quinta-feira, 31 de outubro de 2002



Eu queria escrever algo mais objetivo sobre o Nacional Feminino, que começa em três dias: falar das equipes, técnicos e suas condições para essa quinta edição do torneio. Mas até agora ainda não sei quem vai jogar esse Nacional. As equipes ainda se estruturam (?) e eu nem sei quem são os técnicos de algumas das equipes. Não sei se Janeth joga, se Karina volta. Então, eu vou deixar pra escrever quando houver o que ser dito, porque nessa altura dos acontecimentos, só sendo mágico pra poder escrever sobre o V Nacional Feminino.

Na impossibilidade, me saio com algo menos impessoal. Será como uma redação do primário: "A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece". Ops, melhor, O Primeiro Nacional A Gente Nunca Esquece!




Já se passaram cinco (não muito) longos anos. Mas eu acho que me ainda me lembro como se fosse hoje e farei de meus relatos um grito de alerta. Por melhor que o Nacional seja, não dá pra se contentar ainda com ele e é tolice não admitir que ele é um Paulista fantasiado, já que o basquete ainda não "pegou" em outros estados que não o seu berço.

Nem preciso usar muitos dados pra comprovar o que eu digo. Se pensamos nos quatro campeões do torneio, dá até tristeza: Fluminense (1998), Paraná (2000) e Vasco (2001) não existem mais. Apenas Santo André (1999) mantém-se em atividade.

Mas voltemos à 1998, primeiros meses do ano.

Enfim, a Confederação Brasileira se esforçava para dar luz ao Campeonato Nacional do Feminino. Até então, nos contentávamos com uma decadente Taça Brasil de sete dias, em que as equipes paulistas destroçavam os adversários de outros estados.

No improviso de sempre, as equipes de São Paulo foram obrigadas a migrar para outros estados para compor equipes para o I Nacional.

Americana, semifinalista do Paulista virou o carioca Fluminense.

Araçatuba virou a catarinense Blumenau.

A gaúcha Canoas recebeu atletas de diversas equipes paulistas desfeitas.

São Bernardo, Campinas, Osasco e Santo André mantiveram seus times.

E do último participante, quem há de se lembrar?

Pois a história começa assim.

Hortência possuía duas equipes no interior de São Paulo: Americana (o time A) e Santa Bárbara d'Oeste (o time B), que recebiam um suculento patrocínio da Data Control. Mergulhada em problemas financeiros, a empresa retirou o patrocínio e os times se viram em problemas. Uma das maiores entusiastas do Nacional, Hortência enviou o time A para o Rio de Janeiro: Marta, Silvinha, Vicky, Cíntia, importou Jacqueline do time B e trouxe Vedrana da Microcamp.

Em Santa Bárbara, sobraram poucas jogadoras: Paty foi pra Campinas, Jacqueline para o Fluminense, a americana Dany deu bye-bye, Brazil!. Restavam Helen, Rosângela e Lígia, saída do time A, e o técnico Edson Ferreto. Ao grupo, Hortência juntou Casé, Dayse Macarrão e Vânia Teixeira e procurava desesperadamente apoio para manter sua segunda equipe. Próximo ao estouro do cronômetro, uma luz piscou no Planalto Central do Brasil.

Parecia sonho, mas Goiânia, capital do Estado, e com uma história de brilho no passado no basquete masculino, se interessava pelo time da Magrela.

O governo do Estado auxiliaria a estabelecer contatos entre Hortência e as empresas locais.
Pensando em utilizar a camisa de um clube local para atrair a torcida, o rubro Vila Nova logo se ofereceu.

E iniciaram-se às reuniões.

No dia que Hortência veio, o circo estava armado pela imprensa local. Os outros clubes da capital estavam indignados, também queriam emprestar suas camisas à Rainha.

O arqui-rival do Vila Nova, o esmeraldino Goiás assustava já que tinha contrato com Brunoro, homem do marketing da CBB na época e que acompanhava Hortência na viagem.

Mas enfim saiu o acordo, ainda meio sem recursos, mas saiu.

Logo, uma empresa local se ofereceu para patrocinar o time. Uma empresa de medicamentos, exporia um de seus produtos na camisa do time: uma dessas pomadas primas do Gelol, chamada Massageol, distribuída aos expectadores dos jogos da equipe.

Assim nascia o Vila Nova/Massageol.

Jogadoras trouxeram mala e cuia pra Goiânia, onde ficaram instaladas em um hotel e iniciaram os treinos no Ginásio Rio Vermelho, no centro da cidade, que corria contra o relógio para adequar-se à competição.

Para completar o time, foram escolhidas quatro atletas locais: Ana Helta, Middian, Daniela e Carla, que não ficavam no hotel.

