Retrospectiva
Por Fábio Zambeli (Rebote)
No crepúsculo de 2005, o Rebote reconstitui os altos e baixos do basquete brasileiro e relembra alguns dos bons e dos maus momentos do ano na virada de folhinha que precede uma jornada promissora para os apaixonados pela bola laranja.
Com calendário cheio, 2006 se aproxima com expectativa e — isso é Brasil! — incerteza. Os prognósticos, nada esotéricos, ficam para as próximas semanas.
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Dez motivos para celebrar 2005:
1) Boicotada até o pescoço, nasce, teimosa, um liga independente de clubes. Mobiliza estados há muito afastados da elite do basquete nacional. Com transmissão pela TV, difunde a modalidade em rincões inóspitos e coloca em atividade um número cada vez maior de atletas com condições de almejar o sucesso.
2) O Hall da Fama reverencia a Rainha e coloca Hortência Marcari entre as celebridades do tradicional memorial de Springfield. Com direito a discurso que beirou a pieguice, o maior ícone da geração que beliscou o ouro na Austrália em 94 virou imortal.
3) Com uma campanha irregular, a seleção masculina sobe ao topo do pódio nas Américas em Santo Domingo e projeta um novo ídolo: Leandrinho, que consolida a condição de puxador do trio elétrico brazuca rumo ao Mundial de Tóquio.
4) Agosto, mês do cachorro louco, subverteu a ordem das telinhas tupiniquins. A reboque de patrocínio estatal, a bola laranja emplacou oito horas de transmissão ao vivo na Vênus Platinada, em rede nacional. Ufa!
5) Os brasileiros puderam, enfim, assistir em tempo real aos campeonatos europeus de seleções — feminino e masculino — graças à equipe da ESPN Brasil, que brindou os basqueteiros com a nata do bola-ao-cesto no Velho Continente.
6) O fracasso histórico no Nacional sacudiu a poeira em Franca, que repatriou Hélio Rubens e alguns de seus pupilos para tentar juntar os cacos do esporte em um de seus mais exitosos celeiros de craques do interior.
7) O Brasil emplacou pela uma inédita final doméstica na principal competição continental de clubes: a Liga Sul-Americana, decidida entre Uberlândia e Ajax/Goiânia, gerenciadas pelo mesmo grupo educacional, que desbancaram os vizinhos portenhos, tradicionais papões da taça.
8) Dois bons exemplos merecem lembrança pela atitude nobre: barrados por razões diferentes na NBA, Alex e Lucas Tischer desembarcaram em solo brasileiro com sede de jogo em Ribeirão e São José dos Pinhais — este último sujeitando-se ao boicote para a seleção.
9) Clubes de massa e tradição como Flamengo (campeão estadual masculino), Fluminense (que reergueu suas categorias de base e brilha com suas meninas) e Sport Recife ressurgem no cenário nacional com fórmulas distintas, mas eficazes de gerir a modalidade — sem recursos e esbanjando criatividade.
10) A prancheta consagrou nomes emergentes, antes refém de meia-dúzia de treinadores com modus operandi manjados e pouco eficazes. Detalhe: as novas celebridades dos bancos de reservas apostaram em intercâmbio. Gastaram sola e mexeram nos bolsos, reconhecendo a imaturidade, e buscando aprendizado no basquete do exterior.
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Dez motivos para esquecer 2005:
1) Celeiros à míngua. Descontada a euforia com o título da Copa América, as categorias de base naufragaram nos torneios continentais, dando aos portenhos a supremacia sul-americana. Em algumas faixas etárias, a camiseta canarinho foi sobrepujada até pelos vizinhos uruguaios.
2) Em processo novamente permeado por troca de acusações e denúncias de cooptação barata, Gerasime Bozikis, o Grego, é reeleito para comandar novo ciclo à frente da CBB, prolongando seu mandato até 2008. A eleição na entidade reeditou a conotação pejorativa da cartolagem desportiva.
3) No embalo da soberba pós-eleitoral, a CBB vetou a convocação de atletas da Nossa Liga nas seleções. A manobra, endossada com falácias legais, evidenciou a tentativa rasteira de evitar que a empreitada paralela liderada por Oscar pusesse na vitrine algumas das estrelas descontentes com os rumos da modalidade.
