segunda-feira, 31 de maio de 2004

Janeth fala a Folha de Pernambuco

Olhando despretenciosamente o caderno de esportes do jornal A Folha de Pernambuco, me deparei com uma reportagem de duas páginas inteiras sobre nossa Janeth, que em uma entrevista concedida via telefone, fala sobre as Olimpíadas e sua possivel presença na WNBA 2004 nos playoffs. Leiam e deliciem-se.

Vamos lutar muito pelo ouro

Uma mulher com um objetivo bem traçado: conquistar uma medalha de ouro olímpica. Aos 35 anos, Janeth Arcain abriu mão até da WNBA(versão feminina da NBA) para se dedicar exclusivamente à preparação para os Jogos Olímpicos de Atenas, que começam no dia 13 de agosto. E a decisão não foi fácil, pois na Terra do Tio Sam, ela já caiu nas graças da torcida do Houston Comets, equipe que ajudou a conquistar o tetracampeonato da liga americana de basquete feminino (97, 98, 99 e 2000). E o sonho dourado da brasileira esteve bem perto de ser concretizado em 1996, em Atlanta, mas esbarrou na força e técnica das americanas que venceram o time de Hortência, Paula, Janeth e companhia por 111x 87 na decisão. Atualmente, a ala é a jogadora mais experiente do grupo verde-amarelo e está ciente que essa, provavelmente, é sua última aparição em uma Olimpíada. Nesta entrevistaconcedida por telefone à Folha de Pernambuco, o assunto principal - não poderia ser outro - foi os Jogos de Atenas. Além disso, Janeth falou de futuro, da renovação do basquete feminino brasileiro e do seu centro esportivo, localizado na cidade de Santo André, em São Paulo.

Neste ano não daria para eu ir para WNBA. A minha prioridade é treinar com a seleção, pegando entrosamento


Em Atenas, você estará indo disputar sua quarta Olimpíada. Ainda existe espaço para ansiedade ou nervosismo?

Nervosismo não e a ansiedade acaba sendo controlada. O que existe, realmente, é a vontade de subir no ponto mais alto do pódio e para isso é necessário se preparar muito bem.

E essa Olimpíada tem algo de especial em relação às outras que você participou?

A emoção é sempre a mesma. O que pode diferenciar neste ano é que estaremos onde tudo começou. Eu espero que a abertura e a cerimônia de encerramento sejam maravilhosas e, no final, o Brasil termine coroado com um pódio.

Foi difícil abrir mão da WNBA para se dedicar à seleção?

Apesar das duas coisas para mim serem primordiais, neste ano não daria para eu ir para WNBA, porque coincide com a fase preparatória para as Olimpíadas. A minha prioridade é ficar aqui treinando com a seleção, pegando entrosamento. Agora, foi uma decisão difícil, mas... vamos ver... quem sabe no ano que vem eu estou lá de novo e Olimpíada só tem daqui a quatro anos.

Como foi a reação dos dirigentes do Houston Comets (time em que ela joga na WNBA) ao saber que você não disputaria a temporada deste ano?

Eles queriam que eu voltasse para lá. Inclusive, estou conversando com eles ainda e a minha empresária (Karine Batista) está vendo se consigo voltar de repente para o final da temporada (os playoffs acontecerão depois dos Jogos de Atenas).

A camisa da seleção brasileira tem uma mística diferente para você?

Sempre teve. Defender as cores do Brasil eu acho que deve estar no pensamento e na meta de todo atleta. Você não está defendendo um clube e sim milhões de pessoas que estão torcendo pelo sucesso do País. Então, a responsabilidade acaba sendo maior e é mais um desafio.

Para permanecer no País, você fez alguma solicitação à Confederação Brasileira de Basquete (CBB)?

A que foi feita é que a Confederação repatriasse todas as jogadoras para que nós pudéssemos treinar mais tempo juntas.

Esse é o melhor planejamento já feito para a seleção no período que antecede a Olimpíada?

Não dá para ter uma opinião formada sobre isso, porque ainda nada aconteceu. Mas a gente sempre espera que sim... que cada planejamento seja melhor que o outro para que os erros cometidos no passado não se repitam.


Quantas horas, em média, a seleção treina por dia?

Umas cinco horas.