O time era supervisionado por Hélio Vendraminni (irmão do técnico) e o comando, em quadra, era do Ferreto.

Enfim, não sei se o tempo passou rápido, mas a estréia chegou logo.

O time estava longe de estar 100%, mas queria tentar.

O adversário era o Santo André, com Janeth e Leila, e o time se esforçou, mas não dava mesmo para passar de um 62 a 71.

Hortência distribuía sorrisos e autógrafos na mesma proporção. Ao final do jogo, uma chuva aliviava o calor local e a Rainha esperava o motorista de fora do ginásioao lado dos súditos, se desviando da fumaça que subia das barraquinhas de churrasco.

Dois dias depois, a luta era com o São Bernardo, de Adriana, e a torcida aprendeu que o basquete às vezes é cruel: 79 a 78, mesmo com uma bela cesta de Helen no final do meio da quadra. Mina fez uma bela partida. Os "comentaristas" das emissoras de rádio locais não entendiam como ela não estava na seleção. A armadora respondia com um constrangido: "A estatura internacionalmente é importante."

Já nas primeiras rodadas, a torcida começou a gostar do time. Mesmo com pouco conhecimento do esporte, havia animação. E excluindo alguns xingamentos a Ferreto, tudo ia bem.

Mas torcida queria mais. A imprensa também. As duas derrotas iniciais frustaram as expectativas, e patrocinadores liberaram Hortência para importar reforços.

O time fez os primeiro jogos fora de casa e obteve duas vitórias: 67 a 61 no Blumenau e 71 a 66 na Ulbra.

Foi inevitável uma derrota para o BCN, em Osasco: 87 a 63 e depois para a Microcamp, em campinas: 87 a 76.

De volta à casa, engrossamoso jogo, mas não deu: 75 a 69 para o Fluminense.

A intenção era partir com mais ânimo para a Segunda fase.

O primeiro reforço chegou: uma pivô canadense: Carla Stone ajudaria o grupo.

Já antes disso, a torcida local escolheu seu xodó. Apesar da popularidade de Helen, a campeã da preferência era Lígia. Seu estilo vistoso e brioso de jogo colocaram-na como legítima estrela da equipe. Pela semelhança física com um jogador do time de futebol do Vila Nova chamado Sabino, Lígia virou a "Sabina" para os torcedores. Durante os jogos, depois de uma cesta da pivô, o ginásio se levantava em coro: "Sabina! Sabina!".

O time subiu de produção. Estreou contra Santo André e perdeu por detalhes: 86 a 84. Do A para o B do ABC, fez uma bela partida contra o São Bernardo: 90 a 71, mas num lance da partida, a pivô Carla Stone, recém chegada e com boas performances rompeu os ligamentos do joelho e estava fora do campeonato.

O time ainda venceu o Blumenau em casa: 82 a 55.

Hortência buscava reforços para segurar a peteca, chegou a anunciar Kornelis Kavisevic, mas trouxe Wanda Ford, uma americana espalhafatosa dentro e fora da quadra, que combinava erros e acertos em igual porporção e com quem o bigode de Ferreto não se engraçou.

O Rio Vermelho ainda assistiu outra derrota. Para a Ulbra, numa partida estonteante de Aide: 78-75.

O time tentou se recuperar contra o BCN, na estréia de Cíntia Tuiú, mas não deu de novo: 81 a 79.

Aproveitou-se das ausências de Paula e Branca (que perderam o pai no dia anterior) e venceu a Microcamp por 105 a 67.

No Rio de Janeiro, uma derrota previsível: 89-74 para o Fluminense.

As cinco vitórias e nove derrotas valeram a Quinta colocação e uma vaga nas semifinais. O adversário mais uma vez: Santo André.

Ginásio lotado, mas a vitória escapou da mão do time goiano, no final: 83 a 80.

Em Santo André, a história se encerrou num 104-84, fechando os play-offs.

A história chega ao fim, assim.

Dois dias depois, nem sinal das jogadoras na cidade.

O trabalho de base continuou como sempre esteve.

As quatro jogadoras do Estado sumiram do mapa, com exceção de Carla que passou pelo BCN-Osasco, Araçatuba e hoje joga e estuda no Estados Unidos.

Nada ficou do time, a não ser a memória.

Domingo, a Quinta edição do Nacional se inicia, e essa história deve se repetir, com outros atores, e com algumas poucas alterações no roteiro, mas também sem final feliz.

Ah, quanto ao Ginásio: será reaberto em 10 dias, com um jogo amistoso entre o time masculino local (Universo/Ajax) e o Flamengo, de Oscar.


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