quinta-feira, 29 de julho de 2004

Seleção embarca, seguindo o brilho do ouro

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Esperança, confiança e otimismo são itens extras na bagagem da seleção brasileira feminina de basquete. A equipe embarcou, nesta quinta-feira, para a Grécia onde disputará dois torneios amistosos antes de estrear nos Jogos Olímpicos de Atenas. Na capital grega, elas sonham em conquistar mais uma medalha, de preferência, no único material que ainda não faz parte da coleção da equipe: o ouro.
“Estamos treinando há dois meses quase e todo mundo está focado para trazer a medalha de ouro”, crava a pivô Érika, que participará de sua primeira Olimpíada. “Se depender de mim e de todas as outras, o ouro está pintando”, completa.

A veterana Janeth está na quarta participação olímpica e concorda que conquistar mais uma medalha é o foco de todo o grupo. “Acho muito pouco pensar que só você estar lá já é o suficiente”.

Visualizar o ouro é a palavra de ordem no grupo. “Todo mundo (do time) está acreditando e falando muito no ouro”, reforça a pivô Kelly, para quem o time vai a Atenas em um estágio diferente de sua história. “Em Sydney fomos como franco-atiradoras. Hoje, não. Estamos todas acreditando muito”.

Em três participações olímpicas, a seleção feminina só ficou uma vez sem subir ao pódio: nos Jogos de Barcelona-92. Em Atlanta-96 foram prata, ainda com Paula e Hortência no grupo, e em Sydney-2000, já sem as duas estrelas, conquistaram o bronze.

Um retrospecto tão positivo – acrescido do fato de serem as únicas representantes olímpicas do Brasil no basquete, já que o masculino não se classificou -, só faz crescerem as expectativas para o desempenho em Atenas. Mas as meninas não têm medo disso.

“De quatro anos para cá a equipe cresceu muito. Hoje, temos uma cobrança diferente de Sydney. Lá, éramos uma pergunta, um teste: será que sem Hortência e Paula elas vão conseguir ir bem, como vão jogar? Agora, a cobrança é pelo que já conquistamos. Pelo que o time fez”, explica a ala/armadora Helen, que só não esteve em Atlanta por causa de uma lesão.

Na cartilha do técnico Antonio Carlos Barbosa, todos os anseios do grupo são possíveis de ser conquistados e têm apenas um caminho. “Para buscar o objetivo final você tem que trabalhar com constância. Fizemos uma programação bem elaborada, com avaliações e treinos”, explica. O que vem depois é a competição quem vai definir. “Estar entre os quatro é o objetivo. A partir daí o que decide é o detalhe”.

Atenção aos detalhes é a promessa do grupo em quadra para não deixar nada a cargo do destino. “Estou pronta para a batalha”, afirma a ala Iziane. “A gente está se preparando para isso faz tempo e essas coisas (resultados) são naturais. Entre os quatro primeiros temos que ter um lugar certo. Se vamos ao pódio e conquistamos o ouro, vai depender do que acontecer em cada jogo”.

Apontando Estados Unidos, Austrália e Rússia como os favoritos no torneio, ela diz que o título ficará mesmo para a emoção. “Quem jogar com mais coração. Em disputas como Olimpíadas, às vezes não é a equipe mais técnica que vence”. O exemplo para sua teoria, Iziane busca no futebol. “Você viu na Copa América (em que o Brasil foi campeão contra a Argentina). Se fosse pela técnica não era (para vencer)...”

O primeiro teste concreto das chances brasileiras em Atenas, a seleção fará neste domingo. A equipe enfrenta o time grego no primeiro dos dois amistosos programados. Na terça, as seleções voltam a se enfrentar.

A partir de quinta-feira, o Brasil disputa o Diamond Ball do qual participarão também as seleções da Nigéria e China. Todos os adversários da equipe estão classificados para os Jogos de Atenas, no qual as brasileiras estréiam dia 14, enfrentando o Japão.


Leila deixa o coração em São Paulo pelo sonho olímpico

Marta Teixeira

Guarulhos (SP) - A ala/pivô Leila embarcou para a Europa com a seleção brasileira feminina de basquete, nesta terça-feira, com um misto de muita alegria e um nó na garganta. Entre os que foram se despedir da atleta no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), estava o filho Davi, de 1 ano, que fica no país enquanto a mãe parte em busca de mais uma medalha olímpica em Atenas.
“Nem queria que ele viesse. A despedida vai ser um pouco mais dolorosa aqui. Sei que ele vai chorar, porque tenho que sair escondida de casa”, diz a jogadora, que se prepara para disputar a segunda Olimpíada de sua carreira. “É um sofrimento agora, mas sei que vou ser recompensada”, afirma, pensando na conquista de mais uma medalha – foi prata em Atlanta-96. “Quando ele crescer vai poder mostrar minha medalha para os amiguinhos e sei que vai ficar orgulhoso”.

Leila e a seleção vão passar os próximos 30 dias na Grécia, até o final dos Jogos Olímpicos. A equipe estréia apenas dia 14, contra o Japão, mas viajou bem antes porque fará alguns amistosos até o início da competição.

“Nunca tinha passado tanto tempo longe, vão ser 30 dias direto, mas estou conformada. É minha profissão e ele vai poder falar: ela foi, mas trouxe a medalha”, analisa a jogadora. Para as companheiras de equipe, a decisão de Leila não foi fácil. Alessandra é a que mais se emociona quanto ao assunto. “Dá dó, ele é tão bonitinho. Mas este é um sonho que ela está perseguindo”.

Destaque no cenário nacional, a vida da jogadora entrou em um fase dramática no Pan de Winnipeg-99. Ela machucou o joelho durante a disputa e ficou sem poder jogar até o ano passado, quando voltou à ativa defendendo o Santo André.

Tão logo voltou às quadras, o técnico Antonio Carlos Barbosa decidiu apostar novamente na atleta. “Acreditei e investi. Ela tinha feito apenas quatro jogos e eu a chamei para treinar. Sei que muitos acharam loucura, mas eu considero a Leila uma jogadora talentosa, versátil e, em um país que tem tão poucas jogadoras, não podemos abrir mão dela. É uma emoção extra porque sei que temos parte nessa recuperação”.

Leila encara a conquista de um bom resultado em Atenas fundamental para sua história. “Agora é questão de honra. Muitas pessoas diziam que não estaria aqui (na seleção), mas estou e não é por politicagem, por ser bonitinha ou negra. Ele (Barbosa) acreditou e hoje estou dando o máximo de mim, trabalhando e me dedicando muito”.

Para ela, os quatro anos longe do basquete foram um sofrimento. “2000 (na Olimpíada de Sydney) foi uma frustração. Estar de volta aqui é uma honra em todos os sentidos”.

Fonte: Gazeta Esportiva


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