Carla Sintra
A trajetória de Carla Sintra parece roteiro da mocinha da novela das 8. Nascida em uma cidade sem tradição no basquete feminino, as opções da jovem de classe média que se apaixonou meio que ao acaso pelo esporte pareciam poucas. Até que em 1998, a menina foi convidada a completar um time que se improvisava na cidade, trazido por Hortência, para disputar o primeiro Campeonato Nacional. O projeto durou apenas até as quarta-de-final do torneio, quando o time foi eliminado. Mas abriu horizontes para a goiana, que no ano seguinte foi ao BCN-Osasco. De lá, foi à Araçatuba, onde admite ter aprendido tudo o que sabe sobre basquete. Mais um time que deixou de existir e Carla juntou as malas e foi para os Estados Unidos, onde está há quatro anos. Não mais que de repente, Carla se vê agora como campeã da Divisão II da NCAA, acumulando elogios por suas atuações e prêmios. Admitindo estar esquecendo o português e achando graça dos americanos que lhe perguntam se ela vai ser convocada para a seleção brasileira, Carla Sintra falou ao Blog do Basquete Feminino na última semana.
1. Como foi se envolver com o basquete numa cidade (Goiânia), que não tradição na modalidade?
Na verdade, eu me envolvi com basquete sem pensar nas tradições, ou no que isso poderia resultar na minha vida. Tudo pra mim era uma brincadeira: eu adorava estar com amigos e treinar. Mas como nos outros esportes, todos os atletas que são de classe média têm problemas com a família. Principalmente quando você quer fazer parte de um esporte que não tem tradições e que todos pensam que você não vai ganhar nada, mesmo fazendo o que você gosta. Se eu não tivesse tentado, eu nunca teria conquistado tudo o que eu conquistei até hoje. Não como atleta, mas como experiência de vida.
2. Mesmo sem ter chances de jogar, a chegada do time profissional dirigido por Hortência, em 1998, representou um novo horizonte na sua carreira? Fale sobre essa experiência.
Quando o Vila Nova formou o time, era tudo um sonho para mim estar jogando com algumas das melhores jogadoras do Brasil como Helen, Vânia Teixeira, Casé e Lígia e sem falar da oportunidade de estar em volta da super-star Hortência, uma pessoa que respeito e admiro muito. Eu e as outras goianas que estavam na equipe fizemos o que pudemos para tirar todo o proveito que podíamos. A oportunidade que tivemos não é qualquer atleta que pode ter.
3. Depois, você passou pela cidade de Araçatuba, não foi? Fale dessa temporada.
Joguei em Araçatuba apenas um ano. Mas foi o ano que mais aprendi sobre basquete. Eu era a mais nova da equipe, e tudo o que eu poderia fazer era escutar. Especialmente quando as jogadoras em volta de você sabem tudo do esporte. No começo, foi difícil a transição, porque eu não tinha muita técnica. Com isso, na primeira rodada do campeonato eu jogava como reserva. Quando a segunda rodada começou, eu já tinha aprendido mais e estava mais entrosada com o time e comecei como titular. Quando os técnicos aqui no Estados Unidos me perguntam como eu me formei como jogadora tudo o que eu falo é das minhas companheiras de equipe naquela época, não só as jogadoras, mas o nosso amado Morto (o técnico Nelson Luz). Infelizmente, nós perdemos o patrocínio e todas nós tivemos que nos separar, mas elas estão no meu coração, porque tudo o que eu sei hoje de basquete aprendi com elas.
4. Como surgiu a oportunidade de ir para os Estados Unidos?
Infelizmente no Brasil quando você faz parte de qualquer esporte fica difícil pra você pensar na sua educação. E como todos nós sabemos algum dia você vai ficar velho, e o que fazer sem esporte e sem educação? Foi com esse pensamento que decidi vir para os Estados Unidos. A Karina é uma amiga minha que joga aqui e eu falei com ela sobre a oportunidade de vir pra cá, para jogar e estudar aqui. Na mesma semana um técnico ligou pra ela falando que eu poderia vir e que tudo estava pronto. Sem pensar duas vezes, arrumei minhas malas e vim parar nos Estados Unidos. Tudo isso aconteceu dessa maneira porque os técnicos de colleges americanos adoram o talento das jogadoras brasileiras. É uma pena que no Brasil eles não nos dão o mesmo valor.
5. Fale um pouco da sua trajetória até chegar a Wasburn University.
Quando eu cheguei no EUA eu fui primeiro para um Junior College, em Levelland Texas, onde joguei para o South Plains College por dois anos. Meu primeiro ano foi muito difícil, porque eu não falava inglês, e ir para o treino sem entender o que o técnico estava falando foi um desafio pra mim e para a Eldra (Paixão, armadora) que jogava comigo, mas graças a Deus conhecemos uma família maravilhosa (os Wilson) que ao passar dos dias foram nos ensinando a língua e nos ajudando com os trabalhos escolares. No meu segundo ano, já foi mais fácil de lidar com os técnicos, porque sabíamos o que eles estavam falando e o que eles queriam de nós dentro de quadra. Na realidade, podíamos nos comunicar com eles. Quando você joga no Junior College, você só pode jogar dois anos e depois dos dois anos você tem que ir para a universidade. E foi assim que Washburn University me ofereceu a proposta de vir jogar pra eles e terminar meus estudos.
