sábado, 8 de outubro de 2005

Basquete: Na fila pelos 100%

Por Marta Teixeira


Pouco mais de um ano após os Jogos Olímpicos de Atenas, a grande preocupação do basquete para 2008 continua sendo a mesma. Será que, depois de duas edições, o Brasil finalmente conseguirá levar suas duas seleções para Pequim? Com uma trajetória marcada por freqüentes conquistas nas quadras, o feminino mantém-se como candidato forte à classificação. A sombra paira, ainda, sobre o masculino.

No início de uma nova geração, com atletas que jogam na Europa e Estados Unidos, o grupo promete melhores chances na quadra. Mas fora dela, a modalidade ainda está longe de ter ocupado um lugar seguro entre os esportes.

Com três medalhas olímpicas no masculino (bronze Londres-1948, Roma-60 e Tóquio-64), duas no feminino (prata Atlanta-96 e bronze Sydney-2000), bicampeão mundial com os rapazes e campeão com as meninas, o país, ao contrário do vôlei, não conseguiu reverter essas conquistas em uma base sólida para a modalidade.

Há quase 57 anos conduzindo sua vida lado a lado com o basquete, o bicampeão mundial e olímpico Wlamir Marques acompanhou muito de perto tudo o que aconteceu e encontra algumas explicações para a dificuldade do basquete se colocar como um bom ‘negócio’.

“O basquete brasileiro é bem conceituado mundialmente, mas não estamos conseguindo títulos”, sintetiza. Além dessa falta de resultados recentes, a falta de senso de oportunidade no momento certo e uma certa falta de recursos também contribuíram para o quadro atual. Mas a relação de ausências elaborada por Wlamir vai mais longe.

“Faltam ídolos e falta competência para ter as pessoas no lugar certo”, destaca. Comparando com o ‘rival’ vôlei, o ex-jogador é franco. Os resultados importantes conquistados pelo vôlei masculino e feminino são um diferencial, assim como sua estrutura, apesar da modalidade ser mais ‘jovem’. “O vôlei surgiu em 84, antes disso era muito fraco (a geração de prata conseguiu a medalha olímpica em Barcelona-92). Mas a partir daí, fez uma organização melhor que o basquete”.

A passagem de Carlos Arthur Nuzman pelo comando da Confederação Brasileira é destacada por ele como um elemento fundamental para a consolidação da modalidade. “O Nuzman dirigiu a CBV de forma esplendorosa. Os que passaram pela CBB (Confederação Brasileira de Basquete) não conseguiram isso”, lamenta.

Assim, a falta de ‘tino comercial’ impediu que os comandantes do basquete tirassem o máximo proveito de cada conquista. “Os resultados não foram explorados nem divulgados o suficiente”, reclama.

A fórmula apontada por Wlamir para reerguer a modalidade é simples. “Precisamos de grandes conquistas e de trazer eventos importantes para o país”. Na era mais profícua das quadras nacionais, o Brasil recebia campeonatos mundiais, torneios internacionais e dominava no continente.

Neste sentido, algumas coisas têm sido feitas. No ano que vem, o Mundial feminino será aqui. Além disso, ele vê a conquista da Copa América pelos meninos, no início do mês, como um sopro de esperança desde aquele que considera o último grande feito do país no masculino: o vice-campeonato mundial em 1970.

“A gente não estava tendo muito o que vender”, admite. “O título (Copa) é um começo com uma geração nova. Mas tem que ser bem explorado, precisa ter marketing em cima disso”, avisa, vendo um erro estratégico na condução da modalidade. Talvez por isso, acredita, a Confederação ainda não conte com patrocínio para as competições nacionais - o patrocínio da Eletrobras é apenas para as seleções e iniciativas de base.

Para Wlamir, a população já mostrou que o interesse pelo esporte do garrafão permanece. “Vimos isso nos últimos amistosos aqui. Os ginásios estavam sempre cheios”. Este ano, as seleções disputaram 14 amistosos no país (sete masculinos e sete femininos). Sob o comando do técnico Aluísio Ferreira, os meninos atraíram 23.579 pessoas aos jogos (média de 3.368,4), tendo quatro vezes a casa lotada. As meninas de Antonio Carlos Barbosa levaram 21.284 torcedores aos ginásios (média de 3.040,6), com lotação completa em três confrontos.

Agora, se o sonho de ver os dois times em Pequim vai se concretizar ou não, ele lembra que depende de muitos fatores. “É possível pensar que sim... como é possível pensar que qualquer país do mundo também pode", brinca. "Hoje, há muitas equipes fortes. Em Sydney, os Estados Unidos fizeram a final com a França, que não foi aos Jogos de Atenas. Na Grécia, a melhor equipe, na minha opinião, ficou fora da final: a Espanha, que cruzou com os EUA nas quartas-de-final”.

Mas as chances do Brasil para 2008 são reais, considera. “Nossos jogadores estão mais experientes, são jovens e estão com a cabeça focada. Mas se não der desta vez, também não é o fim do mundo. Se olhar quem não for vai ver cada timaço que ficou de fora...”.

Fonte: Gazeta Esportiva

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