sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Oito Anos

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Na quarta-feira, um leitor deixou um link que noticiava a contratação da pivô brasileira Flávia Luiza pelo clube português Vagos.

Aparentemente não havia nada de anormal na nota.

Flávia é uma atleta com diversas passagens pelo basquete europeu: Itália, Suíça, Espanha, Letônia…

E o Vagos é um clube que tem oferecido abrigo a uma série de jogadoras brasileiras nos últimos anos. Da última convocação da seleção brasileira, nada menos do que quatro atletas (Izabela, Fernanda, Sílvia e Clarissa) passaram por lá.

Mas alguma coisa me chamava a atenção na notícia desde o princípio. E eu não sabia exatamente o que era. Dois dias depois, talvez tenha conseguido entender.

Flávia Luiza completa 29 anos nesse domingo. É daquelas que venceram no esporte em condições absolutamente adversas. Talvez pouca gente se lembre, mas foi ela a cestinha da seleção brasileira na conquista da medalha de prata no Mundial Sub-21 (2003), que completou oito anos no início do mês passado. Foi também a que mais tempo ficou em quadra entre as doze escolhidas pelo técnico Bassul.

Se Flávia conseguiu muito através do esporte, é impossível não notar que ela poderia ter ido mais adiante. A afirmação na seleção adulta não veio e a trajetória em clubes foi extremamente irregular.

As razões desse mau aproveitamento são muitas. Algumas são da própria atleta. Outras, do acaso das lesões. Culpados também foram os que gerenciaram sua carreira, com péssimas escolhas no início da carreira no exterior (a comparação com Graziane, sua colega na conquista,  é exemplar). Por fim, falhou o basquete brasileiro como um todo, que não se preocupou muito com uma das líderes daquela (esquecida) vitória, nem com as outras onze.

Obcecado por essa ideia, me debrucei sobre as estatísticas do torneio. Oito anos depois, que fim teriam levado as carreiras das jogadoras que se destacaram ali, como Flávia?

A brasileira foi a oitava cestinha da competição, com 13,1 pontos por jogo. Entre as dez primeiras, registrava o melhor aproveitamento de arremessos (61, 4%). Érika foi a décima segunda cestinha (12,4 pontos e 65% de aproveitamento).

Concentremos-nos nas outras sete jogadoras que pontuaram mais que Flávia:

1) Anete Jekabsone-Zogota (24, 3) – a letona dispensa apresentações. Converteu-se num dos maiores nomes da sua geração. Jogadora do ano de 2007 na Europa, tem passagens pela WNBA e contrato assinado com o poderoso Fenerbahce.

2) Gisela Vega (20,6) – a argentina não está na seleção porque não quer. Tem sólida carreira na Espanha.

3) Liwei Song (16,5) -  disputou os dois últimos Mundiais Adultos pela seleção chinesa.

4) Lan Bian (15,8) – terceira cestinha da seleção chinesa nas Olimpíadas de Pequim 2008 (quarto lugar).

5) Ana Lelas (15,1) – a croata construiu carreira na França e é um dos pilares da seleção que conseguiu vaga para a disputa do Pré-Olímpico Mundial.

6) Ieva Kublina (15) – afirmadíssima na seleção da Letônia, pela qual disputou as Olimpíadas de Pequim.

7) Ekaterina Sytniak (14,4) – mesmo não vencendo a concorrência por uma vaga na seleção russa, tem vaga cativa nos melhores times locais, em uma das mais competitivas ligas de todo o mundo.

Abaixo de Flávia, aparecem outros vários nomes que o destino tem levado longe, como Érika, Zane Tamane (Letônia), Seimone Augustus e Alana Beard (EUA), Emilie Gomis e Céline Dumérc (França) e Laura Summerton e Hollie Grima (Austrália).

Há nomes que sumiram, como o da croata Lea Fabbri, nona colocada.

O caso de Flávia, no entanto, não parece ser uma exceção, mas a regra de como temos maltratado nossos talentos. Suas colegas que já nem jogam mais são o lado ainda mais perverso da estatística.

Meu temor é que em 2019 eu esteja aqui revendo o que o destino ofereceu a Damiris, Tássias, Isabelas, Marianas e Thamaras desse Brasil.

