segunda-feira, 27 de junho de 2005

Liga da Justiça

Texto de Fábio Zambeli no site Rebote


Consagrado dentro das quatro linhas, Oscar Schmidt abandonou as quadras inquieto com os rumos do basquete brasileiro. Depois de garantir o posto de principal cestinha da história da modalidade no país, estreou na condição de dirigente reeditando o perfil polêmico e chorão que o acompanhou durante a trajetória.
Planejou a formação de um novo clube, com sede no Rio de Janeiro e patrocínio de uma operadora de telefonia e da própria prefeitura carioca - de olho na divulgação de sua marca para o Pan-2007.

Em menos de um ano, teve sua performance como manager do recém-criado time premiada com os títulos dos dois campeonatos que disputou - o Estadual do Rio e, agora, o Nacional.

Emprestou à equipe embrionária prestígio e palpites táticos - retratados nas estatísticas do certame.

Com um elenco experiente e a aposta no talento individual do ala-armador Marcelinho, principal atleta em atividade no país e mais valioso jogador do Nacional, Oscar viu o Rio de Janeiro desbancar os rivais com surpreendente facilidade, fechando um ciclo de 35 vitórias em 40 duelos - com 100% de aproveitamento em seus domínios.

A partida que assegurou o lugar mais alto do pódio brasileiro aos comandados do Mão Santa não poderia ser mais emblemática.

Tumultuado nos bastidores, o jogo de domingo contra o Uberlândia - atual campeão da Liga Sul-Americana - foi definido com as peças-chave cariocas em pleno vapor.

Marcelinho anotou 32 dos seus 1.124 pontos na competição.

No banco de reservas, Oscar, aos 47 anos, era o regente de um espetáculo que calou os torcedores mineiros.

Desde antes de a bola subir no centro da cancha, peitou a arbitragem e impôs a retirada da platéia convidada da área contígua ao garrafão.

O resultado: 106-92 e 3-1 no playoff derradeiro.

Não obstante a campanha coroada de êxito de seu clube, Oscar apenas inicia sua empreitada mais espinhosa como cartola esportivo.

Idealizador da Nossa Liga de Basquete, o potiguar que se caracterizou pelo temperamento intempestivo com a bola nas mãos repete a fórmula para desafiar o establishment do qual fez parte durante quase 25 anos.

Após combater a reeleição da cúpula da CBB, luta dia após dia para consolidar a nova associação de clubes que sonha materializar seu pioneiro campeonato a partir do mês de outubro.

Reafirmando a isenção e a preocupação com os rumos do bola-ao-cesto tupiniquim, o Rebote procurou o líder da Nossa Liga para obter respostas a algumas das indagações mais recorrentes da comunidade do basquete acerca do projeto em curso.

No bate-papo, o neodirigente mostra que a iniciativa ainda carece de consistência, mas representa um marco divisor na organização da modalidade.

"Tudo isso precisa começar por algum lugar e nós já começamos, mas só o futuro vai dizer se nós tivemos razão ou não", disse Oscar.

O ex-jogador fala ainda sobre a possibilidade de devolver ao basquete nacional exponencial visibilidade via TV aberta e analisa as chances de que a liga independente tenha o reconhecimento oficial.


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Rebote - O que o fez colocar à prova a credibilidade e reputação conquistadas nas quadras e fora delas em uma empreitada de risco como a Nossa Liga?

Oscar Schmidt - A vontade de fazer algo de verdade pelo basquete. Todos sempre falam, sempre falaram, mas nunca fizeram nada. Nós, da Nossa Liga de Basquetebol (NLB), estamos tentando fazer, o que é muito mais difícil do que se limitar apenas a falar.

- Por que o apaixonado pelo basquete deve acreditar no sucesso de uma liga que nasce sem reconhecimento oficial e em meio a uma retração generalizada de investimentos privados e públicos no esporte dito olímpico?

- Estamos começando uma coisa nova e de forma muito séria. Já somos 43 clubes acreditando nisso, acreditando no futuro e na reestruturação do basquete, e essa é a melhor resposta que poderíamos ter. Isso porque, entre essas 43 agremiações, estão 15 das 16 que disputaram o último Campeonato Nacional masculino. Entre os principais motivos que nos levam a crer que temos tudo para ajudar o esporte a se levantar é o fato de que os recursos que forem arrecadados serão divididos entre todos os clubes e as cotas da TV serão divididas, inclusive, com os atletas, por causa do direito de imagem, que nunca foi respeitado. Além do quê, nós, clubes, poderemos explorar o nosso ginásio, gerar recursos, tentar tornar as folhas menos deficitárias, administrando um basquete saudável financeiramente, uma coisa que hoje não é permitida.

- Ao sugerir medidas ousadas como a pintura dos garrafões no formato desejado por um eventual patrocinador, estampar símbolos de outra empresa na bola de basquete, você não teme transformar a Liga em uma espécie de Campeonato de Fantasia, distante do aval de organismos oficiais?

- Não. A NBA sempre foi um campeonato de fantasia, com suas regras próprias, e foi reconhecida pela Fiba a partir de 1992.