6. Com quantos anos você está? Qual sua altura? Que curso você vem fazendo na Washburn?
Hoje eu estou com 23 anos, tenho 1,83m. Estudo Fisiologia do Exercício.
7. Você jogou a MIAA não foi? Fale um pouco dessa liga.
MIAA é o nome da nossa conferência. Nessa conferência, jogamos contra dez times duas vezes. A MIAA é considerada umas melhores conferências aqui nos EUA. Temos 4 times que estão entre os 25 melhores times do Estados Unidos. O time da Eldra e da Selma Barbosa também joga nessa conferência. Chama-se Missouri Western. Joguei contra elas aqui.
Antes de você ir para os Nacionais, você joga sua conferência e regionais. Para ir aos reginoais, seu time tem que se classificar entre os oito melhores da região. Se vc perde nos Regionais, perde a chance de ir para os Nacionais.
Esse ano, quebramos o récorde da MIAA, com 35 vitórias e apenas duas derrotas. Somos o primeiro time da MIAA a ganhar os Nacionais.
![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_v4f6r_K4RdWSotXtHJtl8GzRghWW41huPLKYyeuQdczbYBEetAT1k-msynWLyLH3s2WcUrY-v_LSftYAISaE2r4m_TK5til_ShTotRl80=s0-d)
8. Em Março, você foi eleita a MVP da MIAA. Fale dessa conquista.
Ser MVP dessa conferência representa todas as gotas de suor que gastei para chegar onde cheguei. Ninguém sabe o quanto é dificil ir pra outro país, sem falar a lingua nativa, deixanado seus familiares, seus costumes, para tentar obter successo e experiência de vida.
9. Agora, você acaba de conquistar o título da Segunda Divisão da NCAA, de ser eleita para o "WBCA All-American team" e ser eleita a "Most Outstanding Player" da temporada. Fale sobre a conquista do título, como foi a fase final e da importância de cada um desses títulos.
Quando fomos jogar os Nacionais nós não éramos as favoritas do campeonato, mas sabíamos que por jogarmos em uma conferência forte; poderíamos usar nossa experiencia para ir às finais da NCAA. Ganhamos nossos dois primeiros jogos e fomos para as final, que jogamos contra a Seatle Pacific. Ganhamos de 17 pontos. Hoje somos campeãs nacionais. O melhor de tudo é que eu e minhas companheiras de equipe vamos ficar na história da NCAA e da nossa Universidade. Acho que eu não tenho palavras para explicar a importância de todos os titulos que ganhei. Quando fiquei sabendo que eu fui eleita uma Kodak All-American, meu coração quase parou. Parecia que que eu estava nas nuvens. Com esse titulo, eu provo para todas as pessoas que nunca me deram crédito como jogadora estavam erradas e são erradas. Acredito que todas a pessoas merecem uma chance para provar o que elas podem fazer. Foi isso que provei aqui nos Estados Unidos. Estou no país onde o melhor basquete do mundo é jogado e sou considerada ALL-American e Most Outstanding Player. O que mais uma jogadora como eu poderia esperar ?! Just Do It.
10. Quais são seus planos para o futuro?
Vou ser assistente técnica do meu time no ano que vem, ate eu me formar. Depois disso, não sei o que vou fazer. Não planejo muito minha vida. Sempre tento viver um dia apos o outro. Às vezes, acho que é por isso que minha mãe fica meia chateada comigo, porque nunca sei o que quero fazer. Mas aos poucos, mesmo sem planos, vou conquistando meu successo.
Na verdade, eu me envolvi com basquete sem pensar nas tradições, ou no que isso poderia resultar na minha vida. Tudo pra mim era uma brincadeira: eu adorava estar com amigos e treinar. Mas como nos outros esportes, todos os atletas que são de classe média têm problemas com a família. Principalmente quando você quer fazer parte de um esporte que não tem tradições e que todos pensam que você não vai ganhar nada, mesmo fazendo o que você gosta. Se eu não tivesse tentado, eu nunca teria conquistado tudo o que eu conquistei até hoje. Não como atleta, mas como experiência de vida.
2. Mesmo sem ter chances de jogar, a chegada do time profissional dirigido por Hortência, em 1998, representou um novo horizonte na sua carreira? Fale sobre essa experiência.
Quando o Vila Nova formou o time, era tudo um sonho para mim estar jogando com algumas das melhores jogadoras do Brasil como Helen, Vânia Teixeira, Casé e Lígia e sem falar da oportunidade de estar em volta da super-star Hortência, uma pessoa que respeito e admiro muito. Eu e as outras goianas que estavam na equipe fizemos o que pudemos para tirar todo o proveito que podíamos. A oportunidade que tivemos não é qualquer atleta que pode ter.
