Informação e inconformação
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Pelo menos em algo o basquete brasileiro hoje é insuperável. Nem mesmo o futebol arrasta uma crônica on-line tão capacitada, diligente e inquisidora.
Não falo da mídia estabelecida, dos grandes jornais e portais -em que a bola laranja também está bem representada. E, sim, de sites pequenos e independentes, guerrilheiros da opinião.
A maioria dos esportes parece ter abdicado do debate substantivo. Alguns simplesmente porque não têm penetração popular. Outros, como o vôlei, porque há muito tempo não convivem com o dissenso -para o conforto de seus atletas, técnicos e cartolas.
Mesmo a minoria que já mobilizou uma comunidade à margem da imprensa anda anestesiada. É o caso da F-1, à espera de novos temas e polarizações.
A discussão sobre o basquete brasileiro, no entanto, caminha em ritmo frenético na internet -por livre e espontânea vontade.
De onde saiu um garoto como Giancarlo Giampietro, que analisa times e jogadores com notável precisão para o www.rebote.org?
O que move Guilherme Tadeu, do www.draftbrasil.bs2.com.br, que monitora e questiona os passos de todo jovem talento que insiste em despontar no Brasil?
O que fabricou um Fábio Balassiano, dínamo que entrevista/resenha/traduz aos borbotões para o www.databasket.com.br?
Por que no Orkut não há comunidade para exaltar as coxas de Giba e Giovane (digo, de Leandrinho e Varejão) e há várias para detonar a administração da CBB?
Talvez seja por causa do longo jejum de grandes títulos internacionais. Ou a irritação em ver um esporte tão magnífico, de tantas tradições no país, ser gerido sem a dedicação que merece (e precisa). Sei lá, vai ver é só coincidência.
Eu já desisti de tentar entender o que inspirou essa meninada e o que a sustenta no dia-a-dia.
Mas não de acompanhar a importância desse movimento.
Porque é, graças a essa patrulha informada e inconformada, ágil no argumento e no gatilho do e-mail, que o basqueteiro está à vontade para festejar a conquista da Copa América pelo que ela é.
As ressalvas corajosas de Wlamir Marques (ESPN Brasil) à campanha da seleção, no calor do triunfo, são um reflexo disso.
O Brasil pegou adversários fracos e escangalhados, sofreu com uma tática inconsistente, mostrou uma defesa desequilibrada e dependeu demais dos chutes de três pontos (único fundamento em que de fato se destacou).
Mas exibiu força emocional para lidar com seus próprios desfalques, reabilitou Marcelinho como craque, plantou uma semente no garrafão ofensivo e consagrou um pivô de predicados técnicos e atléticos que o país jamais havia produzido (Tiago Splitter, 20 anos).
Falta muito para que a equipe não repita no Japão-2006 o vexame dos últimos três Mundiais. Tiro de longa distância não ganha campeonato de elite há 18 anos!
(O ideal seria mandar todo mundo para Tau, no País Basco, treinar com os caras que lapidaram os fundamentos de Splitter.)
De todo modo, o basquete amadurece por aqui. Hoje é um blog. Quem sabe volte a ser um esporte.
Inho 1
Permitiram que ele chegasse à seleção sem referências, alheio ao que há de mais moderno na modalidade. Que abandonasse o último mês de treinos para caçar emprego. Que disputasse um torneio irrelevante dias antes do embarque. Agora querem que ele pague o pato sozinho? Ok, erros primários do armador custaram ao Brasil duas derrotas. Mas Nezinho é a "cara" de nosso sistema tático (ultrapassado) e de nosso modelo de gestão (politiqueiro). A violência desmedida das críticas denuncia uma arquibancada obtusa -e, pelo jeito, racista.
Inho 2
"Vilão" da seleção até semana passada, Marcelinho acabou a Copa América como líder em pontos, vice em assistências e entre os dez melhores em desarmes, lances livres, tiros de dois e de três pontos.
