Amarelinha 
MELCHIADES FILHO 
(Editor de Esporte da Folha de SP) 
A contusão no joelho direito no Pan-99, a cirurgia, a revolta ante a falta de assistência, o processo na Justiça contra o Comitê Olímpico Brasileiro, a depressão. Leila ficou mais de três anos afastada das quadras. 
A companhia do filho David, o conforto da nova religião, a arquibancada de Santo André, o sorriso da técnica Laís Elena, o convite surpreendente. Aos 28, a idéia de se dar outra chance. 
Em seis jogos no Paulista, entre abril e maio, ela provou que, ao menos para os talentosos, o basquete é como bicicleta, não se desaprende. Veio a convocação. 
Com 80 kg, pouco a mais do que no auge de sua carreira, quando conquistou o ouro mundial (1994) e a prata olímpica (1996), a ala de 1,87 m comoveu-se com a lembrança de Antonio Carlos Barbosa. Mas, calejada, prometeu não se empolgar. 
A infância de Renata foi conturbada, primeiro sem pai, depois sem mãe, os irmãos loteados. A demora para se acostumar aos genes, à vida -e ao basquete. 
Embora tenha merecido convocações como juvenil, adulta ela zanzou incógnita pelos clubes até constatar que precisava se afastar de tudo e de todos para descobrir sua vocação nas quadras. 
Itália e Espanha na bagagem, a ala de 24 anos e 1,85 m finalmente parece ter convencido a comissão técnica. Desta vez convocaram-na para competir pra valer, e não só para ajudar na preparação como "sparring". Que alegria. 
Ainda que visite o pódio do calendário mundial há mais de uma década, a seleção brasileira feminina segue com lacunas. 
Falta atrevimento e consistência nos arremessos de três pontos. Malícia na condução de bola. "Punch" na defesa de meia distância. Capacidade atlética. 
Barbosa aproveitou o longo período de treinos para improvisar soluções para as duas últimas. 
A busca frenética por uma ala que marque com vigor e não tema o jogo sob a tabela desembocou em Leila e Renata, jogadoras de trajetórias tão distintas, uma precoce em tudo, a outra temporã. 
O técnico resolveu embarcar com a mais nova para Santo Domingo. Mas fala em Leila no Pré-Olímpico, bem mais importante. 
Muitos acham que pesou a diplomacia, que se evitou o desconforto de levar ao Pan uma atleta que aciona o COB justamente por ter se machucado nesse evento. 
Barbosa, que prestigiou a veterana nos amistosos de julho, rebate os boatos e nega todo tipo de pressão. "A verdade é que Leila ainda não suporta a carga dos treinamentos. Se eu não quisesse confusão, não teria chamado ela, de certo modo até precocemente." 
O curioso em toda essa história é que Leila é irmã de Marta, a mais importante pivô do basquete nacional até o surgimento de Alessandra, irmã de... Renata! 
As duas alas preservam, ainda que de maneira torta, a tradição desse esporte no país (Paula e Branca, Vanira e Vânia Hernandez, Helen e Silvinha Luz...). 
Mesmo que uma nem viaje e a outra vá somente passear em Santo Domingo, desde já estrelam a única história interessante do basquete brasileiro neste Pan. 
Quem souber que conte outra.
Pan 
A seleção não achará em Santo Domingo a moleza do Sul-Americano. Se a Argentina estará ainda mais desfalcada, dominicanos e porto-riquenhos usarão a força máxima. E os EUA, com universitários, terão um time menos bisonho que o de Winnipeg-99. Olho no pivô Emeka Okafor, que humilhou o brasileiro Baby nesta temporada. 
Pré 
Denver e Phoenix dizem ainda esperar contatos (e contratos) da CBB para liberar Nenê e Leandrinho ao qualificatório para Atenas-04. 
Pau! 
"Foi do nosso jeito, nos garrafões", diagnosticou a técnica dos EUA a derrota histórica para as brasileiras no Mundial sub-21, domingo.
Fonte: Folha de São Paulo
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