terça-feira, 21 de setembro de 2004

Jovens da seleção rejeitam chance em 2008 e pedem vaga já em 2006

Bruno Doro
Em São Paulo


"Não vou esperar até as Olimpíadas de Pequim. Quero ser titular já no Mundial do Brasil". A frase, da pivô Kelly, 24 anos, mostra o clima das jogadoras jovens da seleção feminina do Brasil.

Com a possibilidade de participar dos Jogos da China, em 2004, sem algumas veteranas, as atletas mais jovens pedem chances imediatas. O próximo grande campeonato da equipe é o Mundial de 2006, que será disputado no Brasil.

O objetivo é evitar que a seleção chegue à próxima edição das Olimpíadas sem jogadoras experimentadas para todas as posições. A pivô Alessandra, 30 anos, já disse que não deve disputar os Jogos de 2008. Janeth estará com 39 anos e, se chegar à China, dificilmente ficará em quadra tanto quanto nas últimas Olimpíadas.

"É claro que já comecei a pensar em Olimpíadas. E no Mundial também. Afinal, dois anos passam muito rápido", diz a ala Iziane, 22, principal revelação dos últimos anos do basquete brasileiro. Ela é a única nova geração que já conseguiu uma vaga entre as titulares.

A transição deve vir sem caras novas. As jogadoras que já estão na seleção devem ganhar espaço, convivendo com as veteranas. Em 2006, considerando a aversão do técnico Antonio Carlos Barbosa por mudanças, o grupo deve ser praticamente o mesmo que foi à Atenas.

Em Pequim, seis jogadoras -Adrianinha, Karla, Iziane, Érika, Silvinha e Kelly- vão chegar com menos de 30 anos. Leila, Cíntia Tuiú, Vivian e Helen serão mais novas do que Janeth na época de Atenas.

"É uma renovação que vem ocorrendo normalmente", diz o presidente da CBB (Confederação Brasileira), Gerasime Bozikis, o Grego. "É difícil fugir disso. O Brasil não tem tantas jogadoras assim", completa o técnico Antonio Carlos Barbosa.

A situação, porém, não é diferente. No garrafão, por exemplo, duas candidatas se destacam para suceder Alessandra. Kelly, com duas Olimpíadas na bagagem, e Érika, 22 anos, maior reboteira do Mundial sub-21 do ano passado.

"Em Atenas, a Érika jogou bastante. Era o momento dela. E foi bem. A Kelly tinha feito o mesmo no Mundial (da China, de 2002)", explica Barbosa. "Mas a posição 4 (ala-pivô), é um problema".

Em Atenas, a posição foi ocupada por Cíntia Tuiú e Leila. "Mas a Leila renderia melhor como lateral. Mas nas Olimpíadas, ainda era cedo para usá-la assim", avisa Barbosa, lembrando da lesão no joelho que deixou a atleta três anos parada.

A solução pode vir da seleção sub-21. Bassul, que comandou a equipe no vice-campeonato mundial em 2003, aponta Flávia, que está no basquete mundial, como uma alternativa para a posição. "Ela foi a segunda melhor nas estatísticas da competição e deve chegar rápido à seleção".

A posição de Janeth, a lateral, é a que tem mais problemas. Ela é titular da posição desde o começo dos anos 90 e ninguém ameaçou seu domínio no período. A única que se destacou na posição foi Micaela, melhor jogadora do último Campeonato Nacional.

Sem sorte, Micaela não disputou o Mundial de 2002 e não foi à Atenas. Em 2002, quebrou o pé às vésperas da competição. Nesse ano, rompeu o tendão de Aquiles. "A Janeth é sacrificada por causa disso, mas a Micaela e a Silvinha (que foi às Olimpíadas, mas jogou pouco tempo) tem potencial para assumir essa posição", diz Barbosa.

Outro setor complicado é a armação. Helen e Adrianinha são as preferidas do treinador, mas nenhuma delas jogou bem nas Olimpíadas. As atletas da posição da seleção sub-21 -Fabiana, Passarinho (Ana Flávia) e Karen-, segundo o treinador, são inexperientes.

"Essa é uma das posições mais difíceis para se formar. Essas duas são as únicas prontas. As jogadoras da sub-21 têm potencial, mas precisam provar primeiro em suas equipes que podem exercer a função", defende o treinado.

A única posição sem problemas é a 2, ala-armadora. Iziane foi a primeira peça da renovação. Em 2003, com 21 anos, se tornou titular da seleção. Em Atenas, foi a segunda cestinha da equipe, atrás de Janeth, e a terceira em assistências, com números menores apenas do que os de Helen e Janeth. "Ela já é uma realidade", afirma o assistente-técnico Paulo Bassul.

Treinador também deve entrar na renovação da seleção

Bruno Doro
Em São Paulo


A renovação da seleção brasileira feminina pode envolver um pouco mais do que as jogadoras. O treinador Antonio Carlos Barbosa também pode ser "renovado".

Não é segredo que o presidente da Confederação Brasileira (CBB), Gerasime Bozikis, quer Barbosa como coordenador de seleções. O que ninguém sabe, porém, é quando isso vai acontecer.

"O Barbosa segue como técnico da seleção. Ele assumirá a coordenação de seleções no momento oportuno e esse momento chegará naturalmente", explicou o dirigente.

No cargo desde 1997, o técnico foi o responsável pelo primeiro ciclo olímpico desde 1994 sem pódio em Mundiais ou Olimpíadas pela seleção. Em 2002, no Mundial da China, o Brasil foi só o sétimo colocado. Em Atenas-2004, foi quarto.

"Já é hora do Barbosa sair. Em Atenas, o time foi um amontoado de jogadoras. Como em Sydney, foram quatro derrotas. É um time sem padrão, sem liderança", diz a ex-jogadora Paula, que hoje é responsável por um projeto social em Piracicaba.

Entre as jogadoras, o sentimento de insatisfação também existe. Janeth, principal nome da seleção, não faz críticas ao treinador, mas não pareceu animada quando falou sobre o futuro do treinador na seleção. "Eu já ouvi tantas coisas sobre isso. Mas parece que ele não vai sair", disse, lacônica.

Kelly, uma das maiores defensoras do treinador antes das Olimpíadas, voltou dos Jogos com uma opinião diferente. "Em basquete, tudo se renova. Hoje, o jogo é mais atualizado do que há um ano. Desde que o Barbosa acompanhe isso, ele pode ficar", diz a atleta.

O técnico se defende. Segundo ele, a quarta colocação não foi desastrosa e o sétimo lugar no Mundial foi resultado de duas lesões em cima da hora. "Com as condições que temos, já é muito nos mantermos na elite por tanto tempo".

O sucessor também já está sendo preparado. Paulo Bassul, auxiliar da seleção e técnico do Americana, é o favorito para o posto. "Claro que o objetivo de todo técnico é chegar à seleção. Mas faço questão de dizer que a função de um técnico é escolher atletas. Escolher os técnicos é coisa para a Confederação".

Fonte: UOL


Mais informações: Eu Odeio Barbosa

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