3. Depois, você passou pela cidade de Araçatuba, não foi? Fale dessa temporada.
4. Como surgiu a oportunidade de ir para os Estados Unidos?
Infelizmente no Brasil quando você faz parte de qualquer esporte fica difícil pra você pensar na sua educação. E como todos nós sabemos algum dia você vai ficar velho, e o que fazer sem esporte e sem educação? Foi com esse pensamento que decidi vir para os Estados Unidos. A Karina é uma amiga minha que joga aqui e eu falei com ela sobre a oportunidade de vir pra cá, para jogar e estudar aqui. Na mesma semana um técnico ligou pra ela falando que eu poderia vir e que tudo estava pronto. Sem pensar duas vezes, arrumei minhas malas e vim parar nos Estados Unidos. Tudo isso aconteceu dessa maneira porque os técnicos de colleges americanos adoram o talento das jogadoras brasileiras. É uma pena que no Brasil eles não nos dão o mesmo valor.
5. Fale um pouco da sua trajetória até chegar a Wasburn University.
Quando eu cheguei no EUA eu fui primeiro para um Junior College, em Levelland Texas, onde joguei para o South Plains College por dois anos. Meu primeiro ano foi muito difícil, porque eu não falava inglês, e ir para o treino sem entender o que o técnico estava falando foi um desafio pra mim e para a Eldra (Paixão, armadora) que jogava comigo, mas graças a Deus conhecemos uma família maravilhosa (os Wilson) que ao passar dos dias foram nos ensinando a língua e nos ajudando com os trabalhos escolares. No meu segundo ano, já foi mais fácil de lidar com os técnicos, porque sabíamos o que eles estavam falando e o que eles queriam de nós dentro de quadra. Na realidade, podíamos nos comunicar com eles. Quando você joga no Junior College, você só pode jogar dois anos e depois dos dois anos você tem que ir para a universidade. E foi assim que Washburn University me ofereceu a proposta de vir jogar pra eles e terminar meus estudos.
6. Com quantos anos você está? Qual sua altura? Que curso você vem fazendo na Washburn?
Hoje eu estou com 23 anos, tenho 1,83m. Estudo Fisiologia do Exercício.
7. Você jogou a MIAA não foi? Fale um pouco dessa liga.
MIAA é o nome da nossa conferência. Nessa conferência, jogamos contra dez times duas vezes. A MIAA é considerada umas melhores conferências aqui nos EUA. Temos 4 times que estão entre os 25 melhores times do Estados Unidos. O time da Eldra e da Selma Barbosa também joga nessa conferência. Chama-se Missouri Western. Joguei contra elas aqui.
Antes de você ir para os Nacionais, você joga sua conferência e regionais. Para ir aos reginoais, seu time tem que se classificar entre os oito melhores da região. Se vc perde nos Regionais, perde a chance de ir para os Nacionais.
Esse ano, quebramos o récorde da MIAA, com 35 vitórias e apenas duas derrotas. Somos o primeiro time da MIAA a ganhar os Nacionais.
8. Em Março, você foi eleita a MVP da MIAA. Fale dessa conquista.
Ser MVP dessa conferência representa todas as gotas de suor que gastei para chegar onde cheguei. Ninguém sabe o quanto é dificil ir pra outro país, sem falar a lingua nativa, deixanado seus familiares, seus costumes, para tentar obter successo e experiência de vida.
9. Agora, você acaba de conquistar o título da Segunda Divisão da NCAA, de ser eleita para o "WBCA All-American team" e ser eleita a "Most Outstanding Player" da temporada. Fale sobre a conquista do título, como foi a fase final e da importância de cada um desses títulos.
Quando fomos jogar os Nacionais nós não éramos as favoritas do campeonato, mas sabíamos que por jogarmos em uma conferência forte; poderíamos usar nossa experiencia para ir às finais da NCAA. Ganhamos nossos dois primeiros jogos e fomos para as final, que jogamos contra a Seatle Pacific. Ganhamos de 17 pontos. Hoje somos campeãs nacionais. O melhor de tudo é que eu e minhas companheiras de equipe vamos ficar na história da NCAA e da nossa Universidade. Acho que eu não tenho palavras para explicar a importância de todos os titulos que ganhei. Quando fiquei sabendo que eu fui eleita uma Kodak All-American, meu coração quase parou. Parecia que que eu estava nas nuvens. Com esse titulo, eu provo para todas as pessoas que nunca me deram crédito como jogadora estavam erradas e são erradas. Acredito que todas a pessoas merecem uma chance para provar o que elas podem fazer. Foi isso que provei aqui nos Estados Unidos. Estou no país onde o melhor basquete do mundo é jogado e sou considerada ALL-American e Most Outstanding Player. O que mais uma jogadora como eu poderia esperar ?! Just Do It.
10. Quais são seus planos para o futuro?
Vou ser assistente técnica do meu time no ano que vem, ate eu me formar. Depois disso, não sei o que vou fazer. Não planejo muito minha vida. Sempre tento viver um dia apos o outro. Às vezes, acho que é por isso que minha mãe fica meia chateada comigo, porque nunca sei o que quero fazer. Mas aos poucos, mesmo sem planos, vou conquistando meu successo.
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