sábado, 2 de fevereiro de 2002

Leila Sobral

A televisão brasileira tem sido pródiga em produzir porcarias, inutilidades e baixarias. Entre o que de pior existente na TV certamente está qualquer programa apresentado pela Senhora Márcia Goldschimdt, uma especialista em revirar o lixo na frente de todos sem nenhum constrangimento aparente.



No seu "A Hora da Verdade", o limite da escatologia, do mau-gosto, da luta insana pela audiência está sempre a ser alcançado.

Na última semana, o basquete brasileiro foi uma das pautas desse show dos horrores.

A responsável por esse acontecimento foi Leila Sobral, que em mais um desacerto de sua carreira, resolveu expor seus dramas neste indelicado palco.

Não assisti ao programa que contou com a participação de Leila. Acho melhor assim. Talvez ficasse deprimido de vê-la numa situação tão humilhante. Talvez se repetisse a mesma sensação que tenho quando revejo o Mundial da Austrália (94): "Que jogadora o país perdeu!".

Há alguns anos insisto com conhecidos da imprensa esportiva para que fossem atrás de Leila. Achava que o assunto merecia ser discutido, que ela precisava ser ouvida, que seria benéfico para as novas atletas perceber como um descuido com a carreira pode ser fatal. Ninguém se interessou pela pauta. Hoje, acho que as coisas já ultrapassaram o limite do "conversável", do "resolvível". São cada vez menores as chances de Leila voltar a jogar, e, se voltar, dificilmente recuperará a beleza e a agilidade do seu basquete.

Leila apareceu cedo pro esporte. Era a irmã de Marta. Logo deixou de ser apenas isso. Aos 18 anos, foi campeã mundial na Austrália. De longe, a maior surpresa e a presença mais vibrante em quadra. Roubava bolas com uma facilidade incrível. Enlouqueceu as americanas no garrafão e deixou as chinesas de olhos abertos.

Não quero ser exagerado, mas nunca houve uma ala no basquete nacional como Leila. Espero que um dia haja.

Voluntariosa na defesa, precisa no ataque, infiltrava bem e formava uma dupla inspiradíssima com Janeth em Santo André.

Previa um futuro maravilhoso pra Leila.

O engraçado é que seu passado não registrava nenhum ato de indisciplina, de irresponsabilidade.

Me recordo de um único episódio em que a atleta se desentendeu com o presidente da Microcamp (por falar nisso, será que ele já pagou o que deve à Paula, Branca e Cláudia Pastor?), numa semifinal do Paulista 96, sendo suspensa do jogo.

Ela continuou sua trajetória, esteve nas Olimpíadas de 96 e no Mundial de 98.

Aí é que Leila perdeu o centro das coisas.

Perdeu o rumo.

Esteve na WNBA (Washington), mas foi dispensada antes do término da temporada. Assinou, então, com o basquete grego e foi para o Panathnaikos. Quando este clube esteve no Brasil para o Mundial Interclubes, Leila foi cortada em um dos jogos da equipe por indisciplina.

A trajetória em queda se completa em 1999, quando a atleta descartou uma convocação de Barbosa por motivos religiosos.

A atleta foi reintegrada à seleção no Pan-Americano. Estava longe da melhor forma física ou técnica, mas mesmo assim ainda dava prazer vê-la jogar.

No último jogo do torneio, se contundiu e é aí que tudo ficou nublado.

Leila não teve o apoio que desejava do COB para fazer sua cirurgia e recuperação do jeito que preferia, com seu médico de confiança, etc e tal.

Ingenuamente, protelou a operação, 'disfarçou' a contusão, tentando garantir um emprego no basquete paulista.

A ajuda veio pela pivô Karina, que com o patrocínio da Knorr, bancou a cirurgia de Leila.

Infelizmente, a 'preocupação' com as condições de Leila só reapareceram às vésperas das Olimpíadas de Sydney. A atleta não pode ir.

A penúltima aparição de Leila foi sua decisão de processar o COB por sua contusão.

Ninguém sabe se Leila vem se submetendo a fisioterapia, se o tratamento da lesão que já se arrasta para o terceiro ano vingará ou não...

Ela reaparece agora, grávida de 3 meses e dizendo querer voltar ao basquete.

É...

Muito triste, muito complicado, muito desanimador...

Chega a ser dolorida a ironia de que em um mesmo canal (a Tv Bandeirantes), em 94 eu tenha ouvido os gritos eufóricos de um atônito Luciano do Valle ("Leilááááá! Leilááááá!") e agora ouça as expressões pseudo-piedosas de dona Márcia: "Oh, Leila!"

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