Entrevista com Magic Paula no Databasket
Maria Paula Gonçalves. Magic Paula para os amantes dos basquete. Ela, ao lado de Oscar e Hortência (sua companheira nos melhores tempos de seleção) agora se concentra em um projeto ambicioso e tortuoso para o esporte brasileiro: a formação da Nossa Liga de Basquetebol, a NLB, que ainda encontra resistência por parte da Confederação Brasileira de Basketball. Nesta entrevista Paula fala de NLB, Centro Olímpico de São Paulo (que ela dirige), basquete feminino e masculino, política e até de espiritismo.
1- Você, ao lado de Oscar e Hortência, é uma das organizadoras da NLB (Nossa Liga de Basquetebol). Como você avalia a resistência da Confederação Brasileira de Basquete ao projeto?
R: Desde o inicio nós sabíamos desta resistência. Acho muito normal, já que esta Liga não seria só uma ameaça a CBB, mas às demais Confederações. Algo que já acontece no mundo todo poderia dar certo aqui, incentivando outras pessoas a liderar este movimento.
2: Matéria veiculada na ‘Folha de S. Paulo’ no dia 05 de agosto dá conta que “uma nova regra internacional ameaça a Liga de Oscar”. Como a cúpula da NLB reagiu a isso? Vocês já tinham conhecimento ou foi algo inédito?
R: Sobre estas questões jurídicas, cabe ao advogado da NLB resolver.
3- É exagero afirmar que atualmente o basquete nacional vive a sua pior fase? Não seria o momento de todos unirem forças? Até quando confederação, ex-jogadores e presidentes de federação caminharão em direções opostas?
R: Na minha opinião o Basquete sempre foi desunido, por isso acredito no sucesso da NLB, movimento que tem seus principais ídolos envolvidos e com a oportunidade de que os clubes também sejam participativos. Apesar de termos tido no passado alguns presidentes da CBB que também não souberam aproveitar os momentos em que o basquete viveu, hoje estamos nos deparando com uma cúpula centralizadora em demasia. A NLB queria o aval da CBB, só que não conseguiu sequer ser recebida.
4: Muita gente gostaria que você fosse mais atuante no basquete. Seu nome, em várias pesquisas de opinião, foi um dos mais citados para a presidência da entidade máxima do esporte. Já pensou em ser presidente da CBB?
R: Não. Sempre penso que o basquete poderia estar em melhores condições, com uma administração profissional e transparente. Acredito que muitos já poderiam ter feito isso, mas esperar que nós, Hortência, Oscar e eu, tenhamos oportunidades de participar, de colaborar com o basquete, não passa pela cabeça deles. Não interessa.
5: O basquete feminino conquistou um título mundial em 1994 e medalhas olímpicas em 1996 e 2000. No entanto, ao contrário dos homens, que não conseguiram a classificação em Sidney e Atenas, a Confederação parece deixar as meninas de lado. Existe alguma explicação lógica para isso?
R: Sim. Ainda vivemos em um país machista, em que a maioria das confederações são administradas por homens. Eles acreditam que mulheres não foram feitas para fazer esporte. A cada Olimpíada eles podem sentir e perceber a força da mulher, principalmente da mulher brasileira.
6: O que falta ao basquete brasileiro para que ele se desenvolva no país?
R: Que as pessoas que administram as entidades ligadas a modalidade pensem no basquete e não no crescimento pessoal. O esporte é profissional e deve ser administrado como tal.
7: No debate da ESPN Brasil, há quase cinco anos, você denunciou a maneira como a escala de árbitros era feita por parte da Federação Paulista. Algo mudou?
R: Fui ameaçada de várias maneiras. Infelizmente o esporte no nosso país ainda é um feudo.
8: Sua passagem no Ministério dos Esportes, “comandado” por Agnelo Queiroz, acabou de maneira conturbada. Você se arrepende de ter aceitado o cargo público?
R: Os cargos públicos podem ser interessantes quando a cobrança pelo desempenho dos indivíduos for técnica e não política. Este é um dos motivos pelos quais o nosso país e o esporte brasileiro seguem a passos de tartaruga. Vivo uma experiência no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, na cidade de São Paulo, local que estive na última gestão do PT e agora com um surpreendente convite do PSDB para voltar, que pode ser diferente. A experiência tem sido fantástica.
9: Como é o seu trabalho à frente do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa paulista?
R: Eu administro o Centro, atualmente com 10 modalidades, 725 atletas, 43 técnicos e 81 funcionários. Todas as modalidades disputam campeonatos das federações e o local é custeado pela Prefeitura do Município de São Paulo. Os atletas recebem lanche após as atividades, transporte, além de assistência médica, odontológica, psicológica, assistente social e fisioterapia.
