Campo minado
Por Fábio Zambeli - Site Rebote
Pelas mãos santas do maior ídolo do basquete tupiniquim, ela surgira como alento para a redenção da modalidade.
Com 42 adesões de clubes e respaldo das suas mais badaladas estrelas, a Nossa Liga ganhava corpo há três meses com ares de motim sem precedentes e horizontes alvissareiros.
A batida do bumbo fora quase unânime entre especialistas, jogadores, treinadores, cartolas, estudiosos.
O eco na mídia difundira a idéia dominante de que se desenhara na modalidade um movimento de independência similar ao recentemente vivenciado pelo tênis – cujo resultado fez o Brasil retroceder à segunda divisão da Copa Davis.
Não demorou muito para o castelo começar a ruir. Ou, pelo menos, apresentar fissuras em seu alicerce.
Os primeiros reveses foram as deserções de Ribeirão Preto e Ourinhos – atuais detentores dos títulos nacionais masculino e feminino.
Alegando receio de ingressar na "aventura", os dois times e seus patrocinadores renunciaram ainda na fase embrionária da recém-criada associação.
“Não jogaremos liga pirata”, disparou o mantenedor do grupo educacional que sustenta os ribeirão-pretenses, Chaim Zaher.
O mais duro golpe, todavia, veio com a reeleição de Gerasime Bozikis, o Grego, para novo mandato à frente da CBB.
A liga capitaneada por Oscar Schmidt comprou briga com o dirigente, colocou seus guardiões no front da campanha do candidato oposicionista (derrotado nas urnas) e agora se vê prostrada diante da confederação.
Com a promessa de retorno publicitário certo, a liga ousou ainda mais. E propagou a notícia do patrocínio obtido por Franca com a multinacional holandesa Philips como "divisor de águas".
O suporte financeiro da empresa seria o indício de que os investidores estariam dispostos a mergulhar na ofensiva dita "independente" do basquete brasileiro.
Os francanos, sufocados com um enfadonho 12º lugar no Nacional, comemoraram. Planejaram reeditar os esquadrões que colecionaram glórias em 40 anos de atividade.
Nas projeções de elenco, apostas até em reforços estrangeiros.
À frente da empreitada, outro integrante da cúpula da Nossa Liga: o ex-jogador Fernando Minucci, que ocupa a direção administrativa da entidade paralela e gerencia o basquete da capital nacional da indústria calçadista.
O ex-ala da seleção brasileira colocou sob os holofotes o contrato com a empresa elétrica, mas já revisou seus prognósticos mais otimistas.
Tudo porque, depois de ventilar um acordo de dois anos para bancar a equipe de Franca e alardear apoio a projetos sociais, a Philips quer reduzir para 6 meses a duração do contrato.
Com um detalhe crucial: os valores seriam mantidos, o que significa que, em vez dos R$ 80 mil mensais almejados para a montagem do "supertime", sobrará nos cofres francanos quantia em torno de R$ 48 mil - já que seria necessária a mágica de esticar o montante para uma temporada de 10 meses (tempo previsto para extensão da Nossa Liga).
Somando-se aos repasses adicionais (R$ 20 mil do Banco do Brasil e receita de placas publicitárias), Franca contaria com R$ 68 mil mensais –exatamente o mesmo valor empregado na campanha fracassada do primeiro semestre.
E o clube francano teria elementos de sobra para ser considerado peça-chave na "vitrine" do projeto de marketing da Nossa Liga.
Mesmo com a claudicante trajetória no Nacional, a torcida do time do interior paulista repetiu o já tradicional recorde da arquibancada.
Com uma média (extra-oficial) de 1.837 espectadores, Franca alcançou, com larga margem, o topo do ranking de público na competição.
O dado é expressivo. Representa o quádruplo da taxa de presença do líder da fase classificatória, o Rio de Janeiro, que levou às quadras pouco mais de 470 aficionados por partida.
O recuo do potencial eldorado, símbolo do ressurgimento do basquete, impôs aos artífices da peripécia basquetebolística um momento de sérias reflexões.
Não por acaso, depois do intenso tiroteio travado com a CBB, a Nossa Liga acena novamente com uma barganha em busca de reconhecimento. E a arma para se aproximar de Grego é o registro oficial do organismo, com direito a cadastro na Receita Federal.
Resta saber até que ponto haverá disposição de selar um armistício, evitando assim um cisma histórico, cujos reflexos seriam imprevisíveis para o bola-ao-cesto brazuca.
Há 20 anos, foi mais ou menos assim que eclodiu na Argentina uma revolução na forma de pensar e fazer o esporte. O resultado, duas décadas depois, é conhecido.
A dúvida agora é relativa ao risco de uma implosão na estrutura organizacional da modalidade em um país que já foi potência global, mas acumula fiascos sucessivos no cenário internacional.
Em clima de paz ou de guerra, só se espera que o basquete brasileiro abandone a rota suicida em que parece ter mergulhado. Quem (sobre)viver verá.