Mas depois de tanto tempo na ativa, não tem dia que você está cansada disso tudo?


Ah sim, é claro. Tem dia, de repente, que você não acorda bem, está cansada, com dor de cabeça, TPM... Mas tem aquele outro lado. Eu tenho um objetivo, tenho um rumo, tenho uma meta... Então não posso desviar disso, porque tem gente que está vindo atrás e se eu desviar, vou me atrasar para que meus sonhos aconteçam.


Em Atenas, o Brasil está no Grupo A ao lado de Rússia, Nigéria, Japão, Austrália e Grécia. Gostaria que você fizesse uma análise dessa chave?

Dificílima, assim como se a gente tivesse caído na outra chave (risos). Não tem o que você escolher quando se está indo para uma Olimpíada, porque lá estarão os melhores dos melhores atletas. Então, o que eu posso dizer é que o Brasil vai se preparar bem para todos eles.

Os Estados Unidos continuam favoritos ao título?


Nos últimos anos, as americanas vêm demonstrando que estão um pouco à frente das outras seleções. Mas pelo fato delas não estarem treinando juntas nesse período, por causa da WNBA, quem sabe os adversários tirem vantagem da possível falta de entrosamento dos Estados Unidos. Pra gente, o primeiro jogo (contra o Japão, no dia 14 de agosto, às 10h45) é primordial, vai ser nosso cartão de visita.




Quais são as reais chances do Brasil?

Nossas chances são grandes. Estamos na quarta colocação do ranking mundial. Então, dentro desse grupo, dependendo da preparação e de como as jogadores estiverem durante a competição, as posições podem ser modificadas.

Depois da prata em Atlanta e o bronze em Sidney, chegou a hora do ouro?

Espero que sim (risos). Vamos lutar muito por isso.

Quando Hortência e Paula anunciaram a saída da seleção, todos sabiam que você seria a substituta natural delas em quadra. E quando você parar? Você visualiza alguém para assumir a liderança do grupo?


Olha... isso ai vai ter que ser uma coisa que aconteça naturalmente ou até mesmo que a mídia encontre alguém. Para mim, é muito difícil falar isso agora, porque citaria nomes e poderia terminar esquecendo de alguém. No fim, acho que isso vai terminar acontecendo e, também, se não aparecer ninguém, acho que a seleção hoje pode ter qualquer jogadora liderando.

Em quadra ou fora dela, qual é o principal ensinamento que você procura passar para as atletas mais novas?

Acho que é a concentração, estar todo mundo junto, remando do mesmo lado.


Como está o processo de renovação no basquete feminino brasileiro?

Eu espero que não fique um vácuo entre uma geração e outra. Acredito que as meninas que foram vice-campeãs mundiais sub-21 possam continuar representando bem o Brasil por mais dez anos, no mínimo.

Depois da presença de tantas brasileiras na WNBA, esse ano não teremos nenhuma representante nacional nos Estados Unidos. A liga perdeu o interesse nas brasileiras ou nossas jogadoras descobriram outros mercados?

Esse ano, a ausência, particularmente, foi por conta da Olimpíada. Mas no ano passado e no anterior, foi porque as jogadoras decidiram também tomar outros rumos e algumas foram para a França, Rússia e República Tcheca.

Até quando os brasileiros poderão se deliciar com as belas atuações de Janeth na seleção?

Acredito que até 2007.

Então quer dizer que no Pan do Rio de Janeiro nós ainda teremos Janeth em quadra?

Espero que sim.

E como é que está o Centro de Formação Esportiva Janeth Arcain (localizado em Santo André, em São Paulo)?

Está muito bem. A cada dia, estamos crescendo mais, aprendendo também muita coisa. Temos quatro equipes de competição, tanto no masculino quanto no feminino, com a garotada de 13 e 14 anos. Estamos, conseqüentemente, formando uma nova geração para o futuro do nosso País.

Você já faz planos para quando parar de jogar?

De repente, eu posso seguir para o lado administrativo ou para o lado técnico. Eu ainda não decidi para qual caminho vou seguir, mas pode ter certeza que vai ser para um desses dois.


Janeth, você está com quantos anos?

35

Ah, está muito nova. Ainda tem muitas alegrias a dar para o Brasil.


(Risos) Tomara. Sonho muito com a medalha de ouro olímpica.

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