10: Como você recebeu a notícia de que a TV Globo iria transmitir amistosos das nossas seleções? Será que nosso esporte está fazendo por merecer?
R: Tenho minhas dúvidas, prefiro não acreditar em outras estratégicas. Melhor não dizer o que penso.
11: Sua irmã, Branca, tornou-se técnica neste Campeonato Paulista. Você pensa ou já pensou em seguir o mesmo caminho?
R: Não. Porque o que me fez sair das quadras foi a ausência da minha vida, ser dona do meu nariz. Sendo técnica continuaria vivendo desta maneira. Não é porque me destaquei como atleta que seria uma grande técnica, esta não tem sido a regra em todas as modalidades.
12: Você jogou sob a orientação de vários técnicos. Como você avalia os treinadores brasileiros atualmente?
R: Sofremos os mesmos problemas de renovação na parte técnica, acho os nossos técnicos desunidos, não querem passar conhecimentos, cada um vive pensando no seu. Algumas oportunidades para que sejam técnicos das seleções acontecem não por capacidade, mas politicagem. Isso é mal!
14: Reconhecidamente você é uma amante da boa leitura. Que livro você recomendaria às seguintes pessoas: Grego, Antonio Chakmati, Antonio Carlos Barbosa e Iziane, nossa melhor jogadora atualmente.
R: Não quero ser exemplo para ninguém, simplesmente acredito que estamos nesta etapa da vida de passagem, aprimorando o nosso ser, passando por experiências necessárias. Como tudo na vida, a leitura é prazer. Eu sempre fiz as coisas na minha vida com prazer.
Ler é crescimento, indicar livros é como indicar filmes, cada um tem a sua preferência, o que é bom para mim, talvez não seja bom para eles.
15: Em reportagem da ‘Veja’ do mês passado, você foi uma das entrevistadas sobre o tema principal da revista: vida após a morte. Este seu interesse vem desde os tempos de jogadora?
R: A minha experiência com o espiritismo aconteceu em 1986 e desde então eu comecei a ler sobre o espiritismo e freqüentar uma vez por semana as sessões espiritas.
16: Gostaria de deixar algum recado aos leitores do Databasket?
R: Como vocês, eu ainda acredito nas mudanças do nosso basquete!
Fábio Balassiano
Colaborador
fbalassiano@hotmail.com
Fonte: Databasket
Maria Paula Gonçalves. Magic Paula para os amantes dos basquete. Ela, ao lado de Oscar e Hortência (sua companheira nos melhores tempos de seleção) agora se concentra em um projeto ambicioso e tortuoso para o esporte brasileiro: a formação da Nossa Liga de Basquetebol, a NLB, que ainda encontra resistência por parte da Confederação Brasileira de Basketball. Nesta entrevista Paula fala de NLB, Centro Olímpico de São Paulo (que ela dirige), basquete feminino e masculino, política e até de espiritismo.
1- Você, ao lado de Oscar e Hortência, é uma das organizadoras da NLB (Nossa Liga de Basquetebol). Como você avalia a resistência da Confederação Brasileira de Basquete ao projeto?
R: Desde o inicio nós sabíamos desta resistência. Acho muito normal, já que esta Liga não seria só uma ameaça a CBB, mas às demais Confederações. Algo que já acontece no mundo todo poderia dar certo aqui, incentivando outras pessoas a liderar este movimento.
2: Matéria veiculada na ‘Folha de S. Paulo’ no dia 05 de agosto dá conta que “uma nova regra internacional ameaça a Liga de Oscar”. Como a cúpula da NLB reagiu a isso? Vocês já tinham conhecimento ou foi algo inédito?
R: Sobre estas questões jurídicas, cabe ao advogado da NLB resolver.
3- É exagero afirmar que atualmente o basquete nacional vive a sua pior fase? Não seria o momento de todos unirem forças? Até quando confederação, ex-jogadores e presidentes de federação caminharão em direções opostas?
R: Na minha opinião o Basquete sempre foi desunido, por isso acredito no sucesso da NLB, movimento que tem seus principais ídolos envolvidos e com a oportunidade de que os clubes também sejam participativos. Apesar de termos tido no passado alguns presidentes da CBB que também não souberam aproveitar os momentos em que o basquete viveu, hoje estamos nos deparando com uma cúpula centralizadora em demasia. A NLB queria o aval da CBB, só que não conseguiu sequer ser recebida.
4: Muita gente gostaria que você fosse mais atuante no basquete. Seu nome, em várias pesquisas de opinião, foi um dos mais citados para a presidência da entidade máxima do esporte. Já pensou em ser presidente da CBB?
