sábado, 23 de setembro de 2006

Debilitado, Brasil pega EUA por bronze

Alessandra, Erika e Janeth sofrem com lesões, mas querem jogar hoje por retorno ao pódio no Mundial de basquete

Norte-americanas, que perderam invencibilidade de 12 anos em Olimpíadas e Mundiais, querem se vingar de vaias da torcida brasileira



ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL


Não poderia ser pior o adversário para a seleção hoje, em sua tentativa de voltar ao pódio no Mundial feminino de basquete. Os EUA, dois dias após perderem a hegemonia na modalidade para a Rússia, prometem descontar suas frustrações em cima do elenco nacional. O jogo será às 9h30, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Anteontem, as norte-americanas viram cair um retrospecto de 12 anos e 50 jogos sem perder em Mundiais e Olimpíadas. Nesse período, o time conquistou três ouros olímpicos e um bicampeonato mundial.
A Rússia venceu por 75 a 68. Além da derrota, o time ficou irritado com os apupos a cada ataque norte-americano e os gritos de incentivos às russas.
"A torcida foi exageradamente ruidosa contra nós. Poucas pessoas nos incentivaram. Deixamos aquilo para trás e agora vamos buscar a medalha", conta a armadora Katie Smith.
Fora da decisão, os EUA encaram a partida de hoje como uma final particular. "Agora o bronze vale muito. Vamos jogar como se fosse pelo ouro", declara a armadora Sue Bird. O Brasil tem visão parecida. "Será a nossa final. Para esse grupo, uma medalha vai significar muito", diz a armadora Helen.
O problema é que o Brasil entra em condição precária para buscar uma medalha que não vê desde a conquista do Mundial da Austrália, em 1994.
O principal desfalque pode ser Alessandra, quarta melhor reboteira do Mundial, com média de 8,5 por jogo. A pivô foi atingida no ombro durante disputa de rebote contra a Austrália, anteontem, e é dúvida.
"É uma tendinite no bíceps esquerdo. Tratamos com antiinflamatório e fisioterapia. Mas só poderemos avaliá-la amanhã [hoje]", disse o médico Carlos Eduardo Marques.
Alessandra fala que se esforçará para jogar. "Pode ser minha última partida pela seleção", diz ela, titular há 12 anos.
A segunda opção para o setor, Erika, também não está bem. A pivô, que se recuperou de torção no tornozelo esquerdo, agora está com as unhas soltas dos dedões dos dois pés. "Se fosse hoje [ontem], ela não jogava", afirmou Marques.
O quarto que divide com Alessandra já ganhou o apelido de "enfermaria". "Brinco que somos a dupla sertaneja Acabada e Destruída", diz Alessandra.
Janeth, que sofreu torção no tornozelo direito contra o Canadá, na segunda fase, ainda sofre com dores, mas deve jogar. "Não estou 100%", admite ela.
O ocaso do "Dream Team" norte-americano também deve complicar a classificação do Brasil para Pequim-08. Os EUA disputarão o Pré-Olímpico de Valdivia (Chile), em 2007, atrás da única vaga das Américas.
Caso não assegure lugar, a seleção terá que jogar o Classificatório Mundial, que será às vésperas da Olimpíada e concede cinco vagas a Pequim-08.
"Erradamente, o público torceu para a Rússia. Isso complicou o Pré-Olímpico para nós", lamenta o técnico Antonio Carlos Barbosa, que dá a receita para surpreender as norte-americanas hoje. "Elas são muito rápidas e agressivas. Não podemos cair na correria delas."

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NA TV - Brasil x EUA Globo, ESPN Brasil e Sportv, ao vivo, às 9h30

