Reboteira do Nacional joga de graça
Clarissa defende o Fluminense, que emprestou camisa e ginásio para ajudar as juvenis de um projeto de formação
Heleni Felippe
A principal reboteira do Campeonato Nacional Feminino de Basquete é uma pivô de 18 anos , que não recebe salário para jogar e depende de ajuda para o transporte - são três ônibus entre Campo Grande, onde mora, e Laranjeiras, onde fica o ginásio do Fluminense, no Rio. Clarissa Cristina dos Santos, 1,82 m e 98 kg, ex-arremessadora do peso, sonha com o dia em que terá salário para fazer o que gosta. 'Queria fazer do esporte, que tanto amo, uma profissão.' Clarissa encontrou espaço num Nacional esvaziado - disputado por apenas 6 times e sem as atletas da seleção, no exterior. Clarissa lidera as estatísticas de rebotes, com 97 em 8 jogos, média de 12,1 por partida. Apesar disso, o Fluminense ainda não venceu no Nacional.
A pivô faz esporte regularmente desde os 13 anos, no centro de treinamento Miécimo da Silva. Começou no atletismo, que ainda praticou em 2006 - a arremessadora do peso disputou um estadual sub-23 e venceu em sua categoria. Aos 15 anos, passou a freqüentar aulas de basquete no próprio Miécimo e conseguiu conciliar as duas modalidades até 2006, quando foi jogar num time que treinava em outro local. 'Gosto do atletismo e não foi nem uma escolha. Fui ficando no basquete e fiquei. Quero seguir carreira.' Admira Ega, pivô da seleção brasileira, e não treina especificamente para pegar rebotes. 'É minha função no grupo.'
O grupo de Clarissa tem pouca vivência. Resultou de um projeto de formação esportiva do técnico Guilherme Vos - o Fluminense empresta a camisa -, e só tem juvenis. 'O Estadual do Rio tem poucos times. Adulto mesmo, só Mangueira, Botafogo e Fluminense. E nós não temos a malícia do adulto. Por isso, jogar o Brasileiro, enfrentar atletas de Ourinhos, como a Lígia (pivô) dá vivência, faz as juvenis adquirirem aquela malandragem necessária à competição', diz a jogadora.
Guilherme define Clarissa como um 'talento nato'. Quando veio treinar basquete 'era crua, não dominava os fundamentos e, mesmo assim, já pegava rebotes'. Chegou a ser chamada para uma seleção brasileira de novas em 2003, mas foi cortada.
A partir de 2004, cresceu tecnicamente. 'Ela teve outra oportunidade, mas foi atrapalhada por uma lesão no pé', explica o treinador. Clarissa tem liberdade para pedir ao técnico o dinheiro da condução quando precisar - a mãe, empregada doméstica, nem sempre pode pagar. 'Não seria justo uma menina como ela, com disposição para treinar de forma tão intensa, ficar sem vir por causa de passagem de ônibus', diz Guilherme.
EM BUSCA DE ESPAÇO
No basquete feminino desde 1993 (é técnico desde 87), Guilherme, de 42 anos, tem um projeto de formação no basquete a partir da categoria mirim, que conta com a ajuda dos pais e bolsas de estudo nas escolas ADN e Santa Mônica Centro Educacional, onde é professor. Seu salário, aliás, vem do trabalho nas escolas. No Nacional, quer 'chamar atenção para o basquete feminino do Rio'.
'São juvenis, que jogam sem salário, uma boa geração em busca de espaço. Gostaria de viabilizar a permanência da Clarissa no Rio, mas se outros clubes conversarem com ela e oferecerem salário... Tenho orgulho de essas meninas, com a seleção carioca, terem vencido São Paulo na 30ª edição do Brasileiro Juvenil, feito inédito.' Clarissa ganhou um tênis novo do professor e técnico para o torneio - o dela já estava abrindo.
Guilherme gostaria que o Fluminense 'pudesse abraçar o basquete feminino', mas observa que desde o início foi combinado que o clube emprestaria a camisa e o ginásio das Laranjeiras para os dias de jogos.