Por Fábio Zambeli - Site Rebote
Pelas mãos santas do maior ídolo do basquete tupiniquim, ela surgira como alento para a redenção da modalidade.
Com 42 adesões de clubes e respaldo das suas mais badaladas estrelas, a Nossa Liga ganhava corpo há três meses com ares de motim sem precedentes e horizontes alvissareiros.
A batida do bumbo fora quase unânime entre especialistas, jogadores, treinadores, cartolas, estudiosos.
O eco na mídia difundira a idéia dominante de que se desenhara na modalidade um movimento de independência similar ao recentemente vivenciado pelo tênis – cujo resultado fez o Brasil retroceder à segunda divisão da Copa Davis.
Não demorou muito para o castelo começar a ruir. Ou, pelo menos, apresentar fissuras em seu alicerce.
Os primeiros reveses foram as deserções de Ribeirão Preto e Ourinhos – atuais detentores dos títulos nacionais masculino e feminino.
Alegando receio de ingressar na "aventura", os dois times e seus patrocinadores renunciaram ainda na fase embrionária da recém-criada associação.
“Não jogaremos liga pirata”, disparou o mantenedor do grupo educacional que sustenta os ribeirão-pretenses, Chaim Zaher.
O mais duro golpe, todavia, veio com a reeleição de Gerasime Bozikis, o Grego, para novo mandato à frente da CBB.
A liga capitaneada por Oscar Schmidt comprou briga com o dirigente, colocou seus guardiões no front da campanha do candidato oposicionista (derrotado nas urnas) e agora se vê prostrada diante da confederação.
Com a promessa de retorno publicitário certo, a liga ousou ainda mais. E propagou a notícia do patrocínio obtido por Franca com a multinacional holandesa Philips como "divisor de águas".
O suporte financeiro da empresa seria o indício de que os investidores estariam dispostos a mergulhar na ofensiva dita "independente" do basquete brasileiro.
Os francanos, sufocados com um enfadonho 12º lugar no Nacional, comemoraram. Planejaram reeditar os esquadrões que colecionaram glórias em 40 anos de atividade.
Nas projeções de elenco, apostas até em reforços estrangeiros.
À frente da empreitada, outro integrante da cúpula da Nossa Liga: o ex-jogador Fernando Minucci, que ocupa a direção administrativa da entidade paralela e gerencia o basquete da capital nacional da indústria calçadista.
O ex-ala da seleção brasileira colocou sob os holofotes o contrato com a empresa elétrica, mas já revisou seus prognósticos mais otimistas.
Tudo porque, depois de ventilar um acordo de dois anos para bancar a equipe de Franca e alardear apoio a projetos sociais, a Philips quer reduzir para 6 meses a duração do contrato.
Com um detalhe crucial: os valores seriam mantidos, o que significa que, em vez dos R$ 80 mil mensais almejados para a montagem do "supertime", sobrará nos cofres francanos quantia em torno de R$ 48 mil - já que seria necessária a mágica de esticar o montante para uma temporada de 10 meses (tempo previsto para extensão da Nossa Liga).
Somando-se aos repasses adicionais (R$ 20 mil do Banco do Brasil e receita de placas publicitárias), Franca contaria com R$ 68 mil mensais –exatamente o mesmo valor empregado na campanha fracassada do primeiro semestre.
E o clube francano teria elementos de sobra para ser considerado peça-chave na "vitrine" do projeto de marketing da Nossa Liga.
Mesmo com a claudicante trajetória no Nacional, a torcida do time do interior paulista repetiu o já tradicional recorde da arquibancada.
Com uma média (extra-oficial) de 1.837 espectadores, Franca alcançou, com larga margem, o topo do ranking de público na competição.
O dado é expressivo. Representa o quádruplo da taxa de presença do líder da fase classificatória, o Rio de Janeiro, que levou às quadras pouco mais de 470 aficionados por partida.
O recuo do potencial eldorado, símbolo do ressurgimento do basquete, impôs aos artífices da peripécia basquetebolística um momento de sérias reflexões.
Não por acaso, depois do intenso tiroteio travado com a CBB, a Nossa Liga acena novamente com uma barganha em busca de reconhecimento. E a arma para se aproximar de Grego é o registro oficial do organismo, com direito a cadastro na Receita Federal.
Resta saber até que ponto haverá disposição de selar um armistício, evitando assim um cisma histórico, cujos reflexos seriam imprevisíveis para o bola-ao-cesto brazuca.
Há 20 anos, foi mais ou menos assim que eclodiu na Argentina uma revolução na forma de pensar e fazer o esporte. O resultado, duas décadas depois, é conhecido.
A dúvida agora é relativa ao risco de uma implosão na estrutura organizacional da modalidade em um país que já foi potência global, mas acumula fiascos sucessivos no cenário internacional.
Em clima de paz ou de guerra, só se espera que o basquete brasileiro abandone a rota suicida em que parece ter mergulhado. Quem (sobre)viver verá.
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