Melk, o Retorno
Na ressaca olímpica, precisei dividir minhas angústicas. Liguei para amigos, quis ouvir opiniões, li tudo o que foi publicado sobre a campanha da seleção feminina e mais do que nunca: escrevi, escrevi e escrevi. E mais ainda: exorcizei o ódio criando uma página dedicada a Barbosa, o site odeiobarbosa.blogspot.com.
Mas não controlava a ansiedade de poder "ouvir" o que o jornalista Melchiades Filho tinha a dizer.
Na terça-feira passada, fiz beicinho ao abrir o caderno de Esporte, da Folha.
Não, ele não havia voltado.
Aproveitei o feriadão para viajar/descansar.
Mas sabia que uma nova terça-feira e o sete de setembro o trariam de volta.
Ao chegar em casa e ver a Folha repousada no chão da garagem, uma ansiedade incontida tomou conta de mim.
Olhos fixos, leiltura atenta, vibrei com o que li.
Palavra-por-palavra.
Grande Abraço, Melk.
O fim da picada
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O time não merece vaias por ter ficado fora do pódio -o quarto lugar não desonra a (ainda recente) tradição vitoriosa do basquete feminino brasileiro.
Nem por ter tombado em quatro das oito rodadas -australianas e russas têm mais recursos técnicos, organizam campeonatos melhores e freqüentam há tempos a elite das quadras.
Nem mesmo por ter entregue uma dessas partidas, a fim de evitar um cruzamento prematuro contra as temíveis norte-americanas -a Olimpíada do doping, das arbitragens enviesadas e dos atletas vira-casacas de certo modo desautoriza discussões miúdas sobre a ética do esporte.
O time merece vaias, sim, porque apresentou um basquete chinfrim e previsível, apesar de ter sido, dentre todos os que viajaram a Atenas, o que dispôs de mais tempo para se preparar.
Nos três meses de treinos e amistosos, Antonio Carlos Barbosa não concebeu opções ao feijão-com-arroz que vem servindo à seleção na última década.
O Brasil encarou os oponentes com as armas ofensivas de sempre: os passes entre Alessandra e Tuiú (esta longe da cesta, aquela sob a tabela) e os saracoteios de Janeth com a bola no garrafão.
Alessandra fez uma Olimpíada estupenda. Foi a atleta com melhor aproveitamento nos arremessos de quadra, 60,6%. Apareceu em terceiro em rebotes (8,9) e tocos (1,3). De quebra, corrigiu um velho defeito, a precisão nos lances livres, com 70% de acerto.
Mas a "ponte", mais manjada do que as ultrapassagens de Cafu e Roberto Carlos, nunca surtiu efeito. As adversárias congestionavam a zona pintada e deixavam Tuiú livre para arriscar o chute ou repensar a jogada, coisas que ela não foi treinada a fazer.
Pior, essa tática estruturalmente tende a entorpecer o sistema de ataque, pois, estacionada sob a cesta, à espera do passe, uma pivô não pode participar de corta-luzes e outras movimentações.
Por causa disso, a seleção de Barbosa voltou a fracassar nos tiros de três pontos. Sempre monitoradas de perto, as mãos de fada de Helen não acertaram nem uma vez sequer nos três jogos que fecharam a campanha brasileira.
É óbvio que a armadora chuta melhor do que os 30,6% registrados no torneio. Mas, em vez de sugerir a "pipocada" (como fez com Claudinha, Silvinha e outras inhas), seria correto e digno que ao menos uma vez o técnico olhasse para o próprio umbigo.
Perceberia que, desafiado por seus pares, entrou em pânico.
Que, sem critério e sucesso, tentou Leila e até a pesadona Kelly na função de Tuiú. Que mudou tanto o garrafão que arruinou a coesão defensiva -as russas atropelaram nos rebotes (44 x 28) no duelo do bronze.
Que, atônito com a esperada improdutividade de Helen, apelou demais a duas armadoras simultâneas, truque que só funcionaria com o treino que inexistiu.
Que exagerou ao demandar quase 35 minutos por jogo de uma Janeth envelhecida, enferrujada e já sobrecarregada -não à toa, os oponentes desgarravam facilmente no último quarto.
Que acabou, Barbosa, acabou.
Picadura 1
"Existem opiniões discordantes na comissão técnica", admitiu o assistente Paulo Bassul, sucessor anunciado ao posto de Barbosa e defensor de uma seleção "mais homogênea", menos dependente de uma ou duas jogadoras e jogadas.
Picadura 2
"Muita coisa tem de mudar. O Brasil está carente de técnicos", desabafou Alessandra, há anos fora do país e que, portanto, há anos só tem contato com o trabalho de um técnico brasileiro, justo Barbosa.
Picadura 3
Entre o bom-humor e o mau-gosto, o site odeiobarbosa.blogs pot.com despeja a ira sobre o técnico da seleção.
E-mail melk@uol.com.br
Fonte: Folha de São Paulo
recomendo
Outra coluna que me agradou muito e que recomendo a leitura é a da escritora Lya Luft, na revista Veja.
Esperanças...
Na convocação da seleção cadete, citada pelo Nill, logo abaixo, o técnico Antônio Carlos Barbosa assume o status de supervisor oficialmente, no que pode ser o início do fim.
Mais detalhes no odeiobarbosa.blogspot.com
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