terça-feira, 19 de abril de 2005

Liga independente aprova seu estatuto em confronto com a Confederação Brasileira

Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo


A liga de clubes presidida pelo ex-jogador Oscar Schmidt e idealizada há cerca de um mês para acabar com o domínio da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) sobre os clubes teve seu estatuto aprovado nesta segunda-feira. Em uma reunião no clube Paulistano, em São Paulo, estiveram presentes representantes de clubes, da arbitragem, dos jogadores e de treinadores que consolidaram a criação de um novo campeonato.

A criação da "Nossa Liga de Basquete", que terá sede em São Paulo, entrará em confronto com a CBB. A nova entidade conta com o apoio de estrelas do esporte, como Paula, Hortência e Janeth, e surge para dar maior independência aos clubes, que se sentiam prejudicados com a divisão de verbas feita pela CBB.

A liga independente pode, contudo, ganhar adesão da CBB. A chapa de oposição para as eleições presidenciais de 2 de maio, encabeçada por José Medalha e Hélio Barbosa, já manifestou intenção de apoio. Do outro lado, está o atual mandatário, Gerasime Nicolas Bozikis, o Grego, que foi convidado para a reunião da tarde desta segunda e não apareceu, mas combinou uma nova data com Oscar para expor suas idéias.

O alvo inicial da liga independente são os contratos comerciais, que atualmente são de exploração da CBB. Os clubes querem maior participação, como escolher as emissoras de TV que vão transmitir o evento, definir as regras para contrato com o material de jogo e obter lucro maior na publicidade estampada nos ginásios. Em um discurso uniforme, os integrantes da nova liga mostraram que não querem ser uma oposição à confederação ou tirar poder dela, mas que buscam uma alternativa financeiramente viável para os clubes, que querem "simplesmente organizar um campeonato".

"Não estou aqui contra a CBB, estou aqui a favor dos clubes e a favor de uma modalidade que está esquecida", disse Hortência.

Esse texto, porém, vai de encontro com uma das prioridades iniciais da nova entidade. A "Nossa Liga de Basquete" terá de buscar reconhecimento da CBB, pois, caso contrário, os clubes não poderão ter jogadores na Seleção Brasileira ou participar da Liga Sul-Americana de Clubes, por exemplo. Mas esse medo não faz parte do pensamento de Oscar Schmidt.

"Pior do que está não tem como ficar. Se tudo der errado, pelo menos teremos oportunidade de mandar no nosso próprio ginásio. A CBB ensinou para nós que não precisamos dela, e a Liga só não dará certo se os clubes forem medrosos. Em dois meses, podemos fazer o que não foi feito em 70 anos. Até hoje, estávamos desorganizados, trabalhando no basquete cada um por si. Agora temos uma liga e estamos prontos para fazer o basquete decolar”, disse Oscar.

Outro problema a ser superado, nesse caso, é a formação de um quadro de árbitros. Se a liga independente não for filiada pela CBB, ela não poderá utilizar os juízes que atuam pela confederação. Em caso de haver um árbitro dissidente e que migre para o quadro da liga independente, haveria o temor de ele ser preterido em futuras indicações para apitar em Campeonatos Mundiais ou Olimpíadas. Isso, porém, não existe na idéia de Carlos Renato dos Santos, um dos principais árbitros do país e que apitou as finais dos Jogos de Atenas-2004 e de Sydney-2000.

"Não tenho medo que a CBB não me escale mais, porque não vivo do basquete. Até gostaria de viver do basquete, de ser profissional do esporte, mas infelizmente isso não acontece no Brasil”, afirmou Renatinho.

Instituída no dia 16 de março, na casa de Oscar, em Barueri (SP), a "Nossa Liga de Basquete" começou a ter seu estatuto esboçado no dia 28. Há 12 dias, a nova entidade conseguiu o apoio de grandes estrelas como Paula, Hortência e Janeth e começou a discussão para que seja criada uma liga independente também no basquete feminino.

Com a intenção de fazer um campeonato de oito a nove meses de duração, a liga terá, além do presidente Oscar, mais seis vice-presidentes (dois deles para o feminino) e seis diretores (com mais dois para o feminino). Todos esses cargos terão mandato de dois anos, sem direito a reeleição. O poder máximo da liga será a assembléia geral de clubes, em que as decisões terão voto aberto. Depois, vêm o presidente, a diretoria e o conselho fiscal.

"Isso é para dar credibilidade à Liga. Não estamos aqui para mandar em ninguém e sim para mudar a situação no basquete, a minha sugestão foi de nem ter um presidente, mas, para meios legais, era preciso isso, e acabei sendo eleito”, lembrou Oscar.

A nova liga terá três tipos de integrantes. Os fundadores, do qual fazem parte os 16 times que disputam o Campeonato Nacional, os sócios-permanentes e os sócios-franqueados. Os clubes que enviarem documentação com o pedido para entrar na liga até o dia 26 de abril entram como sócios-permanentes. Nessa categoria, já há 13 clubes femininos, sendo que o último Campeonato Nacional, organizado pela CBB, teve apenas oito participantes.

Os clubes que entregarem seus "papéis" depois do dia 26 terão de pagar um valor ainda não definido e terão de ser apresentados por outros dois clubes sócios para virarem sócios-franqueados. Ainda assim, a aprovação só será feita por maioria em assembléia geral.

No rastro deixado pela liga independente, foi criada na semana passada uma Associação de Jogadores, que deve ter a cestinha Janeth Arcain como presidente.

"Quero deixar claro que a associação é independente da liga, é uma coisa que nós, jogadores, pensamos há muito tempo, mas que só agora que temos um momento oportuno para colocar em prática", disse a jogadora do Houston Comets.

Além de apoiar a entidade de defesa dos direitos dos jogadores, a liga independente também pretende criar uma associação de árbitros e incentivar a associação que já existe para os treinadores.

Fonte: UOL

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