terça-feira, 18 de janeiro de 2005

O chapeleiro

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


Eu tiro o chapéu para os jogadores do time de Limeira, que lavam na mão, às vezes no próprio chuveiro, o uniforme que estampa as finais do Paulista.
Tiro o chapéu para o técnico Zanon, que ajudou a fundar o clube e que cuida de todos os assuntos extraquadra da equipe, a segunda menor folha de pagamento do campeonato.
Tiro o chapéu especialmente para o valente ala-pivô Telmo, cujo jogo é tão enrolado quanto os "erres" de seu sotaque caipira, mas que, de volta à cidade que o projetou há exatos dez anos, tornou-se o símbolo dessa campanha de superação limeirense.
Talvez não haja outro atleta tão odiado, tão insultado nos ginásios do Estado. Até por conta disso, para o armador carne-de-pescoço Nezinho, hoje o melhor jogador no basquete paulista, eu tenho de tirar o chapéu.
Assim como tenho de tirar o chapéu para o ala Renato, a voz lúcida que contrabalança as explosões emocionais do companheiro, fazendo do Ribeirão Preto o superfavorito ao título.
E como também tenho de tirar para a rede de escolas COC, que insistiu em uma modalidade decadente no país e agora vislumbra o tetracampeonato estadual.
Para a Paula, que não desiste de tentar ajudar o esporte e acaba de reassumir o Centro Olímpico do Ibirapuera, eu tiro o chapéu.
Para a irmã dela, Branca, que dá murro em ponta de faca para viabilizar o time de Piracicaba na Série A e resgatar a gloriosa tradição do basquete feminino dessa cidade, eu também tiro.
Outra que persevera, que gira o país (e o mundo) à procura de oportunidades de jogar, em uma cruzada de se tirar o chapéu, é a Cíntia, do Americana. A menos talentosa e a mais raçuda das irmãs e armadoras Luz é, por ora, a cestinha e protagonista da pouco empolgante final do Nacional, o enésimo encontro entre Ourinhos e Americana em mata-matas.
Tiro, ainda, o chapéu para as jovens armadoras Ana Flávia e Cristina, que travam o único confronto interessante desta decisão.
Eu tiro o chapéu para Anderson Varejão, que não pára de surpreender o Cleveland e a NBA. O ala-pivô tem atributos físicos (é alto, resistente e rápido), técnicos (timing perfeito para tocos e rebotes) e pessoais (penteado maneiro, cara de menino, alto-astral) para virar ídolo nos EUA.
E, mesmo correndo o risco de parecer um incentivo à violência, eu vou tirar o chapéu para Nenê. Agredido por um brutamontes durante uma partida na NBA, o ala-pivô reagiu com murros -e não com ganidos de vira-latas.
Eu tiro o chapéu para a assessoria de imprensa da confederação brasileira, sempre cumpridora. Para a arbitragem paulista, de bom nível em quase todos os jogos televisionados. Para os estatísticos, que ajudam o país a descobrir todas as nuances do esporte.
Tiro o chapéu para todo basqueteiro sério, consciente e brigador, gente que se distingue dos balofos que se locupletam, que se fartam do dinheiro público e passam o ano no boteco, indiferentes à lama que só faz subir, uma turma que já devia ter pego o seu banquinho e saído de mansinho.

Auditório 1
O consórcio Rio Sport Plaza, que cuidará de obras do Pan do Rio-2007, duvida que o ginásio poliesportivo fique pronto antes de setembro de 2006, a tempo de abrigar o Mundial feminino de basquete.

Auditório 2
Sem ginásio para a final, Limeira tentou levar um de seus jogos para Franca, a fim de explorar a rivalidade dessa cidade com Ribeirão Preto. Mas a federação agiu bem. Barrou a catimba e definiu Piracicaba.

Auditório 3
José Medalha e Hélio Barbosa, da oposição, prometeram aparecer no debate entre candidatos à CBB, sábado, na Univercidade (Rio). O atual presidente, Gerasime Bosikis, ainda não respondeu se vai.

E-mail melk@uol.com.br


Fonte: Folha de São Paulo

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