terça-feira, 22 de novembro de 2005

Os pés pelas mãos

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


O Hall of Fame eternizou o nome de Hortência neste ano. Não duvido que em breve cogite fazer o mesmo com o de Paula. Ela acaba de aparecer entre as nomeadas de outro memorial de basquete dos EUA. Ainda que este seja menos conceituado do que aquele, é um sinal de prestígio.
Muito justo, dirá o torcedor. Hortência e Paula foram jogadoras extraordinárias, tiveram carreiras brilhantes. Ainda incorporam o basquete feminino do país.
Daí a pergunta: Por que Janeth não consegue desfrutar junto com elas da reverência da arquibancada, por que ela não atrai aplausos com a mesma intensidade?
Se à ala falta a genialidade do improviso das outras, sobra-lhe a da execução. É uma máquina de jogar basquete, quase nunca falha. Ninguém conquistou mais títulos e pódios ou fez mais pontos em Olimpíadas do que ela.
Talvez Janeth pague pela timidez do início nas quadras, pela pouca desenvoltura diante das câmeras. Ou pelo receio de levar a público detalhes da vida pessoal.
Talvez seja resultado da abordagem ultraprofissional, avessa a badalações e patotadas. Ou da recente trajetória como matadora de aluguel, um time diferente a cada temporada, fazendo dos torneios domésticos uma tediosa seqüência de "vim-vi-vencis".
Ou, ainda, porque, ao contrário das bocudas Hortência e Paula, sempre se manteve distante da política do esporte -e seu silêncio de certa forma validou anos de desmandos e desacertos.
O fato é que, curiosamente, a atleta que devia simbolizar o basquete versátil e solidário (e que comanda um fantástico projeto social no ABC paulista) aos poucos passou a ser percebida como individualista, mercenária até.
Não penso que Janeth deva se pautar pela opinião alheia. Mas não desejo vê-la dizer adeus sem o reconhecimento que merece.
Aos 36 anos, ainda a mais completa jogadora brasileira em atividade, a ala está encostada, sem time, "à espera de propostas".
Pode ser um sinal, a chance de imprimir de vez sua marca.
Já que o Brasil não lhe oferece um salário, que jogue de graça. Que dê à Nossa Liga, campeonato independente que nascerá em 2006, o estímulo que as estrelas do masculino relutaram em dar.
Há nove anos, Michael Jordan foi questionado porque não declarava apoio ao democrata negro Harvey Gantt na campanha ao Senado pela Carolina do Norte. O adversário era Jesse Helms, líder ultraconservador, vez ou outra acusado de preconceito racial.
"Os republicanos também compram tênis", foi a resposta.
O maior nome das quadras sempre agiu assim, como se vivesse à margem das polêmicas, evitando tomar partido, preocupado apenas em sair bonito na foto.
Ele, aliás, acaba de lançar uma outra biografia ilustrada. Segundo o boletim de divulgação, para "celebrar o 20º aniversário dos Air Jordans" (o livro foi diagramado pelo designer do calçado...).
Melancolicamente, teve de comprar horário nobre na TV para divulgar a obra. Farto do astro do pé-atrás, o basqueteiro aplicou-lhe um pé onde merecia.
É hora de Janeth bater o seu.

Felicidade 1

Michele, 15, já voltou para casa, em Santa Catarina. Foi concluída com sucesso a primeira fase do tratamento de leucemia linfóide, iniciado em março, em Campinas. A irmã de Tiago Splitter tem 1,96 m e é uma das mais talentosas atletas de sua geração. Um beijo para ela.

Felicidade 2

Kátia, 22, retomou os treinos no Santo André. Foram nove meses de molho, investigando uma arritmia. A pivô de 1,93 m, cestinha do último Nacional, poderá reestrear em dezembro. Beijo nela também.

Felicidade 3

A lesão no joelho de Leandrinho, 22, que faz ótima temporada na NBA, não é grave. Serão só três semanas de molho. Beijo? Nahhhh.

Fonte: Folha de São Paulo

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