quinta-feira, 17 de abril de 2003

A bola que insiste em não cair na cesta...

Não sei se ainda tenho a mão, mas confesso estar lisonjeado com as freqüentes manifestações de carinho e declarações de saudade. Fico igualmente feliz de perceber que ainda incomodo, apesar de se aproximar o terceiro mês do meu (temporário) afastamento do blog, já que ainda tem gente brincando de detetive e errando (hehehe). Já dizia Raulzito: eu sou a mosca que posou na sua sopa.

Mas enfim não quero gastar a oportunidade de riscar novas palavras para tratar de velhos assuntos.

E o que interessa aqui, por ora, é basquete, e basquete feminino.

Talvez não saiba nem por onde começar.

Já dizia minha vó, que quando a gente não sabe por onde começar, o mais prudente é começar pelo começo.

E acho que acabei por nunca contar o começo de tudo pra mim.

O ano eu não esqueci: 1991. O mês acho que agosto. Dia? 09, talvez. Ou 11? Lembro que era um domingo. Domingo quente. Estava voltando da casa da minha vó. Afinal, era domingo. Dia de almoço em família. Eu, 12 anos. Nunca tinha visto um jogo de basquete na minha vida. Ai de quem ousasse me perguntar quantos atletas formavam um time de basquete. Talvez dissesse 11. Era um domingo como outro qualquer. E eu confesso: naquela época, era chegado numa programação televisiva dominical (oh, meu passado negro). Mas minha mãe, naturalmente avessa a qualquer evento esportivo na televisão estava curiosa. Chegou em casa e foi logo contando que ouvira a semana toda sobre as maravilhas que Paula e Hortência vinham fazendo em Cuba, no Pan-Americano. Paula? Hortência? Já tinha ouvido falar, mas exatamente quem elas eram...não fazia a mínima idéia. Fiquei meio decepcionado, mas tinha a certeza de que em cinco minutos minha mãe acharia aquele espetáculo entediante e eu passaria a comandar os rumos do controle remoto. Ledo engano. No início, estranhei aquele jogo veloz, dinâmico, aquele "toma-lá, dá-cá"; que rapidamente (eu não sabia) foi me seduzindo. O Brasil ganhou, eu fiquei feliz...A vida continuava, com a diferença que agora eu sempre ficava de olho pra ver se apareceriam outros jogos na Tv. E assim, fui... Me lembro vagamente de assistir alguns jogos na Bandeirantes: o I Mundial Interclubes.

Depois de algum tempo, me lembro da divulgação espantosa do anúncio do patrocínio da Leite Moça ao time de Hortência, em Sorocaba. Estava contaminado. A seleção veio a Goiânia; acho que era contra a Bulgária. Preparação para o Pré-Olímpico. Um texto sobre o jogo foi minha tarefa, melhor, meu homework, no curso de inglês daquela semana. E a explosão veio no Pré-Olímpico de Vigo. Quem não viveu aquilo, pode não acreditar. Mas por um breve período, o Brasil brincava de respirar basquete feminino. Era o assunto do dia, nas reuniões. Aquela cesta, aquela vacilada, aquele drible, a eterna discussão de quem seria melhor: Paula ou Hortência? Discussão infinita. A vaga veio e a exposição aumentou. Discutia-se até a gripe de Hortência na véspera da abertura do Pré-Olímpico Masculino, quando brasileiras e americanas se enfrentariam "amistosamente". Veio o gosto amargo de uma decepcionante campanha em Barcelona. Sofri assistindo a cada jogo. Achava que o basquete ia acabar ali, que tinha sido só um efêmero brinquedo. Até eu mesmo já estava a fim de aposentar a minha bola (uma Penalty horrenda listrada de roxo e amarelo). E o fim parecia mesmo estar anunciado. Tive a certeza absoluta disso ao abrir um jornal, ainda em 1992, em que matéria da Agência Estado anunciava: "CONTUSÃO NO JOELHO AMEAÇA A CARREIRA DA RAINHA HORTÊNCIA". Dizia o repórter: "Uma lesão irreversível no joelho direito ameaça encerrar a carreira de Hortência, considerada a mais completa jogadora de basquete brasileira de todos os tempos."... "Espero jogar mais duas temporadas", dizia a Magrela.

Pra mim, estava decretado o fim. Eu tinha descoberto Hortência e seu basquete, quando ela dizia estar prestes a se aposentar. O que poderia fazer? Não sei movido por que comecei a colecionar tudo que dizesse respeito a basquete e a Hortência, como se pudesse atenuar a tristeza que sua despedida provocava em mim. Recortes, jogos, fotos, tudo me interessava.

E pra quem achava que o fim estava próximo, hoje vejo que era só o começo. Ainda vi Hortência jogar muito, ser campeã mundial e vice-olímpica. Ela se aposentou e a paixão ficou e até se intensificou, como nem eu mesmo esperava.

Bem, você, caro leitor deve estar se perguntando por que eu estou fazendo esse longo relato de fatos passados.

Por que agora, novamente, parece que o fim está se aproximando...