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Pelo menos em algo o basquete brasileiro hoje é insuperável. Nem mesmo o futebol arrasta uma crônica on-line tão capacitada, diligente e inquisidora.
Não falo da mídia estabelecida, dos grandes jornais e portais -em que a bola laranja também está bem representada. E, sim, de sites pequenos e independentes, guerrilheiros da opinião.
A maioria dos esportes parece ter abdicado do debate substantivo. Alguns simplesmente porque não têm penetração popular. Outros, como o vôlei, porque há muito tempo não convivem com o dissenso -para o conforto de seus atletas, técnicos e cartolas.
Mesmo a minoria que já mobilizou uma comunidade à margem da imprensa anda anestesiada. É o caso da F-1, à espera de novos temas e polarizações.
A discussão sobre o basquete brasileiro, no entanto, caminha em ritmo frenético na internet -por livre e espontânea vontade.
De onde saiu um garoto como Giancarlo Giampietro, que analisa times e jogadores com notável precisão para o www.rebote.org?
O que move Guilherme Tadeu, do www.draftbrasil.bs2.com.br, que monitora e questiona os passos de todo jovem talento que insiste em despontar no Brasil?
O que fabricou um Fábio Balassiano, dínamo que entrevista/resenha/traduz aos borbotões para o www.databasket.com.br?
Por que no Orkut não há comunidade para exaltar as coxas de Giba e Giovane (digo, de Leandrinho e Varejão) e há várias para detonar a administração da CBB?
Talvez seja por causa do longo jejum de grandes títulos internacionais. Ou a irritação em ver um esporte tão magnífico, de tantas tradições no país, ser gerido sem a dedicação que merece (e precisa). Sei lá, vai ver é só coincidência.
Eu já desisti de tentar entender o que inspirou essa meninada e o que a sustenta no dia-a-dia.
Mas não de acompanhar a importância desse movimento.
Porque é, graças a essa patrulha informada e inconformada, ágil no argumento e no gatilho do e-mail, que o basqueteiro está à vontade para festejar a conquista da Copa América pelo que ela é.
As ressalvas corajosas de Wlamir Marques (ESPN Brasil) à campanha da seleção, no calor do triunfo, são um reflexo disso.
O Brasil pegou adversários fracos e escangalhados, sofreu com uma tática inconsistente, mostrou uma defesa desequilibrada e dependeu demais dos chutes de três pontos (único fundamento em que de fato se destacou).
Mas exibiu força emocional para lidar com seus próprios desfalques, reabilitou Marcelinho como craque, plantou uma semente no garrafão ofensivo e consagrou um pivô de predicados técnicos e atléticos que o país jamais havia produzido (Tiago Splitter, 20 anos).
Falta muito para que a equipe não repita no Japão-2006 o vexame dos últimos três Mundiais. Tiro de longa distância não ganha campeonato de elite há 18 anos!
(O ideal seria mandar todo mundo para Tau, no País Basco, treinar com os caras que lapidaram os fundamentos de Splitter.)
De todo modo, o basquete amadurece por aqui. Hoje é um blog. Quem sabe volte a ser um esporte.
Inho 1
Permitiram que ele chegasse à seleção sem referências, alheio ao que há de mais moderno na modalidade. Que abandonasse o último mês de treinos para caçar emprego. Que disputasse um torneio irrelevante dias antes do embarque. Agora querem que ele pague o pato sozinho? Ok, erros primários do armador custaram ao Brasil duas derrotas. Mas Nezinho é a "cara" de nosso sistema tático (ultrapassado) e de nosso modelo de gestão (politiqueiro). A violência desmedida das críticas denuncia uma arquibancada obtusa -e, pelo jeito, racista.
Inho 2
"Vilão" da seleção até semana passada, Marcelinho acabou a Copa América como líder em pontos, vice em assistências e entre os dez melhores em desarmes, lances livres, tiros de dois e de três pontos.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário