Hortência está novamente na crista da onda. Desde que assumiu a diretoria do departamento feminino da CBB, só dá ela. É mais entrevistada que qualquer outra atleta, membro da comissão técnica ou até mesmo o presidente da entidade.
E é alvo de críticas de atletas, ex-atletas, treinadores, psicólogos, jornalistas e (muitos) blogueiros.
Hortência é uma mulher inteligente. Gerenciou sua própria carreira com firmeza incomum. No entanto, Hortência nunca foi articulada na comunicação. Desde os tempos de atleta, suas declarações nem sempre agradavam e muitas vezes criaram polêmicas. Mas naquela época dissesse o que dissesse ou como dissesse, pouco importava. A cada jogo ou campeonato, a Rainha reafirmava a majestade e suas declarações caíam na categoria da ‘excentricidade’.
Hoje é diferente. Hortência ocupa um cargo no qual se deve ter cuidado com o que é dito ou feito. E como a seleção e o basquete feminino daqui andam mal, tem se prestado muita atenção ao que ela diz. E é aí que o “bicho pega”.
Hortência parece ter um raciocínio muito rápido. E fala muito. Em poucos minutos, ela refaz seu raciocínio, desdiz o que acabou de dizer… mas algo mágico acontece e a maioria dos seus interlocutores nem chega a questioná-la.
E isso também não é de hoje. Lembro-me com clareza que Hortência era uma das defensoras ferrenhas de que o Brasil não jogasse com os Estados Unidos antes das Olimpíadas de Atlanta (96). Era uma tentativa de a seleção campeã mundial (94) surpreender as americanas novamente no torneio. Não deu certo. As americanas entraram tinindo na decisão do ouro olímpico e não deixaram ninguém respirar. Recém-chegada com a medalha de prata, vi Hortência dizendo que deveríamos ter jogado com as americanas para dissipar a fúria de Lisa Leslie & Cia.
Depois que virou diretora, os exemplos são muitos. As declarações passearam entre manter, não manter Bassul, até espinafradas nos técnicos nacionais, anúncios de projetos que parecem eternamente apenas ‘projetados’, o retorno de Iziane, as seleções permanentes e subir ou descer ‘as’ Colinas… Uma festa!
Vítima desse seu estilo, Hortência está agora em situação delicada.
Não há muitas certezas, a ponto de ela assediar Janeth para a posição de técnica da seleção adulta.
O próximo ano é de Pré-Olímpico, já se passaram na sua gestão dois técnicos (Bassul e Colinas) e o tempo urge.
Para piorar, seu primeiro tiro falhou.
Hortência apontou para Zanon e ele recusou. Ao tornar público que lhe fora feita uma oferta de contrato de dez meses, as máscaras caem novamente. Afinal, qual é o projeto que Hortência tem? De testes de treinadores? Cadê aquele famoso ‘ a longo prazo’ que a Rainha tanto fala?
E agora? Fazer o quê?
Com a recusa de Zanon, o que fará a nossa Rainha?
Restam opções pouco confortáveis.
A primeira seria apontar para outro técnico estrangeiro. Mas a verdade é que o que a CBB está disposta a oferecer para um técnico da seleção feminina só atrairá outros técnicos “mais-ou-menos” (palavras de Hortência), como Colinas. Um nome do quilate de Tom Maher parece inatingível. Se fosse para o masculino, quem sabe?
Restaria ainda refazer laços com técnicos afastados pela própria Hortência da CBB, como Bassul ou Borracha. Desconfortável, não?
Ou, por último, restaria correr atrás de técnicos da sua geração, como Vendramini ou Maria Helena, contrariando sua aposta no “novo” e no “basquete moderno”.
Resumindo: Hortência precisará de uma jogada-de-mestre para não sair dessa decisão com a credibilidade ainda mais arranhada.