quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Tio Grego serve seu Pingado e a gente tem que engolir!

Acreditem ou não, a sétima edição do Campeonato Nacional Feminino de Basquete começa no próximo domingo.

A cada ano mais pobre, mais sem-graça e mais desorganizado, o torneio continua funcionando como a Taça Brasil, que o presidente da CBB tanto se orgulha em ter extinto.

Se no passado, tudo se resumia à reunião de uma meia dúzia de times que disputavam o título brasileiro em uma semana, o presente não é muito diferente.

Quem quiser entrar, entra pro balaio, sem critério algum, sem nenhum pré-requisito.

Até a semana passada, a CBB ainda divulgava que uma equipe que disputa a segunda divisão do Campeonato Paulista estaria no Nacional.

Mas acho que esse ano, realmente, a CBB se superou.

Nunca vi nada tão desorganizado, tão constrangedor. Tantas idas-e-vindas. Tanta mediocridade junta.

Da tabela que saiu hoje. De Blumenau às bolas. De nove à oito. De São Paulo à Minas. Do café ao leite.

Não deve passar disso.

Se algo de bom sair desse campeonato, o mérito é exclusivo de clubes que remam contra a maré no dia-a-dia. Só param de remar, pra cuidar das pedras. E tirar leite, cada vez mais escasso na desnutrição crônica do nosso basquete feminino.

Pois coroando sua péssima administração à frente da CBB, o Presidente Grego mostra parcos conhecimentos gastronômicos na realização dessa Copa Café Com Leite. Dizem as más línguas que ele foi bucar na Grécia Antiga a inspiração para o torneio. Mais exatamente numa bebida amarga com qual os deuses eram castigados. Da Grécia Antiga para o Brasil Contemporâneo, deuses, pelo menos no basquete, não há. Então, castigados somos nós, torcedores, que vamos botar goela abaixo o Pingado do Tio Grego.

Vamos aos Ingredientes da Receita, conseguida com exclusividade pelo Blog do Basquete Feminino.

Cinco Partes de Café

O Pão de Açúcar/FIO/Ourinhos parte novamente em busca do título nacional, que deixou escapar para Americana, na última edição. Ganhou o título dos Jogos Abertos, mas ainda mostrava uma equipe em evolução. O maior trunfo é contar com uma equipe homogênea, em que o rendimento de titulares ou reservas é semelhante. O técnico Antônio Carlos Vendraminni terá a responsabilidade de extrair o melhor rendimento possível. A base está mantida nas armadora (Ana Flávia e Bethânia), laterais (Chuca, Fernanda e Nathália) e pivôs (Lígia, Milene e Lelê). A cubana Lisdeive é talentosa, mas ainda ganhava ritmo. De contratações, duas pivôs: Luciene e Ízis, uma goiana que vem de passagem pelo vôlei do BCN e que impressiona muito quem a viu treinar. A base é boa e sem estrelas, uniforme. O time ainda assedia Janeth, que parece mais próxima de um acordo com o São Paulo/Guaru.

A Unimed/Americana defende o título nacional um tanto desfalcada. Impossível prever como a equipe se sairá esse ano. Tem a vantagem de ter usado um campeonato de nível excelente como o Mundial, como preparação, e de ter treinado com a bola nova para o mesmo torneio. Fora isso, a equipe ainda nem retornou ao Brasil. E estar sem Jacqueline e Sílvia é um fardo que Paulo Bassul vai ter que carregar. Mesmo desfalcado, o time ainda mostrou algo de positivo no Mundial, por isso é uma incógnita até onde a Unimed pode chegar esse ano. O maior destaque é a dupla de pivôs Êga e Geisa. Com certeza, é o clube brasileiro melhor servido no garrafão. As laterais Lílian e Cristina são exclentes jogadoras, mas infelizmente, em geral, irregulares. A contratação de Cíntia Luz foi uma bela jogada de Bassul. Fora esse quinteto, todo o resto é problema. A veloz Karen volta de contusão, vem sendo invariavelmente poupada. O banco é muito pouco experimentado (Mônica, Monah, Babi, Karina...). A pivô Patrícia Mara que reforçou o time no Mundial não deve ficar. No início do mês, se dava como certo o retorno ao time da pivô argentina naturalizada brasileira, Karina Rodriguez. Mas parece que o acordo acabou não saindo.

