quinta-feira, 27 de setembro de 2001

MICHAEL E MARIA

As notícias da volta do todo-poderoso Michael Jordan soaram abafadas nesses dias "Osama Bin Laden".

Mesmo assim, a volta do campeão me remete à volta daquela que, para alguns, foi a sua versão feminina: Hortência Oliva.
Dizem por aí dos esforços de MJ para voltar à WNBA: treinos árduos, perda de 14 quilos, etc. A Rainha-Cestinha enfrentou batalha semelhante. O nascimento do primogênito João Vítor, em 02 de fevereiro de 1996, não impediu que em julho do mesmo ano, Hortência estivesse defendendo a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Atlanta. E defendendo com competência, diga-se de passagem, como bem atestam seus números na campanha prateada e a sua maravilhosa atuação contra as russas. (No jogo contra as russas está, em minha opinião, um dos lances mais belos da história do basquete: uma triangulação de passes-assistência entre o trio Janeth-Paula-Hortência, que fecha a jogada com um tiro certeiro. Lembra?).
Nunca vi ninguém comentando isso (já tentei várias vezes entrevistar a Magrela para perguntar isso), mas a impressão que tenho é que Hortência jogou de maneira "diferente" nas Olimpíadas. Era uma atleta diferente, com uma postura muito serena em quadra, que chegava a beirar a frieza. Era uma atleta que não se culpava pelos seus erros. Uma atleta que ria e esbanjava felicidade mesmo com a derrota para as americanas na final. Reflexos da maternidade?

Mas hoje me inquieta ver Hortência longe do basquete. Sempre sobrou reclamação sobre a qualidade dos dirigentes do nosso basquete. E havia uma silenciosa esperança de que quando as atletas aposentadas (Branca, Paula e Hortência) ou não (Karina) assumissem a função, o panorama mudaria.

Branca se afirma a cada dia como uma excelente comentarista, mas seus planos de virar dirigente ou técnica ainda não vingaram. Magic Paula segue como diretora do Centro Olímpico, mas que falta ela faz no mundo do basquete! Karina tem acumulado frustrações na sua tentativa de ser jogadora-diretora.

Mas e Hortência?

Está certo que ela colecionou títulos também como dirigente. Em seis anos na função, o time passeou por várias praças. Oito no total: Paulínia (SP), Americana (SP), Santa Bárbara d'Oeste (SP), Fluminense (RJ), Vila Nova (GO), Curitiba (PR), Carapicuíba (SP) e Mangueira (RJ). Na última temporada, Hortência viu seu time-trailer apagar-se, sumir do mapa basqueteiro. Por falta de patrocínio, as portas se fecharam. Por ironia do destino, Hortência é diretora de uma poderosa agência de marketing esportivo.

No meio desta odisséia, temo que as novas gerações não assimilem a importância de Hortência para o esporte brasileiro. Temo que eles confundam as coisas, vendo-a toda semana na Revista Caras.

Mas, sem lamentações, serei direto: Já que Michael Jordan voltou, por que você não volta, Hortência? Não, não a jogar, mas a capitanear um projeto, mesmo que tímido inicialmente, sem grandes estrelas? Um núcleo de formação?

As quadras aguardam sua resposta.

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