domingo, 13 de junho de 2004

ATENAS 2004

Derrotas que arruinaram campanha no Mundial feminino de basquete criam no técnico trauma das asiáticas

Brasil agora teme ex-freguesas orientais

LUÍS CURRO
EDITOR-ASSISTENTE DE ESPORTE

Duas derrotas seguidas. Bastou isso para que os países asiáticos, fregueses da seleção brasileira feminina de basquete há dez anos, passassem a ser agora temidos.
"Não gosto de jogar contra as asiáticas", disse à Folha o técnico Antonio Carlos Barbosa, que nesta semana deu início, em São Paulo, aos treinos da equipe para a Olimpíada de Atenas, em agosto.
Ao falar dos possíveis rivais do Brasil em um mata-mata na Grécia, o treinador quer China ou Coréia longe -na primeira fase, pega obrigatoriamente o Japão.
"Prefiro fugir delas, que não têm jogadoras pesadas e tiram as nossas do garrafão. Nosso jogo encaixa mais com o das européias." República Tcheca e Espanha são potenciais oponentes.
Desgostoso, o treinador ainda traz na memória a pífia campanha do Brasil no Mundial-2002.
Depois de cinco vitórias e uma derrota na fase inicial, tinha pela frente a "zebra" Coréia do Sul nas quartas-de-final. O Brasil terminou o primeiro tempo com a confortável vantagem de 11 pontos. Cedeu terreno e, no fim, as sul-coreanas triunfaram por um ponto.
No jogo seguinte, uma das vítimas das brasileiras na primeira fase, a anfitriã China. E, com ela, nova derrota. De novo, por um único ponto. E o Brasil deixou a Ásia com a sétima colocação.
Barbosa, à frente da seleção desde 1997, balançou no cargo por quase quatro meses. Mantido, ganhou sobrevida ao classificar no ano passado o time para Atenas.
O trauma das asiáticas surge exatos dez anos após o Brasil ter alcançado, em cima da China, a maior conquista de sua história. Ontem foi o aniversário de uma década da vitória na Austrália que rendeu à seleção, então comandada por Miguel Angelo da Luz (e na quadra por Paula e Hortência), o inédito campeonato mundial.
Outro resultado marcante da seleção, o bronze na Olimpíada de Sydney, há quatro anos, também foi obtido à custa de um país oriental -a Coréia sucumbiu.
Presente nas duas conquistas e também nas derrotas no último Mundial, a pivô Alessandra diz que o Brasil só perdeu porque "faltou aplicação na defesa".
"Os asiáticos não são como os brasileiros. O talento deles é fabricado pela repetição, por isso são bons só no tênis de mesa. Joguei na Coréia três meses, sei como é. Perdemos porque achamos que eram anãs, que já estava ganho."
A armadora Helen, que estava na Rússia, reconhece que as asiáticas são "velozes e chutam bem de três pontos", mas não titubeia na opção: "Prefiro a China à República Tcheca. As européias são muito fortes [fisicamente]".

Austrália é algoz, e África oferece oponentes ideais

DA REPORTAGEM LOCAL

Na ponta do lápis, o raciocínio de Antonio Carlos Barbosa, 59, de preferir encarar seleções da Europa nos Jogos Olímpicos, faz sentido. Contabilizando os três Mundiais e as duas Olimpíadas desde 1994, o Brasil duelou com seleções européias 16 vezes. Ganhou 13 e registra um aproveitamento de 81%.
Antes de cair diante de China e Coréia do Sul no Mundial-02, no mesmo período a eficácia brasileira contra as asiáticas era de 88% -agora está em 70%.
Se depender do retrospecto, a seleção já pode contar com ao menos uma vitória na primeira fase em Atenas, diante da Nigéria (pegará também Grécia, Rússia, Austrália e Japão).
Nos últimos dez anos, em suas campanhas nos mais importantes torneios, as brasileiras não sofreram derrota para países africanos, nos quais o basquete ainda engatinha. Venceu fácil os dois confrontos, ambos diante de Senegal.
Contra rivais das Américas, o Brasil teve no período aproveitamento de 67% (seis triunfos, três reveses), enfrentando EUA, Cuba, Canadá e Argentina. Duas das derrotas foram para as norte-americanas.
Em relação à Oceania, a seleção só cruzou com a Austrália, que é sua maior pedra no sapato. Em cinco encontros, houve só uma vitória brasileira. (LC)

Fonte: Folha de São Paulo


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