quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Êxodo faz basquete brasileiro se acostumar com "planos B"

Bruno Doro
Em São Paulo


A última vez em que os melhores jogadores do basquete brasileiro estiveram juntos foi no Pré-Olímpico de Porto Rico, em 2003. A próxima? Nem mesmo o técnico Lula Ferreira sabe.

Com o número cada vez maior de atletas atuando fora do país, reunir os melhores é uma tarefa quase impossível. Sul-Americanos, Pan-Americanos e até classificatórios para o Mundial podem ter o Brasil usando seu plano B.

"A solução é a que usamos nesse ano. É uma seleção com jogadores jovens, que precisam de rodagem. O Brasil não vai ser o único a fazer isso. Será uma tendência mundial", diz Ferreira.

E não só no masculino que problemas como esse acontecem. Antonio Carlos Barbosa, técnico da seleção feminina, por exemplo, precisou disputar três competições importantes (Olimpíadas de Sydney-2000, Mundial da China-2002 e Pré-Olímpico do México-2003) sem ter um tempo razoável para treinar com todas as suas atletas.

"Estamos entrando em uma nova realidade. Vamos passar por períodos em que o time principal da seleção só vai se juntar de dois em dois anos", avisa Lula Ferreira.

Com cinco jogadores na NBA e vários atletas na Europa, dificilmente Lula conseguirá ter força máxima no próximo campeonato importante da seleção, a Copa América, que dará quatro vagas para o Mundial do Japão, em 2006. A Argentina, campeã olímpica, já está classificada.

"Mundiais e Olimpíadas não sofrem tanto com esse calendário, mas todas as outras competições são afetadas. É difícil conciliar os calendários, principalmente os da NBA. Sem contar que Sul-Americano não é mais para jogadores consagrados", afirma Lula.

Na Copa América de 2003, que serviu de pré-olímpico para Atenas-2004, o time titular da seleção tinha apenas um jogador que jogava no Brasil, o armador Valtinho, do Uberlândia/Unit. Marcelinho estava na Itália, assim como Guilherme. Anderson Varejão jogava no Barcelona e Nenê, no Denver Nuggets.

A equipe inteira treinou junta por pouco tempo. Nenê e o armador Leandrinho Barbosa, na época os dois únicos brasileiros na NBA, só foram liberados quando o time já treinava junto. "Eu sempre estarei disposto a defender a seleção, mas eu sou jogador do Denver e tenho de seguir as ordens deles", diz Nenê, quando veio ao Brasil, no meio do ano.

O ala-armador Alex Garcia, do New Orleans Hornets, afirmou ao site da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) que quer disputar a Copa América, em agosto. Além dos dois, jogam na NBA o pivô Rafael "Baby" Araújo (Toronto Raptors), o ala Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers) e o armador Leandrinho Barbosa (Phoenix Suns).

Na seleção feminina, o problema é ainda maior. A WNBA é realizada entre as temporadas européias. Justamente o período usado pela Fiba (Federação Internacional de Basquete) para as competições entre seleções. Para os Jogos de Atenas, todas as brasileiras desistiram da liga norte-americana para treinar com a seleção. Nos próximos anos, isso não deve voltar a acontecer.

"Eu tinha uma proposta para voltar à WNBA depois das Olimpíadas, mas resolvi esperar. Mas vou voltar para lá", diz a ala Iziane, que jogou pelo Phoenix Mercury e pelo Miami Sol. "Posso não ter jogado muito, mas quero voltar e conquistar meu espaço", completa a pivô Érika, bicampeã pelo Los Angeles Sparks.

Além disso, o número de jogadoras na Europa não pára de crescer. Das 12 jogadoras que defenderam o Brasil em Atenas, apenas Silvinha, Karla, Vivian e a veterana Janeth continuam no país.


Fonte: UOL

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