Túnel do Tempo
O brilho da sombra
Um talento cultivado em silêncio ganha em Atlanta o reconhecimento do mundo
Paula é da raça das heroínas invisíveis. Uma das melhores jogadoras de basquete de todos os tempos, viu a carreira esportiva passar servindo com seu rigor e constância ao brilho de Hortência, a indiscutível e explosiva número 1 das quadras. Em Atlanta, aos 34 anos, em sua segunda Olimpíada, Maria Paula Gonçalves Silva está vencendo a vocação do anonimato e firmando-se como a mais poderosa jogadora de basquete da seleção brasileira. São poucas as mulheres no mundo capazes de fazer o que ela faz com uma bola de basquete e uma cesta. Paula sabe driblar, fintar, arremessar, passar, armar e marcar as adversárias. Por isso mesmo, quando falam de basquete feminino, as melhores publicações esportivas do mundo se referem com admiração a Paula Silva. Dois anos atrás ela comandou o Brasil na conquista de um inédito campeonato mundial e despediu-se formalmente da seleção. Não resistiu. Está de volta à camiseta amarela número 8. Em Atlanta, Paula disputa o ouro olímpico, o único título que falta em sua coleção de vitórias.
Dona de uma beleza brasileira plácida, quase comum, Paula é a encarnação da lenda olímpica de que não existem pessoas extraordinárias. Existem pessoas comuns que, algumas vezes, fazem coisas extraordinárias. Ela as faz quase sempre. "Dei minha vida ao basquete e não me arrependo. Em troca ganhei tudo o que tenho", diz. Ela juntou um patrimônio razoável. Poderia parar de jogar basquete quando quisesse. Viaja todos os anos para a Europa. Leva o pai e a mãe, às vezes a irmã. No Brasil vive aquele dilema típico de quem cultua a privacidade mas adora a fama. Na Europa pode extravasar. Paula já teve um namorado firme no passado, mas não tão firme a ponto de marcar uma cesta no coração dela ou na lembrança da torcida. Essa é sua sina. As coisas públicas de Paula são feitas de maneira tão contida que depois de anos e anos de exposição como ídolo esportivo ela não tem uma cara muito nítida projetada no imaginário brasileiro. Ninguém sabe o que ela pensa, quais são suas paixões e medos. Como será a vida de Paula depois do basquete?
Em Atlanta, ainda confusa com a contusão grave de Hortência no jogo contra o Japão, quinta-feira passada, Paula considerava a chegada do dia em que ela própria abandonará o esporte. Eis aqui um raro susto da moça sem surpresas. Quer ser política. A meta é ser prefeita de Piracicaba. Ou de Campinas. Ou então deputada. A política está definitivamente em seus planos. Antes de viajar para os Estados Unidos ela recebeu convite para ser candidata nas eleições municipais de outubro pelo Partido Popular Socialista, o PPS, antigo Partido Comunista Brasileiro. "O duro na política é conviver com os políticos", diz ela. "Mas não podemos ficar de fora, reclamando. Se queremos mudar este país, temos de entrar na política e tomar o lugar dessa gente." Paula só começou a ganhar bom dinheiro com basquete nos últimos cinco anos, depois que aceitou jogar uma temporada na Espanha. Seu patrimônio inclui um apartamento e uma casa em Campinas, um sítio em Piracicaba, onde moram seus pais e onde passa os momentos de folga. Os negócios se expandiram para uma distribuidora de balas e uma griffe de roupas esportivas. Tudo o que o basquete brasileiro ganhou nos últimos dez anos se deve em grande parte a Paula. Exige muita coragem arriscar um patrimônio desse tamanho na transição da cesta para as urnas.
Revista Veja - 31 de Julho de 1.996
Com Mariliza
O brilho da sombra
Um talento cultivado em silêncio ganha em Atlanta o reconhecimento do mundo
Paula é da raça das heroínas invisíveis. Uma das melhores jogadoras de basquete de todos os tempos, viu a carreira esportiva passar servindo com seu rigor e constância ao brilho de Hortência, a indiscutível e explosiva número 1 das quadras. Em Atlanta, aos 34 anos, em sua segunda Olimpíada, Maria Paula Gonçalves Silva está vencendo a vocação do anonimato e firmando-se como a mais poderosa jogadora de basquete da seleção brasileira. São poucas as mulheres no mundo capazes de fazer o que ela faz com uma bola de basquete e uma cesta. Paula sabe driblar, fintar, arremessar, passar, armar e marcar as adversárias. Por isso mesmo, quando falam de basquete feminino, as melhores publicações esportivas do mundo se referem com admiração a Paula Silva. Dois anos atrás ela comandou o Brasil na conquista de um inédito campeonato mundial e despediu-se formalmente da seleção. Não resistiu. Está de volta à camiseta amarela número 8. Em Atlanta, Paula disputa o ouro olímpico, o único título que falta em sua coleção de vitórias.
Dona de uma beleza brasileira plácida, quase comum, Paula é a encarnação da lenda olímpica de que não existem pessoas extraordinárias. Existem pessoas comuns que, algumas vezes, fazem coisas extraordinárias. Ela as faz quase sempre. "Dei minha vida ao basquete e não me arrependo. Em troca ganhei tudo o que tenho", diz. Ela juntou um patrimônio razoável. Poderia parar de jogar basquete quando quisesse. Viaja todos os anos para a Europa. Leva o pai e a mãe, às vezes a irmã. No Brasil vive aquele dilema típico de quem cultua a privacidade mas adora a fama. Na Europa pode extravasar. Paula já teve um namorado firme no passado, mas não tão firme a ponto de marcar uma cesta no coração dela ou na lembrança da torcida. Essa é sua sina. As coisas públicas de Paula são feitas de maneira tão contida que depois de anos e anos de exposição como ídolo esportivo ela não tem uma cara muito nítida projetada no imaginário brasileiro. Ninguém sabe o que ela pensa, quais são suas paixões e medos. Como será a vida de Paula depois do basquete?
Em Atlanta, ainda confusa com a contusão grave de Hortência no jogo contra o Japão, quinta-feira passada, Paula considerava a chegada do dia em que ela própria abandonará o esporte. Eis aqui um raro susto da moça sem surpresas. Quer ser política. A meta é ser prefeita de Piracicaba. Ou de Campinas. Ou então deputada. A política está definitivamente em seus planos. Antes de viajar para os Estados Unidos ela recebeu convite para ser candidata nas eleições municipais de outubro pelo Partido Popular Socialista, o PPS, antigo Partido Comunista Brasileiro. "O duro na política é conviver com os políticos", diz ela. "Mas não podemos ficar de fora, reclamando. Se queremos mudar este país, temos de entrar na política e tomar o lugar dessa gente." Paula só começou a ganhar bom dinheiro com basquete nos últimos cinco anos, depois que aceitou jogar uma temporada na Espanha. Seu patrimônio inclui um apartamento e uma casa em Campinas, um sítio em Piracicaba, onde moram seus pais e onde passa os momentos de folga. Os negócios se expandiram para uma distribuidora de balas e uma griffe de roupas esportivas. Tudo o que o basquete brasileiro ganhou nos últimos dez anos se deve em grande parte a Paula. Exige muita coragem arriscar um patrimônio desse tamanho na transição da cesta para as urnas.
Revista Veja - 31 de Julho de 1.996
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