4) O ano que antecedeu o Mundial Feminino colecionou fiascos na categoria. Mudanças de sede definidas com critérios duvidosos e absoluto marasmo na movimentação de atletas e público em torno da competição deixaram claro que o torneio mais importante do planeta será mais uma oportunidade perdida de catapultar a bola-laranja;
5) As contusões rondaram o que de melhor tem nosso basquete: entre os astros penalizados com a bruxa solta estão Nenê Hilário e Anderson Varejão, cujas temporadas prometiam fortes emoções e polpudos acordos financeiros na liga norte-americana.
6) Na era do mensalão, o basquete entrou na rota de investigações do Congresso Nacional. A comissão de Desporto e Turismo quis ouvir o que tinham a dizer os protagonistas do racha CBB x Nossa Liga. Grego não apareceu e o monólogo só foi evitado com as intervenções de um neosenador-dono de clube.
7) A desastrosa trajetória da seleção feminina no vice da Copa América foi notícia, não pela performance pífia na decisão com as cubanas, mas pela bizarra descoberta da gravidez misteriosa da pivô Silvia Gustavo, que distribuiu — e tomou — cotoveladas na zona pintada às vésperas de dar à luz.
8) A liga mais poderosa do planeta deixou às mínguas seus seguidores mais vorazes da América do Sul no evento mais fantástico do ano. Os aviltantes valores de direitos de transmissão afugentaram as emissoras de TV e, pela primeira vez desde os 90´s, o All-Star Game da NBA só pôde ser acompanhado por assinantes de um provedor de internet.
9) Com fórmulas esdrúxulas e parcos investimentos, os monocórdicos torneios domésticos femininos naufragaram em público e crítica. Enquanto isso, a base da seleção canarinho segue tentando a sorte seduzida pelos euros — até a entusiasta da Nossa Liga, Janeth Arcain, sucumbiu à oferta espanhola.
10) O retrocesso no controle de dopagem ficou estampado em lamentável episódio na decisão dos Jogos Abertos do Interior. Treinadores de reputação indiscutível retiraram das quadras seus principais atletas ao serem informados do antidoping, oferecendo ao público um deprimente embate que valia, pasmem, medalha de ouro.
Por Fábio Zambeli (Rebote)
No crepúsculo de 2005, o Rebote reconstitui os altos e baixos do basquete brasileiro e relembra alguns dos bons e dos maus momentos do ano na virada de folhinha que precede uma jornada promissora para os apaixonados pela bola laranja.
Com calendário cheio, 2006 se aproxima com expectativa e — isso é Brasil! — incerteza. Os prognósticos, nada esotéricos, ficam para as próximas semanas.
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Dez motivos para celebrar 2005:
1) Boicotada até o pescoço, nasce, teimosa, um liga independente de clubes. Mobiliza estados há muito afastados da elite do basquete nacional. Com transmissão pela TV, difunde a modalidade em rincões inóspitos e coloca em atividade um número cada vez maior de atletas com condições de almejar o sucesso.
2) O Hall da Fama reverencia a Rainha e coloca Hortência Marcari entre as celebridades do tradicional memorial de Springfield. Com direito a discurso que beirou a pieguice, o maior ícone da geração que beliscou o ouro na Austrália em 94 virou imortal.
3) Com uma campanha irregular, a seleção masculina sobe ao topo do pódio nas Américas em Santo Domingo e projeta um novo ídolo: Leandrinho, que consolida a condição de puxador do trio elétrico brazuca rumo ao Mundial de Tóquio.
4) Agosto, mês do cachorro louco, subverteu a ordem das telinhas tupiniquins. A reboque de patrocínio estatal, a bola laranja emplacou oito horas de transmissão ao vivo na Vênus Platinada, em rede nacional. Ufa!
5) Os brasileiros puderam, enfim, assistir em tempo real aos campeonatos europeus de seleções — feminino e masculino — graças à equipe da ESPN Brasil, que brindou os basqueteiros com a nata do bola-ao-cesto no Velho Continente.
6) O fracasso histórico no Nacional sacudiu a poeira em Franca, que repatriou Hélio Rubens e alguns de seus pupilos para tentar juntar os cacos do esporte em um de seus mais exitosos celeiros de craques do interior.
