Estética da fama
Hortência e Semjonova: destinos cruzados no Hall da Fama
Hortência e Semjonova: destinos cruzados no Hall da Fama
Por Fábio Zambeli
A geopolítica do esporte desenhou involuntariamente esta semana um alvissareiro capítulo na história do basquete.
Observemos as coordenadas do extravagante mapa concebido ao acaso.
Potirendaba, cidade paulista de 12 mil habitantes, e Daugavpils, pólo industrial de 150 mil moradores no sudeste da Letônia, são nomes pouco disseminados no meio. Passariam incólumes aos olhos dos basqueteiros não fosse o fato de terem gerado dois prodígios em um seleto grupo de celebridades do bola-ao-cesto.
Ao contrário de Springfield (MA, EUA), nome recorrente no glossário dos apaixonados pela modalidade em cujo território brotara em 1891 pelas mãos de James Naismith.
O bucólico município do interior de São Paulo é berço de Hortência de Fátima Marcari, 45 anos.
No frio território báltico nascia há 53 anos Uljana Semjonova.
Enfim, a conexão Massachussets: onde agora coabitam as estrelas em questão.
As duas únicas não-americanas a assegurarem vagas no Hall da Fama colecionam façanhas nas quadras.
Não por acaso ostentam credenciais de sobra para a galeria de notáveis.
A pivô da ex-república soviética, precursora entre as forasteiras ao entrar para o Memorial Naismith em 93, gaba-se de uma invencibilidade de 18 temporadas do alto de seus 2,10m. Para não falar do bi olímpico (76-80) e do tri mundial (71, 75 e 83).
A brasileira, recém-eleita para o Hall, atende pela alcunha de “Rainha”. A coroa lhe fora atribuída como conseqüência de um longo e virtuoso ciclo, recheado de medalhas, muitas delas douradas – a mais brilhante arrebatada na Austrália, em 2004.
Semelhanças à parte, Hortência e Semjonova se distinguem por talentos peculiares.
Enquanto a gigante soviética explorava os garrafões adversários com tresloucados giros e cravando 15 mil pontos em sua trajetória essencialmente impondo-se pela envergadura, a lateral brazuca, em meio a suspiros e gracejos, desfilava leveza, dribles, tiros precisos e bandejas meticulosas pelos ginásios em que deixou sua marca.
Já travaram duelos históricos, com larga vantagem para a jogadora européia. No mais duro embate, em São Paulo, liderada por Semjonova, a URSS anotou 99 a 75 pelo Mundial de 83.
Ambas dividem a mesma honraria: estão no topo, no cume da modalidade no planeta.
Em setembro, Hortência será agraciada com o anel que simboliza o ingresso no Hall da Fama.
Em uma era dominada pela truculência nas quatro linhas, premiar a Rainha é reconhecê-la como legítima representante do basquetebol-arte – com o perdão do eufemismo.
Os engravatados membros do comitê de honra de Massachussets entoaram, com a escolha, uma verdadeira ode ao biótipo franzino capaz de transformar triviais jogadas em pinturas que remetiam à Renascença.
No epílogo desse embate travado no universo da fantasia, a robusta Semjonova, com vigor característico de fera, vê triunfar seu corta-luz para a bela infiltração de Hortência rumo à mais gloriosa cesta de sua carreira.
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Zona Morta
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))) Faltam só 17 meses para o 15º Mundial Feminino. O Brasil será sede do torneio em 2006, embora a notícia pareça se disseminar em baixa impedância. E a comissão técnica da seleção pensa nos equipamentos de segurança dos funcionários das praças de esportes de Bauru – afinal, o basquete virou bico para o secretário.
))) Oito equipes caipiras digladiam pelo título paulista de 2005. Ourinhos, campeã nacional, desponta como favorita, com a experiente pivô cubana Lisdeivi Pompa no comando – agora assistida também por Lílian e Palmira.
))) Sem alarde, a ESPN exibiu na madrugada de quarta a final da NCAA feminina: Baylor superou Michigan State no RCA Dome de Indianapolis e levou o caneco universitário norte-americano com exuberante desempenho da terceiro-anista Sophia Young (26 pontos, 9 rebotes).
Fonte: o excelente site Rebote.org
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