terça-feira, 5 de julho de 2005

Jogo de palavras

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A página de 25 de maio de 1997 da "Gazeta Esportiva" se esfarelou. O conteúdo da entrevista de Gerasime Bozikis também. Das promessas de palanque do então candidato à presidência da Confederação Brasileira de Basquete, nada sobrou de pé.
Confira as principais declarações registradas há oito anos pelo repórter Juarez Araújo e repare como a história do esporte vem sendo escrita com a borracha:
"Por dois anos buscamos um grupo disposto a fazer basquete em seus Estados, e não a tirar proveito de seus cargos.
"O basquete brasileiro precisa de novas idéias administrativas. Apoiar mais as federações que estão em total abandono, dar condições a elas de realizar seus campeonatos com dignidade.
"Temos planos de reativar todos os campeonatos nacionais, do míni ao juvenil, no feminino e no masculino. Esses campeonatos são como uma Olimpíada para muitas federações, e não podem ficar sem ser realizados.
"Sou favorável à profissionalização com uma Associação de Clubes, apesar de acreditar que isso não acontece de uma hora para outra. Quem tem de fazer o movimento são os clubes. Gostaria de ver essa liga com a presença de campeões regionais do Nordeste, Norte, Centro-Oeste."
É isso aí. O cartola que criticava a locupletação é o mesmo que, empossado, estuprou o estatuto da CBB para pavimentar o segundo mandato e sabe-se-lá-o-que-fez para garantir o terceiro.
Se na campanha ele jurava fomentar o esporte fora de São Paulo, no poder nunca se envolveu pessoalmente. Aceitou o interesse fátuo de clubes de futebol e, depois, de universidades de pouco prestígio. O basquete paulista perdeu força sem que a "privatização" tenha resultado em contrapartida nos outros Estados.
Aquele que se comprometia a revitalizar o circuito de base é o mesmo que, apesar do recorde de verbas públicas, permitiu que o número de praticantes estancasse no país. Que fez dos torneios da garotada uma moeda no toma-lá-dá-cá com as federações.
Em 1997, antenado com as principais potências da modalidade, Bozikis recomendava a liga independente de clubes. Em 2005, aconchegado no gabinete, não faz outra coisa senão torpedear o ideal emancipacionista.
Por isso não me pasmou o noticiário das últimas semanas. Se o patrão não honra a palavra, o que podíamos esperar dos acólitos? Tanto o COC, de Ribeirão Preto, como o grupo Universo, com três times no último Nacional, haviam endossado em março o nome de Oscar Schmidt para dirigir o primeiro Brasileiro organizado pelos clubes. Um gesto esquisito, dada a afinidade dos dois com a administração Bozikis.
Vê-se agora que era tudo teatro. Inspirados sabe-se-lá-de-que-forma pela CBB, os dois já cindiram com o movimento de alforria. Como justificativa, reclamaram das explosões emocionais do ex-cestinha. Algo tão esfarrapado como estranhar o bigode de Lula.
Na entrevista de 1997, Bozikis anunciava: "O tempo será testemunha de nossas realizações". O tempo e o vento, eu acrescento.

Grito 1
De Oscar, sobre a nova liga: "Todos sempre falaram, mas nunca fizeram nada. Estamos tentando fazer. É muito mais difícil do que falar".

Grito 2
De Paula, administradora do Ibirapuera, uma voz dissonante sobre o Rio-2007: "O Pan é uma competição medíocre. O Brasil vai acabar ganhando quase tudo. Todos vão ficar empolgados e, depois, na Olimpíada de Pequim, verão que a realidade não é bem essa".

Grito 3
Da ala Jaqueline, nada deslumbrada caloura da seleção que vai ao Sul-Americano: "Jundiaí só tem categorias de base, e este foi meu último ano de juvenil. Espero que seja montado um time adulto".

E-mail melk@uol.com.br


Fonte: Folha de São Paulo

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