quinta-feira, 12 de setembro de 2002

Faça-me o favor

Tentei dormir, mas apaixonado que sou pelo basquete, não consegui.

A cabeça pesou no travesseiro.

Me sinto assim toda vez que alguém comete uma injustiça, sem pensar no peso de palavras, sem arcar com a responsabilidade do que escreve.

Não tenho nada contra o jornalista Fernando Santos. Acompanho suas colunas desde sempre, do Starmedia até agora no Lance. Prova disso é que ele foi a primeira pessoa a ser entrevistado no Painel.

No entanto, decepcionante é o mínimo que eu posso dizer da última coluna publicada pelo jornalista no Lance.

Não sei se ele estava com pressa, se foi a obrigação de escrever algo sobre o Mundial Feminino...Ou se é apenas o mal do jornalista que escreve sobre basquete no Brasil: assim como dirigentes, eles preferem o masculino e quando querem ou têm que escrever sobre o feminino, a falta de conhecimento fica óbvia.

Sob o título "O futuro da Seleção nas mãos de Janeth", Fernando Santos inicia mencionando a idade da estrela - 33 anos. E afirma que a jogadora é a sua própria ameaça, insinuando que ela estaria fora de forma ou cansada.

Para comprovar isso, utiliza-se de um único dado: a queda na sua média de pontos de 18,5 para 11,4 na temporada da WNBA. Só, só isso.

Continua (mais uma vez usando apenas o número de pontos assinalados) insinuando que a jogadora caiu de rendimento também na seleção, pois, nos amistosos, só contra a Austrália ela teria marcado mais de 10 pontos. Ignora assim que na partida que valia o bronze, Janeth marcou 10, e que no primeiro jogo com a Austrália, foram 27.

Prossegue citando coisas que só aconteceram na WNBA (Janeth ser utilizada como armadora e pivô) e arremata com uma pergunta absurda: "Mas ainda há pernas para isso?".

Faça-me o favor.

Janeth está entre as atletas que mais tempo ficou em quadra em toda a WNBA, o mesmo sempre aconteceu na seleção...Pernas? Pernas?

Para ele, o sucesso da seleção na China depende da "reserva de energia" de Janeth...

No entanto a legenda abaixo do quadro é a parte mais horrenda desse pesadelo.

A frase: "Nos bons tempos, Janeth era mortífera." não sai dos meus ouvidos. Que bons tempos foram esse? Janeth era mortífera? Era?

Segue: "Perigosa nos arremessos, até mesmo de três pontos..."

Os três pontos nunca foram o forte da atleta, em tempo algum.

E conclui:

"Aos 33 anos, o corpo já não reage tão bem, o que exige uma adaptação às novas limitações, como evitar contatos físicos."

Janeth fazendo corpo-mole?

Não, não acredito...

Realmente, acho que o basquete feminino merecia um texto melhor. Sei que é raro o feminino ser privilegiado com um texto, mas justamente por isso, esperávamos mais.

Infelizmente, por aqui, só nesses momentos (Mundial, Olimpíada), jornalistas se põe a falar do feminino.

Felizmente, na grande maioria das vezes estão errados.

Em 2000, todo mundo quis atirar pedra na Alessandra que abandonou a WNBA. Meio mundo disse que ela estava fora-de-forma. E ela calou a boca de quem escreveu o que quis, ao fazer um belíssimo torneio, incluindo a cesta (contra a Rússia) que nos colocou nas semifinais.

Bem, era isso.

Agora vou dormir.

Boa noite!

Bom Mundial pra gente e pra Janeth!

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