Clarissa defende o Fluminense, que emprestou camisa e ginásio para ajudar as juvenis de um projeto de formação
Heleni Felippe
A principal reboteira do Campeonato Nacional Feminino de Basquete é uma pivô de 18 anos , que não recebe salário para jogar e depende de ajuda para o transporte - são três ônibus entre Campo Grande, onde mora, e Laranjeiras, onde fica o ginásio do Fluminense, no Rio. Clarissa Cristina dos Santos, 1,82 m e 98 kg, ex-arremessadora do peso, sonha com o dia em que terá salário para fazer o que gosta. 'Queria fazer do esporte, que tanto amo, uma profissão.' Clarissa encontrou espaço num Nacional esvaziado - disputado por apenas 6 times e sem as atletas da seleção, no exterior. Clarissa lidera as estatísticas de rebotes, com 97 em 8 jogos, média de 12,1 por partida. Apesar disso, o Fluminense ainda não venceu no Nacional.
A pivô faz esporte regularmente desde os 13 anos, no centro de treinamento Miécimo da Silva. Começou no atletismo, que ainda praticou em 2006 - a arremessadora do peso disputou um estadual sub-23 e venceu em sua categoria. Aos 15 anos, passou a freqüentar aulas de basquete no próprio Miécimo e conseguiu conciliar as duas modalidades até 2006, quando foi jogar num time que treinava em outro local. 'Gosto do atletismo e não foi nem uma escolha. Fui ficando no basquete e fiquei. Quero seguir carreira.' Admira Ega, pivô da seleção brasileira, e não treina especificamente para pegar rebotes. 'É minha função no grupo.'
O grupo de Clarissa tem pouca vivência. Resultou de um projeto de formação esportiva do técnico Guilherme Vos - o Fluminense empresta a camisa -, e só tem juvenis. 'O Estadual do Rio tem poucos times. Adulto mesmo, só Mangueira, Botafogo e Fluminense. E nós não temos a malícia do adulto. Por isso, jogar o Brasileiro, enfrentar atletas de Ourinhos, como a Lígia (pivô) dá vivência, faz as juvenis adquirirem aquela malandragem necessária à competição', diz a jogadora.
Guilherme define Clarissa como um 'talento nato'. Quando veio treinar basquete 'era crua, não dominava os fundamentos e, mesmo assim, já pegava rebotes'. Chegou a ser chamada para uma seleção brasileira de novas em 2003, mas foi cortada.
A partir de 2004, cresceu tecnicamente. 'Ela teve outra oportunidade, mas foi atrapalhada por uma lesão no pé', explica o treinador. Clarissa tem liberdade para pedir ao técnico o dinheiro da condução quando precisar - a mãe, empregada doméstica, nem sempre pode pagar. 'Não seria justo uma menina como ela, com disposição para treinar de forma tão intensa, ficar sem vir por causa de passagem de ônibus', diz Guilherme.
EM BUSCA DE ESPAÇO
No basquete feminino desde 1993 (é técnico desde 87), Guilherme, de 42 anos, tem um projeto de formação no basquete a partir da categoria mirim, que conta com a ajuda dos pais e bolsas de estudo nas escolas ADN e Santa Mônica Centro Educacional, onde é professor. Seu salário, aliás, vem do trabalho nas escolas. No Nacional, quer 'chamar atenção para o basquete feminino do Rio'.
'São juvenis, que jogam sem salário, uma boa geração em busca de espaço. Gostaria de viabilizar a permanência da Clarissa no Rio, mas se outros clubes conversarem com ela e oferecerem salário... Tenho orgulho de essas meninas, com a seleção carioca, terem vencido São Paulo na 30ª edição do Brasileiro Juvenil, feito inédito.' Clarissa ganhou um tênis novo do professor e técnico para o torneio - o dela já estava abrindo.
Guilherme gostaria que o Fluminense 'pudesse abraçar o basquete feminino', mas observa que desde o início foi combinado que o clube emprestaria a camisa e o ginásio das Laranjeiras para os dias de jogos.
Fonte: O Estado de São Paulo
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