sábado, 4 de fevereiro de 2006

Sorteio cria uma armadilha

Alessandro Lucchetti

Brasil pega chave favorável na fase preliminar do Mundial feminino, mas deverá ter sérias dificuldades ao chegar às quartas-de-final
O sorteio que formou as chaves da 15ª edição do Campeonato Mundial feminino de basquete, que será disputado em setembro, em São Paulo e Barueri, foi ingrato para a seleção brasileira. O Brasil caiu em um grupo razoável na fase preliminar, o “A” ao lado da Espanha (terceira colocada no Europeu), Coréia do Sul e Argentina. A estréia, no dia 12, será contra a freguesa Argentina, no ginásio do Ibirapuera.

Na fase de oitavas-de-final, as três equipes classificadas do grupo A vão se juntar às qualificadas do B, formado por Austrália, Lituânia, Canadá e Senegal. Os times carregam a pontuação da fase preliminar.

O grande problema é que a maior parte das grandes potências do basquete caiu no outro lado da chave, os grupos C e D. É desses grupos que sairão os adversários das equipes provenientes do “A” e “B” nas quartas-de-final, disputadas em formato de mata-mata.

De tão forte, o grupo “C” recebeu o apelido de “Terceira Guerra Mundial” dos dirigentes que assistiram ao sorteio, em um hotel na capital paulista. Estados Unidos, Rússia e China, além da apenas esforçada Nigéria, formam o grupo.

O técnico da seleção brasileira, Antonio Carlos Barbosa, vê perigos no caminho que sua equipe terá pela frente. “Esse negócio de sorteio engana muito. Caímos em um grupo legal na primeira fase, mas nas quartas-de-final corremos o sério risco de ter pela frente uma China ou uma República Tcheca, campeã européia. O ideal seria que enfrentássemos mais potências na fase de oitavas-de-final, para não termos de encará-las nas quartas, que é decidida em um jogo apenas”.

Olho em Valdemoro

A primeira fase não mete medo no treinador. “A Espanha é a terceira força da Europa, tem boa defesa e uma jogadora, a Amaya Valdemoro, capaz de ganhar sozinha”, afirma. “A Coréia nos eliminou no último Mundial, mas ficou em último na Olimpíada. A Argentina não pode causar problemas”.

Estrelas não aparecem


A briga entre dirigentes da NLB e da CBB respingou na divulgação do Mundial feminino de basquete. Paula e Hortência, os dois maiores nomes da história do basquete feminino brasileiro e verdadeiras embaixatrizes da modalidade, ignoraram o convite da CBB e não apareceram no sorteio. As duas são ligadas à Nossa Liga.

O próprio secretário-geral da Fiba, o suíço Patrick Baumann, sentiu a ausência das estrelas. “O normal seria esperar que estivessem aqui. Nem pensaria que não participariam”.

O presidente da CBB, Gerasime Bosikis diz que convidou todas as campeãs de 94.


Ourinhos fatura bicampeonato do Nacional


Alessandro Lucchetti

Com sete patrocinadores e elenco sem concorrentes, equipe do sudoeste paulista conquista com facilidade o inédito bi do Brasileiro feminino

Como se esperava, Ourinhos conquistou ontem o inédito bicampeonato do Nacional feminino de basquete. A equipe do sudoeste paulista liqüidou a série final em 3 a 0 ao bater o São Caetano, no ginásio Joaquim Cambaúba Rabello, no ABC, por 70 a 55.

Foi a final mais sem graça da história do Nacional. Ourinhos não perde em jogos disputados no Brasil desde janeiro do ano passado. Trata-se de uma série invicta de 48 duelos.

Resignado, o técnico do São Caetano, Norberto da Silva, o Borracha, contentou-se por ter proporcionado alguma dificuldade às adversárias, apesar de não ter perdido nenhuma partida das finais por menos de 15 pontos. “Ao menos fomos um bom sparring para Ourinhos”, afirmou o treinador, que pede a volta do ranqueamento para reequilibrar as forças.

O ranqueamento era um sistema que conferia pontuação a cada jogadora, criado depois de a Ponte Preta ter dominado a modalidade, contando com Paula e Hortência. Segundo esse sistema, que ainda existe no vôlei, as equipes não poderiam extrapolar um teto de pontos.

Antônio Carlos Vendramini, o técnico de Ourinhos, não é favorável à volta do ranqueamento. “Hoje não há patrocinadores suficientes nas outras equipes para pagar as jogadoras que sairiam de Ourinhos por força do ranqueamento. Elas iriam para onde?”

Vendramini preferiu destacar seu currículo recheado: em oito decisões do Nacional, ele esteve presente em sete e conquistou quatro títulos.

Somando-se os títulos do Campeonato Nacional aos da Taça Brasil, competição que precedeu o Nacional, “Vendra” chega ao expressivo número de dez conquistas. Ele possui também dez títulos paulistas.

Micaela vai para a Polônia

Micaela, cestinha do jogo de ontem com 23 pontos e eleita a jogadora mais valiosa do campeonato (MVP), assinou um contrato de três meses com o Pabianice, da Polônia, mesma equipe da armadora Karla. A supremacia de Ourinhos é tão destacada que ela acha até desnecessária a contratação de outra atleta para substituí-la. “Acho que nem precisa, né?”

A ala de 26 anos, considerada a principal jogadora em atividade no País, diz que a manutenção da invencibilidade foi uma meta da equipe. “Nosso time investiu bastante. A gente tinha que entrar para ganhar todas. Se perdêssemos uma, iriam criticar muito a gente”.

Mecenas distribui grana e festeja fim do sofrimento


Muita gente pode estar insatisfeita com o fim da competitividade do Nacional devido ao amplo domínio de Ourinhos. Não é o caso do usineiro Francisco Quagliato, 70 anos.

“Seu Chico” paga salários de Micaela, Ega e Lilian. O mecenas de Ourinhos já foi o responsável pela remuneração de Janeth no Nacional de 2004.

Mesmo sem necessidade, Quagliato incentivou Ourinhos na final com um bicho de R$ 10 mil por atleta.

O campeonato não despertou emoção, mas Quagliato não reclama. “A gente já sofreu muito antes de ganhar”. A paixão pelo basquete começou há cinco anos, quando Quagliato ficou viúvo. “Comecei a ver os jogos e passei a gostar de basquete. As meninas me tratam como um pai. Quem não gosta de ser bem tratado?”

O próximo investimento de Quagliato deve ser a permanência de Lisdeivi, pretendida por um clube tcheco.


Fonte: Diário de São Paulo





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