Chapada e chapado
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Todo tipo de maluco se dá bem em Lençóis, no interior da Bahia. Menos, eu pude novamente constatar nesta virada de ano, o maluco por basquete. Foram duas semanas de solidão, na preguiça sob as cachoeiras ou na puxada das caminhadas.
Americana? "Eu ouvi dizer que seis ou sete delas estão acampadas lá no Vale do Capão."
Ourinhos? "Não seria diamante? O garimpo hoje é proibido. Na trilha do Roncador, ainda dá para comprar pedras brutas."
COC? "Coco? Coco verde? Tem, mas acabou em toda a cidade."
Limeira? "A terra aqui dá outro tipo de fruta, colega. Essa época é boa para o umbu, o araticum, o maracujá selvagem. E o jambo, dentro de dias, vai ficar ótimo."
Paulistano? "Prazer, baiano!"
A Chapada Diamantina faz parte do (grande) Brasil em que TV paga e internet são, mais do que um luxo, uma aberração. Um país à parte, que no máximo confronta a realidade de seu dia-a-dia com a do "Jornal Nacional".
Nosso basquete, minguado, reduzido a mercadoria de elite, não tem vez no "JN", nesse Brasil. As finais do Nacional feminino, a decisão do Paulista masculino, os patrícios na NBA... Nada existe.
Imagine, então, meu susto ontem, quando, de volta a São Paulo, abri o correio eletrônico e fui assaltado pelo noticiário.
Soube que a cestinha e grande (única?) revelação deste Brasileiro, a pivô Kátia, do Santo André, precisou abandonar os mata-matas para investigar um misterioso problema cardíaco. E que o torneio cambaleia para confirmar o previsível Americana x Ourinhos.
Li que a nova Prefeitura de Campos, alarmada com irregularidades na gestão do orçamento de 2004 (R$ 125 mil mensais!), resolveu desativar a equipe principal de basquete. E que, portanto, o Brasileiro masculino terá de dar largada no próximo dia 23 com 16 participantes, e não mais 17.
Alertaram-me que a tabela da edição deste ano é igualzinha à de 2004, substituindo apenas dois nomes (Rio de Janeiro, no lugar do Flamengo, e Limeira, no do Casa Branca), prova da leseira da CBB. E que a confederação repassará só R$ 10 mil a cada time, mantendo consigo toda a verba de publicidade e direitos de TV.
Soube que o Flamengo pediu a vaga de Campos (o que o regulamento não permite). Mas que o clube ainda não tem jogador nem técnico para a Liga Sul-Americana, que começa no mês que vem.
Li que Ribeirão Preto e Paulistano se meteram em nova confusão, que a semifinal de sábado terminou com duas expulsões. E que, na partida do dia seguinte, um dos suspensos, o pivô Murilo, deixou correndo a arquibancada para tentar salvar os carros dos colegas da enchente que engolia o estacionamento do ginásio.
Para fechar as más notícias, vi que Antonio Carlos Barbosa decidiu conciliar o trabalho na seleção feminina com o cargo de secretário de Esportes de Bauru.
Caraca! É este o Ano Novo?
Não creio no sonho da cidade pequena, não tenho aspirações bucólicas. O livro me relaxa mais do que a casinha de sapé. Mas fiquei com uma saudade danada do jambo que (ainda) não comi.
Viagem 1
Carismático por natureza, Anderson Varejão aumenta a legião de fãs a cada rodada. Seu jogo vistoso, muito raçudo, caiu nas graças do técnico do Cleveland, Paul Silas. E o ala-pivô emplacou as duas últimas listas das dez jogadas mais bonitas da NBA compiladas pela ESPN.
Viagem 2
Nem uma inoportuna catapora tirou o embalo de Leandrinho no Phoenix. E, aos poucos, Baby vence o descrédito do Toronto.
Viagem 3
Olívia (ex-Flamengo, ex-Mogi, ex-metade dos times brasileiros) abriu o mercado chinês para o basquete brasileiro. Segundo "O Globo", o ala-pivô assinou por seis meses com o Shougang, de Pequim.
