terça-feira, 26 de abril de 2005

Saneamento básico

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


De novo o basquete passou vergonha ao ser chamado a se explicar ante o Comitê Olímpico Brasileiro. A confederação nacional, que já havia bombado na prova da aplicação dos recursos da Lei Piva, foi instada a estabelecer metas técnicas para os próximos anos. Por escrito, na maior cara de pau, anunciou: "Participar do Mundial feminino no Brasil em 2006". Faltou só esclarecer que, como país-sede, o Brasil já tem participação assegurada.
Metas de araque, engabelações como essa, retratam a administração que, envergonhada, recolhida ao gabinete, completa neste mês seu segundo mandato.
Nunca pingou tanto dinheiro na entidade como nas gestões Gerasime Bozikis -por meio da Lei Piva, do COB, dos patrocinadores, das estatais, da TV e dos fornecedores de material esportivo.
Mas os resultados internacionais das seleções sumiram. Os torneios nacionais foram sucateados. Os jovens talentos migraram cada vez mais jovens. As TVs (e a torcida) desistiram. O número de praticantes quase não cresceu.
Não vingou nem a competição que recebeu o nome do principal parceiro. A Copa Eletrobrás juvenil feminina, criada no ano passado, foi suspensa e empurrada para o segundo semestre. Não tem data nem arena fixadas.
Alguns lembrarão que as seleções já viveram fases piores, que o circuito de base já passou um tempo desativado, que a confederação já atravessou crises institucionais tão agudas quanto esta, que a bola laranja já registrou exposição ainda menor na mídia.
Mas esse discurso, que garimpa a história em busca de desculpas, serve somente a um propósito, o de mascarar que justamente na sua década mais rica a modalidade não saiu do lugar no Brasil.
Daí o voto de confiança do basqueteiro à Nossa Liga de Basquetebol, capitaneada por Oscar Schmidt. Mesmo que o projeto de um campeonato independente ainda esteja atolado de idéias confusas, algumas contraditórias, que mudam a cada semana de acordo com o humor de Oscar e a capacidade argumentativa de seus interlocutores. Reitero aqui, por exemplo, minha dúvida de que existam receitas no mercado publicitário para bancar todas as ambições do ex-cestinha. Acho que ele prometeu demais e temo que entregará "demenos". Quem sabe, porém, seja por meio de um arroubo emocional, personalista, até inconseqüente, que o basquete reencontrará seu rumo no país.
Daí, também, o entusiasmo da galera com a candidatura de Hélio Barbosa à presidência da CBB. Mesmo que a formação da chapa de oposição ainda esteja cercada de mistérios, que haja uma grande distância entre as plataformas e trajetórias de seus "cabeças", que tenha faltado um debate profundo de idéias (culpa, é verdade, de Bozikis, que, em campanha, preferiu o conforto do silêncio).
As duas iniciativas entram em sua reta terminante. Amanhã é dia de os clubes fazerem seu registro definitivo na NLB; segunda-feira, de as federações votarem na CBB. A semana distinguirá os homens dos cagões, como diz Oscar. Resta saber se o basquete tem forças para acionar a descarga.

Sabonete 1
No relatório compilado pelo COB, Bozikis endossa os críticos e enfim se compromete a criar um departamento de seleções e a erguer um centro de treinamento. Fala em classificar o feminino e o masculino à Olimpíada de Pequim, mas não garante pódio no Pan do Rio.

Sabonete 2
Entre as dezenas de candidatos e depois de quase uma hora de discussão, a assembléia da Liga do Oscar escolheu o logotipo encaminhado por... Oscar. Mas o desenho era mesmo o mais bacana.

Sabonete 3
Em Belo Horizonte, o alto escalão do vôlei telefonou para o do basquete e sugeriu que boicotasse os movimentos de contestação à CBB.
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E-mail: melk@uol.com.br


Fonte: Folha de São Paulo

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