segunda-feira, 23 de setembro de 2002





É.

O sonho acabou.

Justo quando parecia tão real, tão próximo. Parecia tão natural uma medalha agora, que russas e americanas nos preocupavam mais que as coreanas, país com pior campanha neste Mundial entre as oito seleções classificadas.

Mas foi assim mesmo que aconteceu.

Esperávamos que uma medalha alterasse alguma coisa a crise que o basquete feminino atravessa no Brasil. Sonhávamos que pudéssemos repatriar nossas melhores atletas, hoje jogando no exterior, que pudéssemos impedir a fuga de talentos precoces, que pudéssemos impedir que o nível dos nossos campeonatos continue a cair pelas tabelas (quem viu Ourinhos e São Caetano, sábado, na Tv, sabe do que eu estou falando). E que com isso, partíssemos firmes e fortes para as Olimpíadas de 2004 e para o Mundial de 2006, dentro de casa.

Tudo ficou no sonho.

Ou melhor, virou pesadelo.

Pesadelo de madrugada de segunda-feira, quando uma tentativa de chute de três de Janeth deu aro, foi seguida por uma outra tentativa de Silvinha com o mesmo destino e ao zerar do cronômetro Cíntia encerrou o jogo com uma cesta de dois: Coréia 71 x 70 Brasil.

Uma derrota amarga que joga todo nossa campanha nas fases anteriores no lixo, que faz da vitória sobre as australianas mero detalhe, passado.

Restará a nós agora uma soporífera e difícil disputa pelo quinto lugar. Não sei se alguém tem cabeça para pensar nisso nesse momento, mas daqui a dois anos, isso pode ser importante para que possamos participar dos Jogos Olímpicos de Atenas.

Por irônica coincidência, essa derrota horrenda acontece no dia do aniversário de uma jogadora pródiga em conquistas e responsável por uma geração de apaixonados pelo esporte: Hortência. Ela mesmo parece já ter desistido da luta. Ex-jogadora, ex-dirigente de clubes resplandecentes de estrela, hoje, também por ironia, Hortência trabalha em uma sólida empresa de marketing esportivo. E o que dizer quando nem nossos ídolos acreditam na salvação do basquete feminino?

É.

Não há muito o que dizer, embora haja muito sendo sentido.

E se a confederação esperou inerte todos esse anos, apoiada na ilusão de que “em time que está ganhando, não se mexe”, talvez não exista melhor momento pra promover mudanças.

E infelizmente, nosso basquete precisa de muitas.

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