R: Não. Sempre penso que o basquete poderia estar em melhores condições, com uma administração profissional e transparente. Acredito que muitos já poderiam ter feito isso, mas esperar que nós, Hortência, Oscar e eu, tenhamos oportunidades de participar, de colaborar com o basquete, não passa pela cabeça deles. Não interessa.
5: O basquete feminino conquistou um título mundial em 1994 e medalhas olímpicas em 1996 e 2000. No entanto, ao contrário dos homens, que não conseguiram a classificação em Sidney e Atenas, a Confederação parece deixar as meninas de lado. Existe alguma explicação lógica para isso?
R: Sim. Ainda vivemos em um país machista, em que a maioria das confederações são administradas por homens. Eles acreditam que mulheres não foram feitas para fazer esporte. A cada Olimpíada eles podem sentir e perceber a força da mulher, principalmente da mulher brasileira.
6: O que falta ao basquete brasileiro para que ele se desenvolva no país?
R: Que as pessoas que administram as entidades ligadas a modalidade pensem no basquete e não no crescimento pessoal. O esporte é profissional e deve ser administrado como tal.
7: No debate da ESPN Brasil, há quase cinco anos, você denunciou a maneira como a escala de árbitros era feita por parte da Federação Paulista. Algo mudou?
R: Fui ameaçada de várias maneiras. Infelizmente o esporte no nosso país ainda é um feudo.
8: Sua passagem no Ministério dos Esportes, “comandado” por Agnelo Queiroz, acabou de maneira conturbada. Você se arrepende de ter aceitado o cargo público?
R: Os cargos públicos podem ser interessantes quando a cobrança pelo desempenho dos indivíduos for técnica e não política. Este é um dos motivos pelos quais o nosso país e o esporte brasileiro seguem a passos de tartaruga. Vivo uma experiência no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, na cidade de São Paulo, local que estive na última gestão do PT e agora com um surpreendente convite do PSDB para voltar, que pode ser diferente. A experiência tem sido fantástica.
9: Como é o seu trabalho à frente do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa paulista?
R: Eu administro o Centro, atualmente com 10 modalidades, 725 atletas, 43 técnicos e 81 funcionários. Todas as modalidades disputam campeonatos das federações e o local é custeado pela Prefeitura do Município de São Paulo. Os atletas recebem lanche após as atividades, transporte, além de assistência médica, odontológica, psicológica, assistente social e fisioterapia.
10: Como você recebeu a notícia de que a TV Globo iria transmitir amistosos das nossas seleções? Será que nosso esporte está fazendo por merecer?
R: Tenho minhas dúvidas, prefiro não acreditar em outras estratégicas. Melhor não dizer o que penso.
11: Sua irmã, Branca, tornou-se técnica neste Campeonato Paulista. Você pensa ou já pensou em seguir o mesmo caminho?
R: Não. Porque o que me fez sair das quadras foi a ausência da minha vida, ser dona do meu nariz. Sendo técnica continuaria vivendo desta maneira. Não é porque me destaquei como atleta que seria uma grande técnica, esta não tem sido a regra em todas as modalidades.
12: Você jogou sob a orientação de vários técnicos. Como você avalia os treinadores brasileiros atualmente?
R: Sofremos os mesmos problemas de renovação na parte técnica, acho os nossos técnicos desunidos, não querem passar conhecimentos, cada um vive pensando no seu. Algumas oportunidades para que sejam técnicos das seleções acontecem não por capacidade, mas politicagem. Isso é mal!
14: Reconhecidamente você é uma amante da boa leitura. Que livro você recomendaria às seguintes pessoas: Grego, Antonio Chakmati, Antonio Carlos Barbosa e Iziane, nossa melhor jogadora atualmente.
R: Não quero ser exemplo para ninguém, simplesmente acredito que estamos nesta etapa da vida de passagem, aprimorando o nosso ser, passando por experiências necessárias. Como tudo na vida, a leitura é prazer. Eu sempre fiz as coisas na minha vida com prazer.
Ler é crescimento, indicar livros é como indicar filmes, cada um tem a sua preferência, o que é bom para mim, talvez não seja bom para eles.
15: Em reportagem da ‘Veja’ do mês passado, você foi uma das entrevistadas sobre o tema principal da revista: vida após a morte. Este seu interesse vem desde os tempos de jogadora?
R: A minha experiência com o espiritismo aconteceu em 1986 e desde então eu comecei a ler sobre o espiritismo e freqüentar uma vez por semana as sessões espiritas.
16: Gostaria de deixar algum recado aos leitores do Databasket?
R: Como vocês, eu ainda acredito nas mudanças do nosso basquete!
Fábio Balassiano
Colaborador
fbalassiano@hotmail.com
Fonte: Databasket
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