Mais uma boa do Melk
Há exatos 25 anos, os clubes australianos gritaram basta. Para se manter no esporte, concluíram, eles precisavam de campeonatos mais atraentes e comprometidos com o torcedor. O amadorismo servia à burocracia do basquete, não ao basquete. Eram no início seis equipes. Desesperadas porque faltavam horizontes, esperançosas porque não faltava vontade de acertar, elas se reuniram e fizeram as contas. Descobriram que cada uma só poderia contribuir com 225 dólares. O torneio não nasceria, portanto, com formato ideal. Elas teriam de jogar três vezes no fim de semana! Que fosse.
Anunciaram o torneio e fizeram história. Mas a coluna de hoje não é sobre a saga bem-sucedida da WNBL, salvo engano a mais antiga liga profissional de basquete feminino. É, sim, sobre a reação dos que mandavam no esporte.Há 25 anos, o governo federal australiano chegou à conclusão de que o esporte seria uma importante ferramenta de mobilização social e econômica, talvez a única capaz de agregar um país diluído em dimensões continentais.
Viu no protesto dos clubes um alerta. Talvez fosse arriscado confiar o futuro a uma estrutura que pedia penico em público.Fundou, então, o AIS, um instituto para garantir o desenvolvimento (técnica, tática, preparação física, nutrição, educação etc) das principais modalidades.Há 25 anos, a confederação de basquete australiana engoliu seco. Percebeu que o confronto com os insurrectos arrebentaria o esporte _e, portanto, a própria entidade. Abraçou outra prioridade: a massificação do esporte.Criou um programa de incentivo à prática do basquete entre adolescentes de 12 a 17 anos. As meninas participariam de clínicas (ITCs) nos fins de semana em suas cidades, exclusivamente para burilar fundamentos (sem se preocupar em ganhar o jogo para o "paitrocinador"). Uma vez por ano, as melhores atenderiam ITCs mais sofisticadas, com conceitos táticos. A cada biênio, fariam uma excursão ao exterior.Em quatro anos, tudo se integrou. A AIS inscreveu um time na WNLB, que contratava juvenis lapidadas pelos ITCs, que aplicavam o know-how da AIS.
O resultado? A seleção feminina australiana, até então sem tradição alguma, ganhou medalha nas duas Olimpíadas e nos dois Mundiais mais recentes. As juvenis subiram ao pódio em três dos últimos cinco Mundiais. A melhor jogadora do planeta, Lauren Jackson, louvada até mesmo na xenófoba WNBA, criou-se na AIS.O basquete feminino do Brasil lembra hoje o da Austrália de um quarto de século atrás. Os clubes daqui (seis pioneiros também!) começam a falar em alforria.A diferença está na resposta mesquinha do establishment.O governo continua a financiar o esporte sem fixar planos de ação nem metas. E a confederação, empanturrada de dinheiro público, não faz outra coisa senão sabotar os "rebeldes".
Os Nacionais juvenis interclubes e interestadual deste ano, por exemplo, foram cancelados. Às meninas só restou garantir o quórum dos times "chapa branca". Que pecado.EscrachoA CBB foi incapaz de achar um ginásio em quatro anos e teve de mudar o Mundial feminino de 2004 do Rio de Janeiro para São Paulo.
CapachoA federação do RJ é uma das poucas que contestam o comando atual da CBB. A de São Paulo, por sua vez, é uma das que dizem amém.EsculachoA recém-anunciada gravidez de Adrianinha é um problemão. A seleção hoje não tem uma armadora reserva. Karla, que esteve em Atenas-04, não foi mais lembrada _não se sabe por quê. E Fabianna, a nova aposta do técnico Antonio Carlos Barbosa, foi menos usada neste ano em quadra do que em promoções politiqueiras da CBB.
Folha de SP
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