Na semana passada o presidente da CBB, Guy Peixoto, se posicionou sobre a fracassada campanha da seleção feminina na Copa América, a classificatória para o Mundial de 2018.
Realmente não dá pra discordar.
Mas a mesma incompetência que caracterizou tais gestões também já deu as caras na condução dessa primeira competição sobre a "nova administração". Assim acho justo que outros envolvidos dividam a fatura com os célebres ex-presidentes.
Antônio Carlos Barbosa, o diretor
É no mínimo estranho que justamente a peça mais presente nas administrações agora culpadas pela derrocada do basquete feminino seja o escolhido para "resolver a situação".
O ex-treinador não apresenta credenciais para implementar as mudanças que a modalidade carece, justamente porque seu "sucesso" sempre esteve mais alinhado ao seu perfil político e conciliador.
Quando o estrangulamento da modalidade pede por uma forma nova de pensar e agir, o presidente Guy Peixoto escolhe como comandante o que há de mais arcaico nela. É desanimador.
É ainda complicado porque esse histórico faz do Sr. Barbosa uma força de potencial interferência sobre a comissão técnica. Quando o vi ali sentado no banco, pensei: "não vai dar". Pode ter sido apena o feng shui da organização do banco. Mas não, não deu.
Da boca do novo amigo de Barbosa, o técnico da seleção camaronesa Jean Claude Ntep veio uma definição precisa: "Ele é uma enciclopédia do basquete!".
Talvez seja ótimo mesmo. Principalmente para quem ainda estuda na Barsa.
Carlos Lima, o técnico
É difícil analisar a participação de Carlos Lima nessa empreitada.
O treinador aceitou uma missão em cima da hora, com jogadoras fora de atividade e sabia que tinha chances altas de fracassar. Uma disputa de vagas contra Canadá, Cuba e Argentina dentro de casa não era nada animadora para a atual seleção.
O sorteio de grupos e a má fase de Cuba até tentaram ajudar o novo comandante, mas não deu para vencer Porto Rico apenas com a sorte.
O que dá pra dizer é que Lima tentou um esquema de jogo que não se adequou ao material humano que ele tinha em mãos.
Embora parecesse até interessante a movimentação de ataque com trocas de passes rápidos no perímetro, seu time titular tinha duas laterais (Patty e Tati), que não vinham bem de pontaria nas últimas apresentações em clubes e na própria seleção e que não se apresentam para o jogo interno. Mesmo com resultado ruim, ele insistiu com a dupla, talvez por já ter trabalhado antes com ambas.
A dupla de pivôs titulares (Gil e Kelly) também não favorecia. Como as duas sobrevivem do jogo embaixo da cesta, ficou fácil para os adversários matar o jogo.
Completando o time titular (e a confusão), Carlinhos esteve embananado e indeciso entre os vícios e virtudes de Joice e Babi.
Um prenúncio do fracasso surgiu nos amistosos contra a seleção angolana. O mesmo time que deu trabalho à seleção brasileira venceu por 2 pontos o time juvenil do Bradesco (Osasco) e foi superado por vinte pontos por uma desfalcada equipe de Santo André.
Com esquema tático pobre e orientações vagas, Carlos Lima deixa uma má impressão na execução de uma tarefa para a qual parecem ter faltado experiência, competência e liberdade.
As jogadoras
Apesar do ambiente interno caótico do basquete feminino, já passou da hora de as jogadoras também vestirem a carapuça.
Temos uma geração de atletas que alcançou a façanha de apresentar um basquete medonho com sete técnicos diferentes.
É inadmissível que para elas esteja "tudo bem" e que o resultado tenha sido "normal", quando estamos falando da derrota de um time que tem atletas profissionais (o Brasil) contra outros nos quais a maioria é amadora (Ilhas Virgens e Argentina, para citar apenas dois exemplos).
As armadoras Babi e Joice, embora façam uma dupla no clube, em que a lentidão de uma se ampara na velocidade da outra e a visão de jogo de uma alimenta a ousadia da outra, não tem se apresentado bem em oportunidades prévias na seleção e andam algo acomodadas na LBF. Ambas comandaram mal o time e arremessam muito mal. Não dá pra continuar se sustentando apenas da visão de jogo (Babi) e da vontade (Joice). O basquete - especialmente em uma seleção brasileira - é mais que isso.
A caçula Izabela Nicoletti é cercada por uma expectativa enorme. De longe a impressão é que ela tem carregado essa cobrança para a quadra e se apresentado muito tensa. Tão tensa que após participar de 2 Copas Américas Adultas, Nicoletti soma 1 ponto.
Nas alas, é gritante a involução da dupla titular na maioria dos jogos. Tatiane passou 12,2 pontos em média na Copa América 2013 para 5 nessa. Patrícia de 7.3 para 3,4.
Na reserva, se esperava um pouco mais de Ramona após sua primeira temporada na Espanha, em que pese o fato de ela estar voltando de contusão. Ainda é uma jogadora que erra bastante.
Sobre a veterana Jaqueline já foram tantas as oportunidades e o rendimento sempre tão baixo, que é de se estranhar a insistência.
A jovem Raphaella Monteiro (outro presente do incansável Guilherme Vos ao ingrato basquete) foi das poucas que se salvaram das trevas. Lamenta-se apenas que o treinador tenha demorado algumas rodadas para perceber isso e que a tenha usado na posição 4, repetindo um equívoco do ex-clube da ala.
Entre as pivôs, a veterana Gil foi ao lado da jovem Letícia o a metade mais agradável do garrafão.
Êga, aos quase 40 anos, é uma atleta que faz um esforço muito grande na atual conjuntura para se manter no mercado e para jogar uma competição nível LBF. Considerar que isso a credencia a estar na seleção é um equívoco sem tamanho.
Por fim, a falta de rumos e formas do basquete de Kelly é evidente pelo menos na última uma década. Estranhamente é outra que continua. Se a fraca performance dentro de quadra já não é novidade, choca a ausência de auto-crítica. Após a derrota no jogo do bronze, a pivô acreditou que o fato de ter sido cestinha contra as porto-riquenhas lhe dava salvo conduto e se apressou em despejar nas redes sociais expressões como "os críticos que me engulam" e "fiz a minha parte".
Só faltou engrossar o coro de Guy, acrescentando um "A Culpa é do Nunes!".
Do lado de cá, talvez seja melhor encerrar o assunto (ou a modalidade?), inocentar todo mundo e botar a culpa em Magic Paula Hortência, Janeth, Marta, Vânia Hernandes, Alessandra, Maria Helena Cardoso, Heleninha e tantas outras... Elas nos acostumaram muito mal.