E-mail melk@uol.com.br
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Todo tipo de maluco se dá bem em Lençóis, no interior da Bahia. Menos, eu pude novamente constatar nesta virada de ano, o maluco por basquete. Foram duas semanas de solidão, na preguiça sob as cachoeiras ou na puxada das caminhadas.
Americana? "Eu ouvi dizer que seis ou sete delas estão acampadas lá no Vale do Capão."
Ourinhos? "Não seria diamante? O garimpo hoje é proibido. Na trilha do Roncador, ainda dá para comprar pedras brutas."
COC? "Coco? Coco verde? Tem, mas acabou em toda a cidade."
Limeira? "A terra aqui dá outro tipo de fruta, colega. Essa época é boa para o umbu, o araticum, o maracujá selvagem. E o jambo, dentro de dias, vai ficar ótimo."
Paulistano? "Prazer, baiano!"
A Chapada Diamantina faz parte do (grande) Brasil em que TV paga e internet são, mais do que um luxo, uma aberração. Um país à parte, que no máximo confronta a realidade de seu dia-a-dia com a do "Jornal Nacional".
Nosso basquete, minguado, reduzido a mercadoria de elite, não tem vez no "JN", nesse Brasil. As finais do Nacional feminino, a decisão do Paulista masculino, os patrícios na NBA... Nada existe.
Imagine, então, meu susto ontem, quando, de volta a São Paulo, abri o correio eletrônico e fui assaltado pelo noticiário.
Soube que a cestinha e grande (única?) revelação deste Brasileiro, a pivô Kátia, do Santo André, precisou abandonar os mata-matas para investigar um misterioso problema cardíaco. E que o torneio cambaleia para confirmar o previsível Americana x Ourinhos.
Li que a nova Prefeitura de Campos, alarmada com irregularidades na gestão do orçamento de 2004 (R$ 125 mil mensais!), resolveu desativar a equipe principal de basquete. E que, portanto, o Brasileiro masculino terá de dar largada no próximo dia 23 com 16 participantes, e não mais 17.
Alertaram-me que a tabela da edição deste ano é igualzinha à de 2004, substituindo apenas dois nomes (Rio de Janeiro, no lugar do Flamengo, e Limeira, no do Casa Branca), prova da leseira da CBB. E que a confederação repassará só R$ 10 mil a cada time, mantendo consigo toda a verba de publicidade e direitos de TV.
Soube que o Flamengo pediu a vaga de Campos (o que o regulamento não permite). Mas que o clube ainda não tem jogador nem técnico para a Liga Sul-Americana, que começa no mês que vem.
Li que Ribeirão Preto e Paulistano se meteram em nova confusão, que a semifinal de sábado terminou com duas expulsões. E que, na partida do dia seguinte, um dos suspensos, o pivô Murilo, deixou correndo a arquibancada para tentar salvar os carros dos colegas da enchente que engolia o estacionamento do ginásio.
Para fechar as más notícias, vi que Antonio Carlos Barbosa decidiu conciliar o trabalho na seleção feminina com o cargo de secretário de Esportes de Bauru.
Caraca! É este o Ano Novo?
Não creio no sonho da cidade pequena, não tenho aspirações bucólicas. O livro me relaxa mais do que a casinha de sapé. Mas fiquei com uma saudade danada do jambo que (ainda) não comi.
Viagem 1
Carismático por natureza, Anderson Varejão aumenta a legião de fãs a cada rodada. Seu jogo vistoso, muito raçudo, caiu nas graças do técnico do Cleveland, Paul Silas. E o ala-pivô emplacou as duas últimas listas das dez jogadas mais bonitas da NBA compiladas pela ESPN.
Viagem 2
Nem uma inoportuna catapora tirou o embalo de Leandrinho no Phoenix. E, aos poucos, Baby vence o descrédito do Toronto.
Viagem 3
Olívia (ex-Flamengo, ex-Mogi, ex-metade dos times brasileiros) abriu o mercado chinês para o basquete brasileiro. Segundo "O Globo", o ala-pivô assinou por seis meses com o Shougang, de Pequim.
E-mail melk@uol.com.br
Fonte: Folha de São Paulo
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