7) O Brasil emplacou pela uma inédita final doméstica na principal competição continental de clubes: a Liga Sul-Americana, decidida entre Uberlândia e Ajax/Goiânia, gerenciadas pelo mesmo grupo educacional, que desbancaram os vizinhos portenhos, tradicionais papões da taça.
8) Dois bons exemplos merecem lembrança pela atitude nobre: barrados por razões diferentes na NBA, Alex e Lucas Tischer desembarcaram em solo brasileiro com sede de jogo em Ribeirão e São José dos Pinhais — este último sujeitando-se ao boicote para a seleção.
9) Clubes de massa e tradição como Flamengo (campeão estadual masculino), Fluminense (que reergueu suas categorias de base e brilha com suas meninas) e Sport Recife ressurgem no cenário nacional com fórmulas distintas, mas eficazes de gerir a modalidade — sem recursos e esbanjando criatividade.
10) A prancheta consagrou nomes emergentes, antes refém de meia-dúzia de treinadores com modus operandi manjados e pouco eficazes. Detalhe: as novas celebridades dos bancos de reservas apostaram em intercâmbio. Gastaram sola e mexeram nos bolsos, reconhecendo a imaturidade, e buscando aprendizado no basquete do exterior.
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Dez motivos para esquecer 2005:
1) Celeiros à míngua. Descontada a euforia com o título da Copa América, as categorias de base naufragaram nos torneios continentais, dando aos portenhos a supremacia sul-americana. Em algumas faixas etárias, a camiseta canarinho foi sobrepujada até pelos vizinhos uruguaios.
2) Em processo novamente permeado por troca de acusações e denúncias de cooptação barata, Gerasime Bozikis, o Grego, é reeleito para comandar novo ciclo à frente da CBB, prolongando seu mandato até 2008. A eleição na entidade reeditou a conotação pejorativa da cartolagem desportiva.
3) No embalo da soberba pós-eleitoral, a CBB vetou a convocação de atletas da Nossa Liga nas seleções. A manobra, endossada com falácias legais, evidenciou a tentativa rasteira de evitar que a empreitada paralela liderada por Oscar pusesse na vitrine algumas das estrelas descontentes com os rumos da modalidade.
4) O ano que antecedeu o Mundial Feminino colecionou fiascos na categoria. Mudanças de sede definidas com critérios duvidosos e absoluto marasmo na movimentação de atletas e público em torno da competição deixaram claro que o torneio mais importante do planeta será mais uma oportunidade perdida de catapultar a bola-laranja;
5) As contusões rondaram o que de melhor tem nosso basquete: entre os astros penalizados com a bruxa solta estão Nenê Hilário e Anderson Varejão, cujas temporadas prometiam fortes emoções e polpudos acordos financeiros na liga norte-americana.
6) Na era do mensalão, o basquete entrou na rota de investigações do Congresso Nacional. A comissão de Desporto e Turismo quis ouvir o que tinham a dizer os protagonistas do racha CBB x Nossa Liga. Grego não apareceu e o monólogo só foi evitado com as intervenções de um neosenador-dono de clube.
7) A desastrosa trajetória da seleção feminina no vice da Copa América foi notícia, não pela performance pífia na decisão com as cubanas, mas pela bizarra descoberta da gravidez misteriosa da pivô Silvia Gustavo, que distribuiu — e tomou — cotoveladas na zona pintada às vésperas de dar à luz.
8) A liga mais poderosa do planeta deixou às mínguas seus seguidores mais vorazes da América do Sul no evento mais fantástico do ano. Os aviltantes valores de direitos de transmissão afugentaram as emissoras de TV e, pela primeira vez desde os 90´s, o All-Star Game da NBA só pôde ser acompanhado por assinantes de um provedor de internet.
9) Com fórmulas esdrúxulas e parcos investimentos, os monocórdicos torneios domésticos femininos naufragaram em público e crítica. Enquanto isso, a base da seleção canarinho segue tentando a sorte seduzida pelos euros — até a entusiasta da Nossa Liga, Janeth Arcain, sucumbiu à oferta espanhola.
10) O retrocesso no controle de dopagem ficou estampado em lamentável episódio na decisão dos Jogos Abertos do Interior. Treinadores de reputação indiscutível retiraram das quadras seus principais atletas ao serem informados do antidoping, oferecendo ao público um deprimente embate que valia, pasmem, medalha de ouro.
Fonte: Rebote
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