19 comentários:

Anônimo disse...

otima materia, acompanho o basquete a muitos anos,e sempre me perguntei o porque de nao convoca-la pois basquete para isso ela tem,infelizmente no brasil nao se da tempo ao tempo,as coisas tem que acontcer,muito rapido pois se nao. nao serve pena que talento como ela vai sumindo pois acredito que por detras de tudo tem outros intersses. pena.......

Anônimo disse...

Lamentável mesmo o caminho que seguiu esta geração...

Anônimo disse...

Excelente post! Parabéns!

Will disse...

Nossa minha amiga Flavia que ssds dela talento do nosso basquete, acompanhei sua trajetoria é uma guerreira uma pena esse grande talento ser esquecido dessa forma, faz tempo que nao falo com ela.

thiago gabriel disse...

Ótima matéria, sugiro uma entrevista, se for possível com as jogadoras dessa seleção, seria fantástico saber a visão delas, para que possamos entender melhor onde o basquete do Brasil era!!!

Anônimo disse...

PARABEN FLAVIA ME FEZ LEMBRAR DOS TEMPOS EM QUE TREINAMOS JUNTAS....

chicof disse...

Coincidência, ontem eu tava parabenizando a Ana Flávia Sackis no Facebook, quando ela postou uma foto das jogadoras e a ct com as medalhas.

Anônimo disse...

e ainda vem com essa conversa que nao temos renovacao

Estamos eh desperdicando quem poderia ja estar brilhando na selecao.

Anônimo disse...

Ótima matéria! Parabéns! O seu temor é o mesmo que o meu e de muitos outros técnicos que fazem o verdadeiro trabalho de base neste país que não valoriza seus talentos.

Anônimo disse...

Bert o seleção sub-19 que conquistou o bronze no ultimo mundial, tem jogadoras boas, guerreiras.

Apesar da Hortencia ter escolhidos técnicos medianos pra seleção principal, a seleção sub-19 teve uma boa preparação pro mundial.

Também conseguiu pagar os seguros pra jogadoras. Lembra do caso da Alessandra no Mundial/2.006.

Se o Brasil fizer um bom planejamento visando o pódio nas olimpiadas do Rio/2.016, creio que a seleção tem potencial pra disputar a final em 2.016.

Anônimo disse...

acho que, dessa geração do vice do mundial sub-21, 8 atletas já passaram ou foram convocadas para a seleção principal, sendo que, dessas 8, 5 estiveram no mundial do ano passado. se compararmos com outras gerações, acho que este foi o grupo que mais teve oportunidade na seleção adulta.

Anônimo disse...

FLAVITHIAA parabens , feliz aniversário...
que voce tenha mts felicidades

saudeieda disse...

FORÇA E PARABENS FLAVIA
TIA IEDA

fábio balassiano disse...

Excelente artigo, amigo! Parabéns mesmo! Mto bom

Anônimo disse...

OBSERVADOR

A FLAVIA TEVE ALGUMAS OPORTUNIDADES NA SELEÇÃO ADULTA,FEZ PARTE DA EQUIPE QUE FOI CAMPEÃ SULAMERICANA EM 2005.ESTEVE EM OUTRAS CONVOCAÇÕES.AGORA QUAL A RAZÃO DELA NÃO SE FIRMAR EM CLUBES?SERIA LEGAL BUSCARMOS ESTAS RESPOSTAS PARA NÃO TRATARMOS UNS COMO HERÓIS E OUTROS COMO VILÕES!!!!

Érico disse...

Eita, adorei a materia!

Anônimo disse...

Quem pode repsonder as questões dela não se afirmar em clube nenhum, é ela mesma. Pois eu, pelo menos, conheço dois clubes que deram todas as oportunidades a ela e nos dois, ela jogou a carreira dela pelo ralo, preferindo se envolver com pessoas não muito recomendadas.
Infelizmente, ela como muitas outras, se esquecem, que mpara ser profissional, não basta apenas jogar basquete, mas sim, ser profissional por completo.

Anônimo disse...

No futebol, é iguaç. Kaka nem foi de seleção de base e na Copa SP de Juniores era reserva.

Anônimo disse...

Otima materia Bert,mas vale lembrar que a geraçao 81 do basquete nao foi bem aproveitada,nao houve apoio necessario,para hj elas estarem fazendo bons campeonatos,sao moças de vinte oito, vinte nove anos e que a impresa rotulou-as de
velhas,mas as velhas nao passavam o bastao ficaram muito alem do ultimo quarto,e o resultado foi esse,nao so a Flavia,mas quase toda uma geração.