terça-feira, 18 de outubro de 2005

Não consegui sair para o trabalho hoje antes de ler a FOLHA.

E a coluna de Melchiades hoje é de desapertar o nó na garganta. Pelo menos, o meu.

Obrigado, Melk!


Casa arrombada

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


A "casa do basquete" caiu; a máscara do presidente Gerasime Bozikis também.
Na semana passada, a confederação anunciou que as portas da seleção estarão fechadas para os atletas que não aceitarem disputar o torneio que ela organiza.
O golpe baixo nasceu como retaliação à NLB, campeonato interclubes independente que dará largada na próxima terça-feira.
Foi a primeira vez que o cartola ajustou a metralhadora em público e mirou nas quadras.
Até então ele agia no bastidor, com discrição, pressionando as equipes para que não migrassem.
Cerca de 300 jogadores serão atingidos em cheio pelo decreto.
Bozikis evidentemente tenta chantageá-los a rescindir com os clubes "rebeldes".
Mostra que está disposto a tudo para preservar sua autoridade, inclusive a comprometer as chances do Brasil de se reerguer nos Mundiais de 2006 e na Olimpíada de 2008 (é um contra-senso um país que vem de seguidos insucessos no cenário internacional enxugar o universo de convocáveis).
Acaba, com isso, reconhecendo a insinceridade de seu discurso de posse apaziguador, de suas promessas de transformar a confederação na "casa do basquete".
O dirigente, pelo contrário, negou abrigo, um por um, aos que escreveram a história do esporte.
Entre os sem-teto estão Oscar, Paula e Hortência, os três principais ídolos do país, unidos na administração da liga autônoma.
Estão Miguel Ângelo e Ary Vidal, os treinadores que, junto com o legendário Kanela, responderam pelas principais conquistas de nossas seleções adultas.
Estão Wlamir Marques e os demais heróis do bicampeonato mundial, de quem a CBB só se lembra nas efemérides e enterros.
Está Nenê, nosso principal jogador, que se revoltou quando soube que teria de pagar pedágio para que pudesse atuar na NBA.
Possivelmente estará Janeth, nossa principal jogadora, que já avisou que pretende atuar em um time da NLB no ano que vem.
Estão Marcel, Paulo Bassul, Maria Helena Cardoso e muitos outros que um dia ousaram defender correções de rumo.
Quem hoje desfruta do ar-condicionado da "casa do basquete" são pessoas com trajetórias minúsculas, nomes como bob, lula, manteiga, toni, chaim... Alguém aí já ouviu falar desses "craques"?
Nenhuma outra confederação no Brasil emprega ferramentas tão autoritárias e dispensa tão violentamente as lições do passado e as possibilidades do futuro.
Resta saber até quando a Eletrobrás, estatal de um governo que no palanque prometeu transformações sociais, vai seguir financiando esse grande caso de coronelismo do esporte nacional.
Ou até quando o Sportv, que tantos esforços jornalísticos tem feito para merecer o slogan de "canal campeão", vai continuar a estender os braços para cartolas que representam o atraso.
Ou até quando empresas como Telemig, Philips, Dix Amico, Unimed, Conti etc vão manter seu patrimônio no mesmo endereço.
A legítima família do basquete, por iniciativa própria ou porque não teve escolha, já se mudou.

Pé-de-cabra 1

A CBB mentiu ao atribuir à federação internacional o veto aos jogadores da Nossa Liga. O reconhecimento só depende dela, CBB.

Pé-de-cabra 2

A CBB errou ao dizer que a "sanção" um dia foi aplicada à NBA e que, por isso, Oscar não pôde atuar na liga americana nos anos 80. A verdade é que o movimento olímpico não permitia na época a participação de atletas profissionais, no basquete ou qualquer outro esporte.

Pé-de-cabra 3

Os técnicos lambe-botas que encamparam a chantagem da CBB são os mesmos que, em seus clubes, vão se fartar quando a massa de jovens talentos forjada pela Nossa Liga quiser sonhar com a seleção.

E-mail melk@uol.com.br

Fonte: Folha de São Paulo

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