segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Medalha acena com transparência e profissionalismo

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Profissionalizar a administração e promover uma gestão transparente. As idéias podem não parecer originais – constam de qualquer manual básico de administração moderna -, mas são justamente os dois aspectos principais nos quais se pauta o ex-técnico José Medalha em sua candidatura à presidência da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Nesta segunda-feira, ele apresentou seu programa em São Paulo, dando início a uma peregrinação que o levará a visitar todas as federações da modalidade no país.
Medalha disputa com outros dois adversários a eleição programada para maio. Também concorrem ao cargo o atual presidente Gerasime Grego Bozikis e o dirigente carioca Hélio Barbosa. Se começa a percorrer o país agora, Medalha já tem longa quilometragem em sua candidatura.

O projeto nasceu durante o Pré-Olímpico masculino de Porto Rico, com a eliminação brasileira dos Jogos de Atenas. Em novembro de 2003 foi formalizado pela criação do movimento Muda CBB. Transformado em plataforma de oposição, tenta chegar ao poder da entidade que comanda o esporte no país.

Medalha já tem suas prioridades estabelecidas. No Decálogo de Compromisso, ele propõe a profissionalização administrativa da entidade como aspecto fundamental às mudanças, assim como a profissionalização do esporte.

“Hoje nós temos um basquete profissional de mentirinha. O atleta não tem nenhuma garantia depois que pára de jogar. Sabemos que cometemos muitas injustiças com grandes ex-jogadores”, afirma Medalha, buscando nos Estados Unidos o exemplo da importância de mudar este aspecto. “Nos beisebol, o sindicato dos árbitros parou o campeonato (na década de 90) por causa de contrato”. A entidade reivindicava aumento no piso dos pagamentos.

Criticando a atual gestão, Medalha levantou a bandeira da transparência. “Eu tenho um Conselho Fiscal definido. Gostaria de conhecer o Conselho Fiscal do Grego. Ninguém sabe”. A prestação de contas da atual diretoria também foi questionada. “Nós sabemos o que entra pela Lei Piva. Os recursos dos patrocinadores não sabemos. O que vem da Solidariedade Olímpica? Quanto entrou pelo quarto lugar do feminino nas Olimpíadas?”

Na busca por credibilidade para a entidade, ele diz que vai buscar o certificado ISO 9001 e adotar as licitações como prática regular. “Não vamos ter uma empresa de marketing, por que não fazer licitação?”, destaca estendendo a opção para a escolha da bola e de tudo o que diz respeito às competições. O candidato também promete estabelecer uma porcentagem para as federações nos contratos de patrocínio da entidade.

Para Medalha, o comando de Grego na CBB (duas gestões consecutivas) foi muito prejudicial à modalidade. “Nos últimos 40 anos, a característica foi a centralização. (a gestão Grego) É marcada pela centralização do poder de decisão. A atual gestão não estacionou, fez que houvesse um retrocesso: nos resultados, patrocínios, credibilidade. Perdemos campeonatos de base, perdemos muitos patrocínios. Não tivemos acréscimo no número de praticantes”, reclama.

No combate à centralização, ele propõe uma reforma profunda na estrutura da CBB com a criação de um Conselho Superior que reúna representantes dos atletas, técnicos, árbitros, além dos cinco vice-presidentes regionais, que ele pretende instituir.

Em suas visitas às Federações, Medalha pretende conversar sobre seus projetos apresentando o Plano de Gestão, um programa emergencial cujos tópicos principais são: criação de diretoria profissional, reforma estatutária, análise de todo o restante do calendário existente. O candidato propõe ainda promover um verdadeiro pente fino nos contratos e recursos existentes na entidade.

Até mesmo a organização do Mundial Feminino de 2006, uma das bandeiras de conquista da gestão atual, é questionada. “Temos que analisar os problemas do Mundial. Onde vai ser, qual a verba. É muita falta de responsabilidade”.

Nos próximos 90 dias, o candidato pretende elaborar um diagnóstico identificando o número de clubes, praticantes e todos os aspectos necessários para a criação de um planejamento estratégico para a modalidade, que já foi bicampeã mundial, mas está há duas edições longe das olimpíadas.

