, esperar o quê?

Milagre. Só ele pra nós levar a algum lugar.

Hoje, com o técnico e o basquete que tem o Brasil não tem como chegar longe. É até injusto com russas, americanas, australianas. A Triplíce Coroa faz por onde merecer. Nós, não.

A convocação de Barbosa é só o primeiro ato do espetáculo.

Como prova de que os tempos mudaram, há apenas 5 das 21 convocadas que nunca saíram do país (Karen, Jaqueline, Ísis, Lílian e Vívian).

A convocação é previsível até a última gota.

Do grupo das que já estavam garantidas, há pouco a notar.

Janeth.

Helen.

De Alessandra, preocupa seu afastamento das quadras.

De Iziane, idem. Izi, por sinal, deve desfalcar grande parte da preparação em nome da WNBA, a real motivação da brasileira. Certíssima ela. Treinar com Barbosa? Vai acabar desaprendendo.

Érika espero que seja valorizada na seleção como deve. Sofrerá forte assédio da WNBA ao fim da temporada espanhola. Desanima pensar que muito dificilmente Barbosa conseguirá fazer um bom trabalho com as pivôs, já que NUNCA conseguiu nesses longos 10 anos.

Cíntia Tuiú.

Micaela.

Sobre Adrianinha, preocupa (assim como Iziane e Alessandra) o afastamento das quadras. Ninguém pode prever como será a recuperação da moça após a gravidez.

Com a gravidez de Adrianinha, Barbosa teve que se render à Claudinha. Bastante provável que caso Cláudia aceite o chamado, fique no grupo, com Helen e Adrianinha. Claudinha é uma ótima jogadora, o estilo ficou mais "europeu", depois de tantos anos fora. Por outro lado, um time mal-treinado como o nosso, assimila mal o revezamento de armadoras. E provavelmente levará tempo para digerir as trocas Helen-Claudinha-Adrianinha.

Falando de armação, é inadmissível que nem Fabianna Manfredi, nem Ana Flávia Sackis tenha sido chamadas. Fabi foi testada em 2005, respondeu bem e merecia a convocação. Passarinho tem feito uma temporada boa na Itália, merecia a lembrança.

Daqui a dois anos, em Pequim, teremos: Adrianinha (29 anos), Claudinha (33) e Helen (35). E aí será a hora de "parir" uma nova armadora?

Pelo contrário, há um grupo difícil de se justificar a convocação.

Por exemplo, o que fez Ísis que justifique sua convocação? No último campeonato brasileiro, jogou 57 minutos. Média de 3 pontos por jogo. Difícil explicar. Até entendo que seja um incentivo pela altura da atleta, assim como acontecia com a gigante Yngrid na década passada. Mas se Ísis merece toda essa atenção, por que outras não? Por que Karla e Leila, por exemplo não são nem mais citadas?

Sobre Lílian, será que já não foram bastantes as chances na seleção? Não é hora de mudar para uma jogadora, que mesmo com a dedicação que a manteve viva no basquete, não conseguiu dar à seu jogo a maturidade e a versatilidade essenciais a uma atleta internacional?

E Vívian? Mais uma vez. Piedade!

Sobre Sílvia, acho que era hora de dar um descanso à moça, para repensar sua vida, sua carreira e se reinventar sendo treinada por Maria Helena. Se até Marta Sobral foi um dia barrada no baile, por que não Sílvia Gustavo?

Barbosa chamou Karen Gustavo. A moça é boa, mas vem de uma primeira temporada jogando mais como ala. Se destacou, é certo. Mas em um time fraco e em um torneio, idem.

Esse é um dos problemas atuais. O terreno é tão árido que mesmo quando surge alguém e se destaca, há dúvida quanto à qualidade da jogadora. Afinal, em terra de cego... Assim as mesmas ressalvas em relação à Karen, valem para Tayara, Palmira e Jaqueline.

Graziane merecia a vaga. Vem evoluindo (coisa rara essa - evolução!). Vai ter e dar trabalho a duas veteranas que (mais uma vez) não estão bem fisicamente: Kelly e Mamá.

Por último, Êga, que vem aparecendo como uma das favoritas para a posição de ala-pivô, embora tenha perdido a chance de convencer na temporada passada com a seleção e jogado burocraticamente em Ourinhos. Espero que Borracha consiga reacender a chama.


E salve o palhaço!




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