- Qual o peso do marketing esportivo no desenvolvimento da liga? Como será feita a remuneração de dirigentes e clubes?

- A NLB terá um dirigente remunerado, que será o professor José Medalha, uma secretária, um contador e um advogado. Nenhum dos diretores receberá salários. A maioria é membro de clube e os clubes serão ressarcidos. Isso faz com que a responsabilidade e a importância da empresa de marketing em levantar recursos seja ainda maior. Em breve vamos anunciar esta agência.

- Existe um orçamento estimado para a primeira edição da liga, prevista para começar em outubro? Quantos clubes estarão em ação?

- Os clubes têm até o fim de agosto para confirmar sua presença, só a partir daí teremos a montagem da tabela. Por enquanto, estamos trabalhando nos modelos a serem seguidos, dependendo do número de clubes e de uma série de decisões da Assembléia. Todos os custos, todos os gastos, os orçamentos, enfim, tudo isso só será possível mensurar quando tivermos um número exato de equipes, uma tabela montada e o campeonato todo planejado.

- Os deslocamentos serão aéreos?


- Esperamos ter recursos suficientes para custear deslocamentos aéreos e, também, ter ao menos uma TV aberta e uma a cabo.

- Os jogos da liga deverão ser exibidos pela TV aberta? Como vêm se desenrolando as negociações sobre os direitos de transmissão?

- Esperamos que sim. Estamos esperando fechar com a empresa de marketing e, com o CNPJ, começaremos a definir algumas coisas. Até agora, fizemos o que estava ao nosso alcance para ser feito sem essas duas coisas.

- Os clubes que aparentemente resistem em ingressar na liga (Ribeirão e Ourinhos) serão, na sua opinião, guindados à liga por ocasião de sua materialização?

- Decidimos em assembléia que, quem quiser entrar, a partir de agora, só poderá entrar se for apresentado por dois sócios e ser aprovado em assembléia.

- O registro da Liga na Receita Federal, com a obtenção do CNPJ, é um sinal de aproximação com a CBB? Até que ponto a NLB cederá para ter o respaldo da entidade cujo dirigente você combateu duramente durante a campanha eleitoral deste ano?


- Estamos fazendo tudo o que a lei quer que a gente faça. A aproximação com a CBB será feita se a CBB quiser. Nós não queremos brigar com ninguém e isso está bem claro. Críticas fazem parte da vida, enquanto eu achar que as coisas não são feitas como devem ser feitas, vou continuar criticando, vou continuar falando, vou fazer a minha parte, alertando, independentemente de reconhecimento ou não da NLB.

- Recentemente você esteve na Federação Paulista conversando com o presidente Toni Chakmati. O que o faz acreditar na promessa de apoio dele, dados os conhecidos episódios da eleição para a CBB? Nesse mesmo ponto, como seria equacionado problema do calendário da modalidade? Os campeonatos estaduais estão condenados à extinção?

- A NLB esteve conversando com a Federação Paulista e nós acreditamos que os campeonatos estaduais podem conviver plenamente com o calendário da NLB. E esperamos que isso aconteça. Temos 18 sócios de São Paulo, o ideal é que as duas competições andem em paralelo e que durem mais, num calendário mais longo, mais bem planejado, de sete a nove meses.

- Qual o papel dos jogadores, treinadores e árbitros na formatação na NLB? Você dispõe de números de adesão à Liga?

- A NLB ajudou e apoiou a formação da Associação de Jogadores. A dos técnicos vai se formar em breve e, depois, será a vez da Associação de Juízes. O Eduardo Augusto, árbitro do Rio, está cuidando disso e a adesão tem sido excelente, com uma aceitação numerosa e positiva no país inteiro.

- Como o cidadão comum pode ter acesso ao estatuto, às normas e às deliberações da NLB?

- Em breve teremos o nosso site funcionando. A cara dele já está definida e nele estarão todas as informações à disposição.

- Qual seu recado para a comunidade de leitores do Rebote? Alguma mensagem especial aos aficionados pelo basquete que temem pelo futuro da modalidade?

- Nós estamos tentando fazer algo de verdadeiro pelo basquete, algo de positivo, visando à evolução, ao crescimento e ao sucesso do nosso esporte. Muitas pessoas estão querendo o bem do basquete e esse movimento é a certeza de que estamos no caminho correto. Tudo isso precisa começar por algum lugar e nós já começamos, mas só o futuro vai dizer se tivemos razão ou não. Pelo menos, não estamos em casa sentados, assistindo de forma passiva, resmungando e falando mal, como fazem muitos. Estamos arregaçando as mangas, dando a cara para bater e trabalhando.

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Zona Morta

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))) Com uma campanha impecável (e invicta), poucos atrativos dentro e fora das quadras, Ourinhos conquistou o bicampeonato paulista feminino ao bater Ribeirão Preto sem dificuldades na série decisiva da fase de playoff por 2-0. A partida decisiva registrou um placar que evidenciou o abismo entre as campeãs e as demais adversárias na competição: 83-49, sem nenhuma emoção no ginásio Monstrinho. Foi o quarto triunfo da equipe em estaduais.


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