Com a candidatura apoiada pelas Federações Paraense e de Alagoas, Medalha acredita que tem chances reais de vitória no pleito. “Existem seis federações que votam no Grego com certeza e seis que não votam de maneira nenhuma”, calcula, indicando a Bahia como um dos votos certos do adversário. “Vendo esse cenário decidimos tentar. Mas é claro que acredito (na possibilidade de vitória). Estou entrando como técnico, que sempre confia na vitória”.

Mesmo com a chapa de Grego reunindo 24 assinaturas na apresentação, inclusive das duas federações que o apoiaram, Medalha acha que o ambiente é propício às transformações. “Está havendo mudanças nas próprias federações”, garante, acrescentando não temer a força de possíveis pressões na eleição. “Acredito que não se precisa mais do poder financeiro para poder vencer. Acredito na honestidade dos presidentes. Se não acreditássemos nisso não estaríamos aqui'.

Segundo Medalha, ele vai investir do próprio bolso US$ 5 mil (R$ 15 mil) na candidatura. “Os amigos estão ajudando com milhagens, contatos. O apoio financeiro é bem-vindo, mas não a amarração de compromisso. Na minha vida, sempre tracei metas que alcancei como técnico (comandou a seleção brasileira), professor (titular da USP). O primeiro passo para atingir um objetivo é estabelecer este objetivo e ir em busca dele”.

Debate - Nesta terça-feira, Medalha participa de um debate com Hélio Barbosa, no Rio de Janeiro. O atual presidente Grego recusou o convite para o evento. Segundo Medalha, alegando compromissos marcados anteriormente.

Os dois debatedores já conversaram sobre suas intenções de assumir o comando da entidade. De acordo com Medalha, os planos de ambos têm muitas similaridades. Mas ele descarta uma possibilidade imediata de união para derrotar Grego. 'As propostas do Hélio coincidem muito com as minhas, e acho isso normal. Mas já trabalhei muito por esta candidatura. Se no final houver necessidade de renúncia vamos discutir, mas este não é o momento'.


Candidato defende campeonato curto para o feminino

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Candidatura à presidência da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), José Medalha, defende a realização de uma competição mais curta para as mulheres no país. Atualmente, o Campeonato Feminino dura três meses - de novembro a janeiro -, mas medalha acredita que o período poderia ser abreviado.
'O basquete feminino tem que ser como em Porto Rico. Uma Liga curtinha para as atletas jogarem na Europa e WNBA', calcula, elogiando o sistema porto-riquenho, que no entanto nunca levou uma seleção feminina às Olimpíadas.

'É um campeonato curto, mas suas atletas estão nos Estados Unidos, Europa. Porto Rico tem um basquete respeitado, é um esporte importante no país como beisebol', diz.

Medalha elogiou os resultados obtidos pelas seleções femininas nos últimos anos - vice-campeã olímpica em Atlanta-96, bronze em Sydney-2000 e quarta colocada em Atenas-2004. Mas ao mesmo tempo em que classificou o feminino como 'um capítulo a parte', evitou dar muitos detalhes sobre o que planeja para manter a categoria entre as melhores do mundo. 'Os projetos para o basquete feminino são os mesmos do masculino', afirmou, deixando claro o que espera em quadra. 'Basquetebol tem que ser de espetáculo'.

Medalha quer técnico exclusivo, permanente, mas não eterno

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - O candidato à presidência da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), José Medalha, saiu em defesa da manutenção de técnicos de dedicação exclusiva às seleções nacionais. Concorrendo à eleição em maio, ele apresentou suas propostas em São Paulo, nesta segunda-feira, e afirmou que, assim como no futebol, a exclusividade é fundamental para que o treinador possa desenvolver um bom trabalho no basquete. Mas posicionou-se contra o continuismo puro e simples.
'Temos que ter técnico exclusivo e permanente, mas não eterno', afirmou. 'O técnico tem que ficar com a seleção enquanto for útil e cumprir seu papel. Depois de ter feito sua parte deve seguir seu caminho'.

Perguntado sobre o que achava dos técnicos da seleção brasileira exercerem também cargos públicos (Aluísio Ferreira, seleção masculina, secretário de Esportes de Ribeirão Preto; e Antonio Carlos Barbosa, seleção feminina, mesma função em Bauru), Medalha posicionou-se totalmente contra. Mas preferiu abordar o assunto de maneira política. 'Isso é um assunto para ser discutido após a eleição. Mas uma coisa vai acontecer, quer for indicado vai ter de ser exclusivo da CBB'.