Horário muda, e torcedor pode ser indenizado

DA REPORTAGEM LOCAL

O torcedor menos atento pode acabar perdendo a disputa do Brasil pelo bronze, hoje, às 9h30. Isso pode acontecer porque o horário do jogo, inicialmente programado para as 11h, foi modificado após o resultado de Brasil x Austrália, na quinta.
Anteontem, bilhetes da disputa do bronze vendidos nas bilheterias do ginásio do Ibirapuera traziam estampados o horário das 11h. O site da Ingresso Fácil (www. ingressofacil.com.br), que comercializa entradas para os jogos do Mundial, estampava ontem, na página de vendas, também 11h.
De acordo com a assessoria de imprensa da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), organizadora do torneio, os horários foram modificados para atender a uma solicitação não apenas da TV Globo como de diversas emissoras no mundo inteiro.
"O consumidor que não puder assistir ao jogo no novo horário ou que chegar atrasado por não ter sido informado terá que ser restituído com o valor do preço do ingresso", afirmou Paulo Arthur Góes, diretor de fiscalização do Procon.
O preço de ingressos para alguns setores aumentaram para os dois jogos de hoje. As arquibancadas permanecem A R$ 20. Já o valor da arquibancada superior é R$ 40, e o das cadeiras inferiores, R$ 70. Estudante, com apresentação de carteirinha, paga meia-entrada.
Não é a primeira vez que a organização do Mundial modifica os horários dos jogos. Na segunda fase do torneio, a seleção brasileira, classificada em segundo no Grupo A, jogaria às 14h do sábado.
O horário foi mudado, e a equipe nacional teve que entrar em quadra às 9h30.
"Desde o início, já se sabia que o Brasil iria jogar às 9h30 no final de semana por causa da TV", afirmou Gerasime Bozikis, o Grego, presidente da CBB, em entrevista na semana passada. "A gente pode perder público por causa ao horário dos jogos. Mas milhões de pessoas estão vendo o basquete na TV aberta."

Única a atuar no país rival, Iziane é "espiã"


DA REPORTAGEM LOCAL

Para surpreender os EUA hoje, na disputa do bronze, o técnico Antonio Carlos Barbosa conta com uma espiã dentro do elenco: a ala-armadora Iziane, 24, única do elenco que disputou a última temporada da WNBA (liga norte-americana).
"Conheço todas elas. Sei dos pontos fortes e dos fracos. Inclusive da treinadora [Anne Donovan], que me dirigiu no Seattle", gaba-se a brasileira.
Além da técnica, Iziane teve como companheira de quadra a armadora Sue Bird, dos EUA, e a ala Lauren Jackson, principal estrela da finalista Austrália.
"Ainda não falei nada porque o Barbosa ainda vai passar o vídeo. Mas ele sempre abre para as jogadoras falarem", conta Iziane, cestinha brasileira, com média de 17,4 pontos por jogo.
A jogadora tem até explicação para o fato de a Rússia ter derrotado os EUA na semifinal.
"Em uma entrevista da Anne [Donovan], ela disse que os EUA estão acostumados a enfrentar times que chegam derrotados, com medo", conta.
"Para ela, o grande trunfo para enfrentá-las é jogar de igual para igual. Mostrar o seu valor. A Anne disse que, se alguém fizesse isso, ameaçaria a hegemonia norte-americana. Foi o que a Rússia fez", complementa a brasileira, que promete repassar o texto por e-mail para o resto do elenco.

Australianas e russas buscam feito inédito

DA REPORTAGEM LOCAL

Rússia e Austrália jogam hoje, às 14h, pelo título do Mundial e por façanha inédita.
A Austrália tenta se consagrar com um troféu que nunca ergueu. O time foi semifinalista de todos os Mundiais e Olimpíadas dos últimos 12 anos. Mas nunca subiu ao topo do pódio.
Já a Rússia, independentemente de ter quebrado a invencibilidade dos EUA, também tenta sua primeira conquista.
Como União Soviética, o time ganhou duas Olimpíadas e seis Mundiais. Nos estertores do regime, ainda amealhou novo ouro, como Comunidade dos Estados Independentes, nos Jogos de Barcelona, em 1992.
Já como Rússia, atingiu as finais dos Mundiais de 1998 e 2002, mas caiu diante dos EUA. Por isso, o triunfo de anteontem serve de trunfo agora.
"Depois dessa vitória, não creio que alguém possa nos parar", argumenta Ilona Korstin.
A Austrália festeja não pegar os EUA, rival que a derrotou nas últimas duas decisões olímpicas (2000 e 2004), mas tem seus cuidados. "As russas têm uma transição muito boa. Nosso time precisará de atenção especialmente na defesa e nos rebotes", analisa Jan Stirling, técnica da seleção.


Fonte: Folha de São Paulo

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