terça-feira, 26 de julho de 2005

Papo furado

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

No embarque para a Venezuela, Marco Antonio Aga esbanjou confiança: "É uma geração com boa média de altura (1,97 m) e, com certeza, trará grandes resultados. O planejamento é o mesmo da equipe adulta. A filosofia varia um pouco de técnico para técnico, mas o conceito é o mesmo. Temos condições de chegar à final e resgatar o título".
O atropelo sobre o Peru (97 x 29), na estréia, rendeu declarações ainda mais otimistas: "Foi tranqüilo. Utilizamos os 12 atletas para dar ritmo de jogo e aproveitamos para treinar o sistema defensivo e ofensivo já pensando no Uruguai. Vamos fechar a fase de classificação em primeiro lugar no grupo, com três vitórias".
O Brasil bateu o Paraguai (64 x 40) no dia seguinte, mas a prepotência sumiu. O treinador curiosamente veio a público apenas para criticar a pontaria dos comandados e lançar temores sobre a fase decisiva. "Tivemos um aproveitamento muito baixo nos arremessos. De 31 lances livres, acertamos 15. Nas bolas de dois pontos, convertemos 20 em 47; nas de três pontos, 3 em 22 tentativas. A nossa defesa é que funcionou. Com a vitória, garantimos a vaga na semifinal. Na verdade, o campeonato começa agora. As quatro equipes se equiparam. Pequenos detalhes é que decidirão. A Venezuela é a mais fraca, mas tem a vantagem de estar em casa. A Argentina tem um esquema tático forte. O Uruguai está treinando há sete meses."
Veio o revés para o Uruguai (57 x 69), ainda na etapa de classificação. Calçado pelo papo da véspera, o técnico se repetiu: "Infelizmente, mais uma vez, não tivemos bom aproveitamento nos arremessos. Nos lances livres, acertamos 12 em 31; nos dois pontos, 18 em 32 tentativas; nos três pontos, 3 em 21 arremessos".
A calculadora não funcionou no dia seguinte, após o tombo ante a Argentina (63 x 67), já na semifinal. No boletim da assessoria de imprensa, nada de Aga.
Mas a cantilena voltou com o final do torneio, após a vitória de honra sobre os anfitriões (81 x 66), que ao menos classificou o time à Copa América: "Apesar do terceiro lugar, com certeza Argentina e Uruguai não estão à nossa frente. O Brasil possui uma geração talentosa e de excelente qualidade técnica. Com um pouco mais de treino, temos todas as condições de conseguir a vaga para o Mundial de 2007. Não disputamos o título porque não tivemos bom aproveitamento nos arremessos. Terminamos o Sul-Americano com 56% nos lances livres e 20% nos arremessos de três pontos."
A bipolaridade clínica das declarações -ora entusiasmadas, ora abatidas. O fascínio excessivo pelo biótipo dos atletas. O mau costume de atribuir os tropeços a terceiros, de nunca assumir responsabilidades. A análise "matemática" ginasiana das partidas. A mania de reclamar mais tempo de treino (dois meses são mais do que suficientes!). Os resultados lamentáveis em quadra.
Aga ao menos pode festejar a evolução profissional. Debutou os últimos dois meses com a seleção juvenil, mas já fala e age como treinador do time principal.

Juvenília 1
Enquanto Aga criticava seus jogadores, dois deles se destacavam no Sul-Americano. O armador Betinho, do Espéria, acabou como o cestinha, e o pivô Paulão, do Ribeirão Preto, como o reboteiro.

Juvenília 2
A Argentina foi campeã invicta -o sexto título do país nas últimas oito edições do torneio. O Brasil não levanta a taça desde 1998.

Juvenília 3
Anderson Varejão, hoje a maior estrela da seleção principal, não afinou. Em entrevista ao "Globo", lamentou a patota das comissões técnicas brasileiras. Censurou, por exemplo, a ausência de João Marcelo Leite, do Araraquara, tetracampeão paulista juvenil.

Fonte: Folha de São Paulo

Comentário: Acho que Marco Antonio Aga tomou aulas com outro Antônio. O Carlos Barbosa.

Nenhum comentário: