Auto-de-fé
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Que este seja o ano do basquete, até porque os anteriores definitivamente não foram.
Que o campeonato brasileiro masculino cresça em equipes e duração. Que as cidades não desperdicem a vaga na primeira divisão, oportunidade rara de impulsionar a prática da modalidade.
Que os jovens atletas descubram e que os veteranos redescubram o prazer de disputar o jogo que nunca se repete. Que ajudem o torcedor, sobretudo o adolescente, a perceber que a partida de basquete pode ser bem mais do que um programa barato contra o tédio da cidade pequena.
Que as garotas ganhem, finalmente, um torneio de dimensão nacional capaz de catalisar a derrubada de preconceitos.
Que nem eles nem elas sejam espremidos em maratonas rodoviárias entre as rodadas, crueldade que 2004 introduziu.
Que sobre eles e sobre elas chovam convites para atuar uma temporada no exterior, experiência essencial no esporte coletivo de alto rendimento.
Que a eleição na confederação brasileira sirva de pontapé inicial para a revisão do modelo de gestão do esporte. Que Gerasime Bozikis, José Medalha e Hélio Barbosa, por ora os candidatos, definam com critério e transparência o destino das verbas públicas.
Que o Tribunal de Contas da União mantenha em riste o dedo que levantou no ano passado, apontando para os descaminhos da aplicação desse dinheiro. Que o governo Lula, por meio da Eletrobrás, o único patrocinador das seleções, e do Ministério do Esporte, abandone o estado vegetativo e passe a cobrar contrapartidas para seus investimentos.
Que as seleções masculina e feminina não sejam mais tratadas como um trabalho ocasional. Que a profissionais engajados, inquietos e capacitados seja dada a chance de reestruturar o estilo defasado que o país treina e joga.
Que os resultados apareçam rápido em quadra e rompam a apatia das arquibancadas e o desdém da TV. Que o basquete volte a ser notícia, e a imprensa, a noticiá-lo.
Ainda assim, ninguém aqui vai chorar se o basquete ficar outro ano sem um ano. Se os campeonatos se danarem. Se à empulhação de partidas sem propósito nem novidade se somar a desistência de um ou dois participantes, colocando em xeque a política expansionista. Se os jovens atletas buscarem outro caminho, e os veteranos, outra profissão. Se a Europa continuar dando calote nos migrantes. Se as garotas seguirem à margem da história. Se os torcedores mirins preferirem as banhas e a emoção instantânea dos videogames. Se o vôo atrasar, o serviço de bordo deixar a desejar, a poltrona não reclinar. Se a CBB seguir fechada em copas, a brincar com o dinheiro federal. Se o TCU retomar a rotina estéril dos anos ímpares (leia-se sem eleição). Se o governo Lula mantiver o estafe e a política camaradas e incompetentes. Se as seleções permanecerem nas mãos de treinadores alheios. Se a arquibancada pegar no sono, e a imprensa, mesquinha como nunca e como sempre, em armas.
Que é que o jornal pode fazer? Um jornal é apenas humano.
Resoluções de Ano Novo 1
Escreverei, de novo, sobre Shaquille O'Neal e LeBron James e, pela primeira vez, sobre Steve Nash. A via-crúcis do Chicago Bulls ganhará uma coluna. Imaginei entrevistas com Charles Byrd, Anderson Varejão e Simone (a cantora, ela mesma, ex-jogadora). Pensei em sabatinar todos os candidatos à CBB. Comentarei a negociação de Nenê, a expiação de Kobe Bryant, a volta de Phil Jackson.
Resoluções de Ano Novo 2
O leitor deve ter se cansado de ler aqui críticas à condução do esporte, ao "trabalho" nas seleções, à insignificância dos torneios. Por isso não martelarei nessas teclas, prometo. Assim como prometo ler todo Shakespeare e a Bíblia inteirinha, redesenhar meu corpo com músculos, sair com a Luana Piovani, ganhar na loteria e mudar de profissão.
E-mail melk@uol.com.br
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Que este seja o ano do basquete, até porque os anteriores definitivamente não foram.
Que o campeonato brasileiro masculino cresça em equipes e duração. Que as cidades não desperdicem a vaga na primeira divisão, oportunidade rara de impulsionar a prática da modalidade.
Que os jovens atletas descubram e que os veteranos redescubram o prazer de disputar o jogo que nunca se repete. Que ajudem o torcedor, sobretudo o adolescente, a perceber que a partida de basquete pode ser bem mais do que um programa barato contra o tédio da cidade pequena.
Que as garotas ganhem, finalmente, um torneio de dimensão nacional capaz de catalisar a derrubada de preconceitos.
Que nem eles nem elas sejam espremidos em maratonas rodoviárias entre as rodadas, crueldade que 2004 introduziu.
Que sobre eles e sobre elas chovam convites para atuar uma temporada no exterior, experiência essencial no esporte coletivo de alto rendimento.
Que a eleição na confederação brasileira sirva de pontapé inicial para a revisão do modelo de gestão do esporte. Que Gerasime Bozikis, José Medalha e Hélio Barbosa, por ora os candidatos, definam com critério e transparência o destino das verbas públicas.
Que o Tribunal de Contas da União mantenha em riste o dedo que levantou no ano passado, apontando para os descaminhos da aplicação desse dinheiro. Que o governo Lula, por meio da Eletrobrás, o único patrocinador das seleções, e do Ministério do Esporte, abandone o estado vegetativo e passe a cobrar contrapartidas para seus investimentos.
Que as seleções masculina e feminina não sejam mais tratadas como um trabalho ocasional. Que a profissionais engajados, inquietos e capacitados seja dada a chance de reestruturar o estilo defasado que o país treina e joga.
Que os resultados apareçam rápido em quadra e rompam a apatia das arquibancadas e o desdém da TV. Que o basquete volte a ser notícia, e a imprensa, a noticiá-lo.
Ainda assim, ninguém aqui vai chorar se o basquete ficar outro ano sem um ano. Se os campeonatos se danarem. Se à empulhação de partidas sem propósito nem novidade se somar a desistência de um ou dois participantes, colocando em xeque a política expansionista. Se os jovens atletas buscarem outro caminho, e os veteranos, outra profissão. Se a Europa continuar dando calote nos migrantes. Se as garotas seguirem à margem da história. Se os torcedores mirins preferirem as banhas e a emoção instantânea dos videogames. Se o vôo atrasar, o serviço de bordo deixar a desejar, a poltrona não reclinar. Se a CBB seguir fechada em copas, a brincar com o dinheiro federal. Se o TCU retomar a rotina estéril dos anos ímpares (leia-se sem eleição). Se o governo Lula mantiver o estafe e a política camaradas e incompetentes. Se as seleções permanecerem nas mãos de treinadores alheios. Se a arquibancada pegar no sono, e a imprensa, mesquinha como nunca e como sempre, em armas.
Que é que o jornal pode fazer? Um jornal é apenas humano.
Resoluções de Ano Novo 1
Escreverei, de novo, sobre Shaquille O'Neal e LeBron James e, pela primeira vez, sobre Steve Nash. A via-crúcis do Chicago Bulls ganhará uma coluna. Imaginei entrevistas com Charles Byrd, Anderson Varejão e Simone (a cantora, ela mesma, ex-jogadora). Pensei em sabatinar todos os candidatos à CBB. Comentarei a negociação de Nenê, a expiação de Kobe Bryant, a volta de Phil Jackson.
Resoluções de Ano Novo 2
O leitor deve ter se cansado de ler aqui críticas à condução do esporte, ao "trabalho" nas seleções, à insignificância dos torneios. Por isso não martelarei nessas teclas, prometo. Assim como prometo ler todo Shakespeare e a Bíblia inteirinha, redesenhar meu corpo com músculos, sair com a Luana Piovani, ganhar na loteria e mudar de profissão.
E-mail melk@uol.com.br
Fonte: Folha de São Paulo
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