As justificativas apontadas por ele destacaram a necessidade de independência para a tomada de decisões. 'Não é uma questão financeira apenas. O técnico não pode estar trabalhando em um clube e na seleção. Tem que ter autonomia para fazer a convocação e dispensar atletas. Eu fui técnico exclusivo da seleção'.

O candidato lembrou sua própria experiência como técnico da seleção - comandou o Brasil nos Jogos de Barcelona-92 - para reforçar a postura. 'Naquela época cortei um jogador que todo mundo achava que deveria ser convocado. O presidente do clube dele estava do meu lado quando anunciei, imagine se fosse do meu clube'.

Citando os antecessores Kanela e Ary Vidal, ele reforçou sua teoria. 'No período áureo de resultados todos eram exclusivos'.

Com Pequim como prioridade, Medalha quer limite às reeleições

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Recolocar o Brasil na disputa olímpica em Pequim-2008 é a meta final da candidatura de José Medalha à presidência da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Com um projeto de fortalecimento da imagem da entidade, aliado à proposta de inúmeras reformas estruturais na modalidade, o ex-técnico da seleção não esconde que tudo converge para que o país volte a contar com suas duas seleções nos Jogos. Fato que não ocorre desde Atlanta-96, data da última participação masculina no torneio. 'São duas gerações de atletas fora das Olimpíadas'.
O compromisso com este projeto é tão sério, garante o candidato, que, caso vença a eleição em maio e não consiga cumpri-lo, ele descarta a possibilidade de uma reeleição. 'Estou assumindo um compromisso que está no meu plano de gestão. Se o Brasil não se classificar para Pequim não me candidato (à reeleição)', afirmou nesta segunda-feira, durante entrevista coletiva em São Paulo.

Medalha aproveitou o tema para criticar o estatuto atual da Confederação, que não limita as tentativas de reeleição de seus presidentes. 'Sou favorável a uma única eleição. Até para que projetos possam ter seqüência'.

Para ele, o esporte nacional precisa de uma reforma ampla para redefinir suas regras. 'Já tivemos a Reforma Tributária, Trabalhista. Temos de ter uma Reforma Esportiva nos mesmos moldes'.

O atual presidente da CBB Gerasime Grego Bozikis está no cargo há duas gestões e apresentou nova candidatura para a eleição de maio.

Pensando na concretização do projeto Pequim-2008, Medalha defendeu aumento e intensificação no calendário de amistosos e destacou a importância de duelos de ponta para uma boa preparação. 'Precisamos fazer um plano de treinamento moderno e adequado. Intercâmbio com centros da categoria. Vencemos o Pan de 87 depois que o time treinou contra o Houston, se ficarmos jogando contra Paraguai e Cuba não haverá nível'.

Fonte: Gazeta Esportiva


Comentário:

Fico feliz que a imprensa comece a divulgar a disputa pela presidência da CBB. Embora sempre tenha divulgado as propostas de Medalha aqui nesse blog, não faço campanha pra ele. Faço campanha para qualquer um que esteja disposto a tratar o basquete com mais respeito e transparência do que a atual e nefasta gestão.

No geral, fiquei animado com o discurso de Medalha, mas no que se refere ao Campeonato Nacional Feminino, só senti arrepios. O candidato deu a entender que quer encurtar o Campeonato Nacional, para permitir que nossas jogadoras joguem na Europa e na WNBA. Não acho que esse seja o ponto. As outras nações que vem se destacando no cenário feminino (Espanha, Rússia, Austrália, etc) têm todas elas uma liga local forte. Uma "liga curtinha" seria um retrocesso terrível. Se é que é possível retroceder mais ainda de onde estamos. Não acho que simplificar as coisas assim seja nem coerente, nem inteligente. De onde viria o estímulo para jogar basquete num país em que o torneio nacional dura um ou dois meses? Um país onde todas as jogadoras estão na WNBA/Europa? Onde a nova geração seria lapidada?

Realmente, há muitas perguntas sem resposta.

E definitivamente, Porto Rico pode ter muito a nos ensinar. Mas não nessa área. O que é Porto Rico hoje no mundo do basquete feminino?

Um zero a esquerda.

Medalha trabalhou com Bassul no extinto time da Ulbra. Acho que poderia fazer um 21 para o ex-técnico de Americana e se interar das propostas que Bassul reuniu no ano passado para fortalecer o basquete feminino. Essas sim têm uma inspiração mais nobre.



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