Outra incógnita é o São Paulo/Guaru, que ganhou o título em 2002 e agora tenta se acertar novamente. A técnica Vilma é nova e tenta se redimir da fraca campanha do Paulista, no primeiro semestre. De lá pra cá, o time perdeu jogadoras, mas mostrou um basquete mais consistente nos Regionais. O time ainda mantém a base: Sandrinha, Kátia, Cléia, Simone Pontello, Patrícia e tem como destaques a ala Palmira e a pivô Eliane. O poder de fogo do time depende basicamente da confirmação da contratação de Janeth, que ainda não definiu seu futuro. A favor do tricolor, pesa o fato da atleta querer ficar perto do seu Centro de Formação.

O Santa Maria/São Caetano do Sul vem fazendo um trabalho modesto, mas consistente nas últimas temporadas. Para essa, o principal empecilho para o técnico Borracha será digerir a perda da pivô Flávia. Pode ter até rolado um flerte com a pivô Marta Sobral, mas nada se concretizou. Como destaques, o time mantém a veterana Aide e a armadora prata no Mundial sub-21, Fabianna. Ainda tem a esforçada Kattynha, Maristela, Leão, Loredana, Nani, Claudinha e Flávia Fernanda.

Do Santo André, da técnica Laís Elena, há pouco a dizer. Um dos times que já conquistou uma edição do torneio, está cada vez mais desfigurado. Sobram como destaques a olímpica Vívian e a talentosa pivô Kátia, do sub-21. Gigi, Simone Lima, Gabi, Luciana e Glauce também devem estar no time, que deve ser completado com juvenis.

Duas Partes de Leite

O Sírio/Black & Decker/Uberaba vem para a sua terceira participação. O técnico Edson Ferreto tenta organizar um elenco também sem estrelas, homogêneo. O maior problema que vejo é que Ferreto é um técnico cuja filosofia de trabalho demora um pouco para ser absorvida pelo grupo. Portanto não sei se houve tempo suficiente para tal. A armadora Vanessa Gattei lidera a equipe, que ainda tem Juliana Belinazzo, Roberta, Luciana Perandini, Silmara Gorda, Feda, Ana Lúcia e Maria Cristina. Uma americana de nome Aja Brown completa o time. Há poucas informações sobre ela e é provável que acresente pouco, assim como as "soluções" externas baratas dos últimos tempos (Reda Jankovska, Tatiana Nogorentnaya, Karvie Upshow, etc...). Na última semana, o time assediava Karina Rodriguez.

O Universo/Juiz de Fora entra na disputa com fome, mas ainda em construção. A começar pelo seu ginásio, que não está pronto. O time investiu em jogadoras, fez uma proposta quase que irrecusável para Iziane e ainda ofereceu um salário milionário para Janeth. No entanto, na comissão técnica, a universidade botou um desconhecido no mundo do basquete. Não se sabe no que isso vai dar. Sem grandes estrelas, o time fez quatro escolhas sensantas: a olímpica (e talentosa) Karla, a excelente Gilmara, e duas boas promessas: Priscila Peixe e Tayara. Fora essas, há a veterana Roseli, que pode colaborar bastante. Ainda: Tata, Casé, Paulinha, Mainha e Néri. O time acenou com promessa de trazer estrangeiras da WNBA, mas agora empacou naquela velha história de trazer cubanas, o que sempre foi atrativo economicamente, mas inviável burocraticamente. Uma cubana como Soria, por exemplo, seria um reforço espetacular. O detalhe é que as cubanas também estavam no Mundial e, se vierem, chegarão ao Brasil um tanto quanto atrasadas.

Uma Parte de Água Para Aumentar o Rendimento da Receita

Uma equipe carioca, o Iate Clube de Rio das Ostras, volta a fazer parte do torneio. O surgimento dessa equipe é um mistério que poucos explicam. Originalmente, essa equipe iria para outra cidade, Casimiro de Abreu, onde se constrói um Centro de Excelência em Basquetebol. A equipe tinha recebido o técnico (ex-Guaru) Alexandre Cato para tentar desenvolver um projeto. Inicialmente, sem pensar no Nacional. No meio do caminho, problemas de financiamento levaram o time a Rio das Ostras, e o time acordou pronto a disputar a Copa Café Com Leite. Dizem que é uma troca de gentilezas de Grego com a Federação Carioca, pensando nas eleições que se aproximam. Dentro de quadra, o time é um impoviso só. A cidade ainda não tem um ginásio que possa receber adequadamente os jogos. Dizem, por isso mesmo, que a equipe masculina da mesma cidade treina muito "na praia". O time deve contar com Renata Oliveira, Bianca, Adriana Lazzari, Talita, Edjane, Íris, Dani, Ângela e Fabão. Ainda negociava com a pivô Patrícia Mara e assediava Joana, destaque de Santos, na A-2.

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