O basquete foi novamente sepulcrado em outras praças que não São Paulo. As iniciativas cariocas e paranaenses não passaram de chuvas de verão.

O campeonato de maior visibilidade no momento é de uma pobreza medonha. Formado por apenas seis cambaleantes (umas mais, outras menos) equipes, o Paulista tenta se segurar. A falta de recursos é tanta que ao menos resta a esperança de equilíbrio. Mas nada muito sedutor. Tanto que eu, paulista recém-convertido e basquetemaníaco convicto, ainda não me animei a sair de casa uma só vez pra assistir um jogo. Chico César e Daúde no SESC Vila Mariana ou Mônica Salmaso no SESC Ipiranga me pareceram infinitamente mais sedutores. Assim como eu, a Tv também não se interessa por esse torneio-de-6-times.

O primeiro turno já até se encerrou. Com equilíbrio, pelo menos. Mas com poucas novidades no cenário. Americana e Ourinhos mais uma vez largaram na ponta, as equipes mais sólidas nesses últimos anos. O campeão nacional São Paulo-Guaru entrou desmontado na competição, sem suas duas pernas: Janeth, a direita e Érika, a esquerda e amarga a lanterna da competição, com uma coleção vexatória de cinco derrotas. Nada que não possa ser revertido caso uma ou as duas pernas sejam recontratadas. Enfim, acontecimentos que tiram a graça até de ver o time jovem de São Caetano se apresentando bem, assim como do retorno de Vendraminni.

Nossas maiores estrelas estão todas no exterior. Cada uma espalhada por um canto, cada vez mais jovens, peregrinam por times e países a cada seis meses em busca da sobrevivência. Com mais ou menos sucesso, elas têm conseguido. Pra quem gosta delas, o panorama é o mesmo: poucas (ou nenhuma?) notícias, transmissão pela TV nem pensar.

Até a WNBA que parecia tão sólida, em que pelo menos temos mais informações, alguns jogos na TV, está ameaçadinha.

Tudo isso em um ano cheio de compromissos.

E aí ainda temos que aguentar essa balela de repatriamento do Grego. Um arremedo de idéia de conteúdo absurdamente demagógico, incoerente, que visa apenas minutos na televisão ou centímetros no jornal. Faça-me o favor. Tão mal conduzida que cada semana a posição é uma. E temo que caso a WNBA seja cancelada ou não contrate as brasileiras, tenhamos que ver o sorriso made in greece na TV apertando a mão das atletas e bradando: "Repatriei-as!". Me poupe.

A CBB nunca moveu uma palha pelas atletas brasileiras que estão no exterior. Certamente, desconhece o paradeiro de mais da metade delas. Tanto que afirma em seu site que Érika está na Espanha...Agora com o fracasso no Mundial, a entidade vem posar de boa samaritana?

Isso sem mencionar que a entidade nem patrocínio tem... Apesar de Grego sempre dizer que tem boas novidades pra apresentar, parceiros que podem surgir (lembram-se no debate da ESPN?); essa semana ele estava extendendo o pires pra Caixa Econômica Federal, que pelo menos dessa vez foi polida e não esculachou o basquete, como quando do fim do contrato entre ela e a CBB.

No meio desse salve-se quem puder, duas despedidas que não podem passar em branco: Claudinha e Adriana. Não sei se a decisão de ambas vai se manter, mas que é sinal de que coisas precisam ser repensadas, ah, isso é... As duas saem da seleção sem grandes apresentações com a camisa amarela. Adriana paga o pato de sempre ter contado com duas concorrentes desleias: Hortência e Janeth. Depois, ficou encavalada na transição entre essas duas e a nova geração: Silvinha, Lílian, Micaela, Leila, sem definir sua posição. Acaba saindo da seleção, onde seu melhor momento talvez tenha sido a partida contra as russas em Sydney. Claudinha foi prejudicada pela indefinição de Barbosa quanto às suas armadoras. Pouco usada no Mundial de 98, quando podia ter sido uma opção à má-fase de Helen e ao rendimento abaixo da média de Silvinha na armação, depois encurralada na indefinição da armadora titular (a própria ou Helen) em 2000, e agora prejudicada pela sombra de Adrianinha, com quem guarda semelhanças no estilo de jogo, Claudia sai de cena cedo na seleção. Mas o futuro dirá mais sobre essas decisões...

Por falar em futuro, Bassul anunciou a seleção sub-21, e trata-se certamente de um belo time. A campanha no mundial vai depender não só da sorte, já que o grupo do Brasil é forte, mas também da confirmação das presenças de Érika e Iziane, nomes certos também no time adulto.

Mas voltando ao começo, quando eu achava que era o fim, boas surpresas vieram me provar que eu estava errado.

Agora que o clima do basquete nacional se parece com reprise de último capítulo de novela da Globo no sábado, quem sabe algum casamento, revelação ou nascimento salve o enfadonho enredo, ou quem sabe o próximo autor inicie uma trama com mais açúcar e menos sabor mexicano.

Feliz Páscoa!

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