sexta-feira, 7 de fevereiro de 2003

Gazeta Esportiva

Vânia e Vanira Hernandes: garra para formar cidadãos

Por Marta Teixeira


Vânia e Vanira reativaram centro de formação de atletas de basquetebol, na cidade de Sorocaba
Sem patrocinadores, mas com muita garra e determinação. As gêmeas Vânia e Vanira Hernandes de Souza repetem no trabalho com adolescentes as mesmas características que possuíam quando defendiam a seleção brasileira e suas equipes nas competições de basquete. Há dois anos, elas reativaram o Centro de Formação de Atletas de Basquetebol Vânia e Vanira, na cidade de Sorocaba (SP) e abriram uma nova oportunidade para meninos e meninas de 6 a 13 anos.

Mas sua história de trabalho comunitário não começa nem pára por aí. A iniciativa de criar o Centro partiu de Vanira, em 95, quando parou de jogar. Dois anos depois o projeto foi interrompido porque a pivô resolveu voltar à ativa. "A Hortência me chamou para sua equipe, dizendo que eu estava nova para parar. Eu fui". Somente em 2000 o trabalho foi reiniciado, já em parceria com a irmã Vânia, que treina os meninos, as meninas ficam sob a supervisão de Vanira.

No entanto, engana-se quem pensa que o trabalho das irmãs limita-se apenas aos fundamentos do esporte dentro da quadra. "Não tentamos formar apenas jogadores de basquete. Preparamos esta meninada para o esporte", explicam. Mas é quando os adolescentes ultrapassam os limites da quadra, que a linha de trabalho das irmãs Hernandes mostra seus diferenciais.

Os jovens que integram o projeto - atualmente em número de 150 com bolsistas e alunos que podem pagar - recebem passe, têm aulas de inglês e espanhol, tratamento dentário, cesta básica (se necessário), uniforme de treino e tênis. Tudo bancado pelo Centro e conseguido com a colaboração de amigos, como ressaltam as ex-jogadoras. Segundo elas, o custo de cada bolsista é de R$ 25,00/mês.

Assim como exigem empenho no jogo, as irmãs Hernandes também não amolecem nas cobranças educacionais. Aluno do Centro tem que ter boas notas - apresentando o boletim - e responsabilidade, quem falta três aulas seguidas sem motivo é desligado do projeto.

O empenho e a exigência têm dado resultado. Em Sorocaba elas afirmam contar com três promessas para a modalidade. "Tem uma menina de 13 anos e 1,89m que vai dar o que falar e um menino (com a mesma idade) e 1,90m", conta Vanira. Ela ressalta ainda um outro ex-integrante do projeto, hoje com 16 anos, que está nos Estados Unidos, jogando e estudando.

Quando fala do progresso das crianças, a ex-jogadora não esconde a emoção. "A gente já chorou de ir no jogo e vê-los jogando. Quando chegaram aqui não conseguiam nem segurar a bola", lembra. Esta mesma emoção levou Vânia a acrescentar mais um projeto social a suas atividades.

Há um ano, ela assumiu o programa Atleta Cidadão, da Prefeitura de Araçariguama, que reúne cerca de 200 jovens. "É um trabalho no qual me sinto muito recompensada. Quando vejo aquela garotada se esforçando dentro do galpão fervendo", afirma. "Trabalho com jovens de 7 a 14 anos. Muitos nem me conheceram como jogadora, eles gostam e acreditam em mim como Vânia", emociona-se.

Para ela, esta é sua contribuição como educadora. "Estou super gratificada e tento passar o que vivi para aprenderem", diz. A principal preocupação de Vânia e Vanira é proporcionar aos jovens sob seus cuidados aquilo que não tivera.

"Estudo é primordial", emenda Vânia imediatamente. "O que vamos proporcionar para eles, foi o que não tivemos", diz Vanira. "Nosso objetivo é formar outro de tipo de jogadora, com outro nível cultural", explica sua irmã, lembrando que em sua época poucas eram as atletas que tinham estudo suficiente para abrir outra porta depois da aposentadoria.

Por isso, hoje elas não querem saber de perder tempo. Além dos projetos sociais também voltaram às carteiras escolares. Vânia faz o curso de Educação Física, enquanto Vanira deu uma guinada radical e é aluna de Design de Interiores. Haja fôlego.


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