quarta-feira, 1 de setembro de 2004

Basquetebol brasileiro e as olimpíadas

Encerrou-se em Atenas mais um ciclo olímpico para o basquetebol brasileiro.

Todos sabemos desde o ano passado que, dos esportes coletivos, o basquetebol seria o menos badalado, restando uma grande esperança na famosa “superação” das nossas meninas, que poderiam chegar a mais uma final olímpica, repetindo 1996.

A mídia toda fazendo comparações não deixou de assinalar um retrocesso em termos de resultados. Para mim, a colocacão do basquetebol feminino foi normal dentro do esperado e daquilo que poderia ter conseguido, em termos de posicionamento final no campeonato. O anormal seria não ficar entre as 04 primeiras equipes, já que o nivel da nossa seleção a credenciava a ficar entre as finalistas da competição.

Fica muito difícil julgar ou analisar mais detalhadamente o comportamento de uma equipe quando nao participamos do dia a dia da preparacão e dos seus bastidores. Membros da Comissão Técnica e “diretores” da CBB afirmavam que, desta vez, houve tempo suficiente de treinamento; as meninas tiveram todo o apoio (até mesmo duas fisioterapeutas); os amistosos foram suficientes para os objetivos programados; e etc. etc..

Todavia, ficou uma impressão de insatisfação para aqueles que estavam do outro lado vendo as coisas pela TV. A seleção passou uma sensação de que a equipe não atingiu o máximo e nem tinha o “apetite” acuçado para atingi-lo. Aquela história de escolher advsersário não ficou bem digerida e provou-se mais tarde que de nada adiantou.

Assim sendo, se analisando puramente o quarto lugar obtido, a equipe não decepcionou, sob o ponto de vista técnico, a repercussão não foi das melhores e todos sabem disso, inclusive membros da Comissão Técnica e da diretoria da CBB.

Como consequência, ficamos ainda mais longe da mídia, da exposição e reconhecimento da opinião pública, dos projetos de patrocínio principalmente da iniciativa privada, pois sabemos que, espaços, recursos e atenção são sempre priorizados para os que estão na frente e no basquetebol não ficamos mais uma vez. Esta é a cruel realidade.

Para o basquetebol feminino, sobretudo, o momento agora é o de reflexão, análise e planejamento para o mundial de 2006, com mais gana, dedicação e trabalho para que possamos mantê-lo em sua verdadeira posição.

Por outro lado, enquanto, mais uma vez, ficamos assistindo outros países jogarem no masculino pela TV, percebemos que a nossa equipe, se lá estivesse, poderia ter um ótimo desempenho em virtude do nivelamento do campeonato, a meu ver, com baixo índice técnico. Mas, ficamos fora de novo, por motivos já extensamente comentados no ano passado.

O momento nao pode ser o de acomodação ou de conformismo . Algo bem drástico tem que ser feito com soluções imediatas. O nosso basquetebol precisa de mais entusiasmo, mais motivação, mais resultados internacionais, mais espaço na mídia, e tudo isso pode ser considerado como consequência de uma retaguarda organizacional mais sólida, mais confiável, mais competente e nao totalmente desgastada como a que temos agora.

Algumas pessoas ( presidentes de Federação) podem ajudar decisivamente a mudar esse estado de coisas e contribuir para que novos rumos e novos horizontes se abram para o nosso esporte. Tem muita gente dependendo dessa mudança. Tem muitos profissionais, muitos atletas, muitos abnegados que precisam e merecem novos tempos e novas oportunidades.

Faz-se mister uma mudanca de mentalidade, de modelo organizacional, de outras pessoas menos “desgastadas” ou até mesmo com mais “sorte” dos que atuam hoje na retaguarda da organização, para que possamos melhorar a posição do feminino e recuperar a do masculino que já “comemora” 12 anos fora da vitrine olimpica.

José Medalha - Foi técnico olímpico do Brasil ( Barcelona 92) e de vários clubes. Doutor e Livre-docente em Educação Física é diretor e editor do site JOSE MEDALHA BASKETBALL; e atulmente lidera um movimento de mudança na CBB, cujas ações estão no site MUDA CBB.

Fonte: Diário do Basquete


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