Anistia internacional
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O Panamá não tem uma liga profissional. Não há nem mesmo um campeonato nacional amador. Os atletas procuram sustento no exterior ou mantêm a forma em torneios de bairro.
Para piorar, dos 12 convocados originalmente, metade inventou desculpas e pediu dispensa.
Restou um catado sem noção de jogo, obcecado pelos arremessos de longa distância, e sem capacidade física, mais baixo e leve do que todos os nove adversários.
Ainda assim Nolan Richardson, 63, salivou. Ao imprevisto do telefonema, respondeu com um sim ainda mais surpreendente.
O norte-americano, aposentado havia três anos, desembarcou, incógnito, no Panamá em 8 de agosto. Em 2 de setembro, de novo uma celebridade, apertou a mão dos comandados, cumprimentando-os pela vaga no Mundial, proeza sonhada desde 1982.
A seleção chegou à República Dominicana na madrugada de estréia, a fim de economizar despesas. Perdeu, naturalmente, para os EUA. Mas se recuperou e pegou embalo. Venceu as últimas quatro partidas e fechou a Copa América com campanha idêntica à do campeão Brasil (5v e 3d).
O grande trunfo de Richardson foi ter convencido o time de que o esporte mudou. Que, em virtude da explosão atlética, ele hoje exige um sistema de jogo ao mesmo tempo instintivo e cerebral.
Único técnico com o troféu das três principais divisões do circuito universitário norte-americano (NCAA, NIT e JuCo), ele vendeu com sucesso o que chama de "inferno durante 48 minutos":
* Marcação pressão o tempo todo, seja individual seja por zona;
* Proteção total ao garrafão;
* Troca veloz de passes, sempre a fim de se achegar à cesta;
* Arremessos de pouco risco;
* Rodízio intenso de jogadores.
Não à toa, os panamenhos foram os que menos apelaram para os chutes de três pontos (14,2, a metade exata dos brasileiros) e os que mais capturaram rebotes.
Seu sucesso reacendeu no Brasil a idéia de confiar a seleção a um estrangeiro. Principalmente porque Richardson aceitou o desafio de graça -não cobrou salário nem prêmio pelo empenho que durou 26 dias e valeu 24 anos.
Ok, o Brasil continua de olhos fechados à nova realidade, apesar das seguidas chineladas em competições de alto nível. A turma que passou anos censurando o legado "individualista" de Oscar & Marcel hoje se ampara em títulos meia-boca conquistados à base dos mesmos contra-ataques e tiros suicidas (antes revolucionários, atualmente caducos).
Mas não se trata aqui de um problema de nacionalidade -e, sim, de atitude. Nossos vizinhos, por exemplo, modernizaram seu basquete e alcançaram a prata no Mundial-02 e o ouro na Olimpíada-04 com um técnico doméstico.
Sergio Hernández, atual titular do posto, passou a semana passada trancafiado em casa. Assistia a todos (TODOS) os 39 jogos da Copa América para tirar lições.
O que fazia nosso Lula Ferreira enquanto o colega argentino mirava o Mundial do ano que vem? Administrava a correria da equipe de Ribeirão Preto, um de seus outros três empregos, em Bauru.
O Brasil e o mundo 1
A Copa América, a partir de amanhã, é uma boa chance de avaliar o jogo da ala Micaela e da pivô Ega, importantes para o Mundial-2006.
O Brasil e o mundo 2
Janeth deu adeus ao sonho do penta. O Houston caiu sábado, nas semifinais. Sacramento e Connecticut vão duelar pela taça da WNBA.
O Brasil e o mundo 3
Hortência caprichou -no espirituoso discurso de posse, lembrou que tem nome de flor, nasceu no primeiro dia da primavera em Potirendaba (ramalhete, em tupi) e recebeu a homenagem em Springfield (campo primaveral, em inglês). Os americanos não -erraram a grafia do nome e o número da camiseta eternizados no Hall da Fama.
