domingo, 25 de setembro de 2005

Rainha, elas (jogadoras) precisam de você

Juarez Araújo


Já vivi muitas emoções no basquete. E três das principais foram com o basquete feminino. A primeira foi a inesquecível conquista do Pan de Cuba (91), depois veio o Mundial da Austrália (94). E agora foi ver a rainha Hortência ter o nome dela incluído no Salão da Fama. Isso não tem preço. E como foi emocionante, como me senti orgulhoso novamente de ser brasileiro em um tempo tão tenebroso para o País. Como foi gratificante saber que a nossa “querida estrela” da pequena Potirendaba (cidade próxima a Rio Preto) ainda continua brilhando. E mais do que ninguém, Hortência soube superar diversidades e desafios para chegar a tal posição mundial.

Ver o nome de Hortência incluído no Salão da Fama é o máximo que um ex-jogador de basquete pode receber em vida. Foi o reconhecimento dela ter sido uma lateral com qualidades espetaculares. Agora a expectativa é em torno de Paula e depois Oscar Schmidt. Sem dúvida alguma, esses dois monstros estarão lá, com certeza. E quem sabe também Marcel. Outro fenômeno fruto do milagre do basquete brasileiro.

Determinada como foi nos tempos de quadra, chegando a ser imarcável, apesar das sempre esforçadas adversárias, Hortência agora quer ajudar o basquete feminino. Encabeça com Paula a árdua missão de ajudar organizar a Nossa Liga de Basquete (NLB), mesmo sabendo que inicialmente vai encontrar muitas dificuldades. E como o basquete feminino precisa da tua sempre certeira “mão”. É quase uma salvação para aquelas meninas que ainda arriscam praticar um esporte praticamente falido no País do futebol. Não em função da mídia e do interesse do torcedor pelo futebol, e sim em função da péssima administração desse esporte. E não é de hoje.

Hortência deve um pouco ao basquete pelo que representa. E o basquete deve tudo a Hortência por tudo que ela fez em quadra e o que ainda pode fazer, especialmente agora. O basquete feminino está falido no Brasil. Não tem clubes capazes de pagar um salário digno às jogadoras. Mas quando o assunto é investir e encontrar soluções, a Confederação Brasileira de Basquete, na figura do presidente Gerasime “Grego” Bozikis, se omite, se apega às seleções, que ainda sobrevivem devido ao milagre de poucos abnegados de São Paulo.

Hortência e Paula estão dispostas a ajudar o basquete feminino de clubes e de tabela, o beneficiado serão as seleções. E quem sabe, em um futuro próximo, também Dona Vitória Maria Helena Cardoso, hoje técnica na Espanha, também estará entre as duas. O basquete feminino precisa de uma Liga urgente, como também o masculino que tem como comandante Oscar Schmidt. O basquete brasileiro precisa de uma mexida. E essa mexida só virá com Ligas independentes. Porque a Confederação Brasileira nem capacidade para cuidar de seleções tem. Muito menos de competições nacionais ou homenagear dignamente atletas e técnicos.

Ainda na era amadorística, só as ligas (feminina e masculina) precisam dar certo para sonharmos mais alto. E se não derem, aí sim o nosso ainda chamado de bola-ao-cesto (bem à moda antiga) vai chegar mesmo ao fundo do poço. Por enquanto, as jogadoras ganham bolas de basquete de comemoração e técnico uma simples camiseta, ele (basquete) está apenas a caminho do abismo. E ainda com tempo de salvação.

E pelo que vem acontecendo, o sonho de organizar uma Liga Independente com os melhores está naufragando. Aos poucos, os dirigentes dos clubes estão cedendo às pressões da CBB e concordando que está tudo bem no basquete brasileiro. Até Franca pode ser o próximo aderir aos campeonatos da Confederação. E se o continuísmo renovado for bom, serei o primeiro a
elogiar. Mas acho difícil mudanças substanciais em curto espaço de tempo.

DE BANDEJA

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Foi uma cena que defino como patética. Uma camiseta. E nela a mensagem: “parabéns pelos seus 200 jogos como técnico da Seleção”. E até a inocente Vivian obrigou o velho Barbosa a vestir o tal prêmio conquistado em seus quase 20 anos de Seleção. Meu Deus, que falta de imaginação, de criatividade e de bom senso. Será que não houve tempo suficiente para adquirir uma lembrança melhor para o treinador? Uma placa, um relógio, um anel... Bem, continuo muito exigente. E até faço uma aposta: será que alguma jogadora da Seleção de 94 ainda tem a bola que ganhou durante a comemoração dos 10 anos pela conquista do Mundial da Austrália? Aquele prêmio foi tão ridículo quanto a camiseta dada sábado a Barbosa na República Dominicana na ocasião da Copa América. Ai meu Deus, só falta o Barbosa ter gostado do presente.

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O filme já foi repetido muitas vezes, mas sempre acontece. Cuba veio ao Brasil, realizou amistosos, perdeu todos e, na hora da competição oficial acaba ganhando. É sempre assim. Agora foi a vez da jovem seleção feminina. Treinou muito bem as cubanas e lá na República Dominicana, na decisão da Copa, acabou perdendo. Agora vem o Mundial do ano que vem. E quem sabe a CBB escuta e coloca em execução ao conselho da Rainha Hortência. Vamos repatriar as jogadoras, fazer uma seleção permanente e subir ao pódio na competição que será disputada aqui em nosso País.


Fonte:
CanalSP

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