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O Panamá não tem uma liga profissional. Não há nem mesmo um campeonato nacional amador. Os atletas procuram sustento no exterior ou mantêm a forma em torneios de bairro.
Para piorar, dos 12 convocados originalmente, metade inventou desculpas e pediu dispensa.
Restou um catado sem noção de jogo, obcecado pelos arremessos de longa distância, e sem capacidade física, mais baixo e leve do que todos os nove adversários.
Ainda assim Nolan Richardson, 63, salivou. Ao imprevisto do telefonema, respondeu com um sim ainda mais surpreendente.
O norte-americano, aposentado havia três anos, desembarcou, incógnito, no Panamá em 8 de agosto. Em 2 de setembro, de novo uma celebridade, apertou a mão dos comandados, cumprimentando-os pela vaga no Mundial, proeza sonhada desde 1982.
A seleção chegou à República Dominicana na madrugada de estréia, a fim de economizar despesas. Perdeu, naturalmente, para os EUA. Mas se recuperou e pegou embalo. Venceu as últimas quatro partidas e fechou a Copa América com campanha idêntica à do campeão Brasil (5v e 3d).
O grande trunfo de Richardson foi ter convencido o time de que o esporte mudou. Que, em virtude da explosão atlética, ele hoje exige um sistema de jogo ao mesmo tempo instintivo e cerebral.
Único técnico com o troféu das três principais divisões do circuito universitário norte-americano (NCAA, NIT e JuCo), ele vendeu com sucesso o que chama de "inferno durante 48 minutos":
* Marcação pressão o tempo todo, seja individual seja por zona;
* Proteção total ao garrafão;
* Troca veloz de passes, sempre a fim de se achegar à cesta;
* Arremessos de pouco risco;
* Rodízio intenso de jogadores.
Não à toa, os panamenhos foram os que menos apelaram para os chutes de três pontos (14,2, a metade exata dos brasileiros) e os que mais capturaram rebotes.
Seu sucesso reacendeu no Brasil a idéia de confiar a seleção a um estrangeiro. Principalmente porque Richardson aceitou o desafio de graça -não cobrou salário nem prêmio pelo empenho que durou 26 dias e valeu 24 anos.
Ok, o Brasil continua de olhos fechados à nova realidade, apesar das seguidas chineladas em competições de alto nível. A turma que passou anos censurando o legado "individualista" de Oscar & Marcel hoje se ampara em títulos meia-boca conquistados à base dos mesmos contra-ataques e tiros suicidas (antes revolucionários, atualmente caducos).
Mas não se trata aqui de um problema de nacionalidade -e, sim, de atitude. Nossos vizinhos, por exemplo, modernizaram seu basquete e alcançaram a prata no Mundial-02 e o ouro na Olimpíada-04 com um técnico doméstico.
Sergio Hernández, atual titular do posto, passou a semana passada trancafiado em casa. Assistia a todos (TODOS) os 39 jogos da Copa América para tirar lições.
O que fazia nosso Lula Ferreira enquanto o colega argentino mirava o Mundial do ano que vem? Administrava a correria da equipe de Ribeirão Preto, um de seus outros três empregos, em Bauru.
O Brasil e o mundo 1
A Copa América, a partir de amanhã, é uma boa chance de avaliar o jogo da ala Micaela e da pivô Ega, importantes para o Mundial-2006.
O Brasil e o mundo 2
Janeth deu adeus ao sonho do penta. O Houston caiu sábado, nas semifinais. Sacramento e Connecticut vão duelar pela taça da WNBA.
O Brasil e o mundo 3
Hortência caprichou -no espirituoso discurso de posse, lembrou que tem nome de flor, nasceu no primeiro dia da primavera em Potirendaba (ramalhete, em tupi) e recebeu a homenagem em Springfield (campo primaveral, em inglês). Os americanos não -erraram a grafia do nome e o número da camiseta eternizados no Hall da Fama.
Fonte: Folha de São Paulo
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