Secretária nacional de alto rendimento reivindica a ministro revisão de políticas para o esporte
Paula cobra autonomia e ataca elitismo do chefe
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
Paula cobra autonomia e ataca elitismo do chefe
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
Os secretários do Ministério do Esporte não têm autonomia e estão angustiados. A política do governo Lula para o setor privilegia confederações e atletas de ponta em detrimento do investimento na base. É necessária uma revisão de critérios na distribuição das verbas públicas para o esporte.
As críticas à condução da política esportiva do país na gestão de Agnelo Queiroz (PC do B) não são de tucanos ou pefelistas. Vêm da própria Esplanada dos Ministérios, mais precisamente de dentro da pasta que Queiroz conduz há dez meses. A autora é a funcionária mais famosa do órgão, a ex-jogadora Paula, 41, secretária nacional de esporte de alto rendimento.
"Estou reivindicando coisas que são angústias de muitas pessoas aqui dentro [do ministério]. Nós, os secretários, precisamos ter mais autonomia. Vim aqui para trabalhar, não vim para brincar, para morar em Brasília. Vim para ver as coisas acontecerem e quero que as pessoas confiem na gente. Vou lutar até a hora em que eu achar que não tem mais jeito", afirmou Paula à Folha.
Há três secretarias no ministério: além da de Paula, as de Esporte Educacional (Orlando Júnior) e Desenvolvimento de Esporte e de Lazer (Lino Castellani Filho). Os titulares se queixam que a secretaria-executiva da pasta centraliza, sem diálogo, as decisões sobre projetos e verbas. A crise causou a queda do secretário-executivo Gil Castelo Branco, cuja exoneração será publicada hoje.
Segundo a Folha apurou, nos últimos dias Paula cogitou deixar o cargo, mas resolveu levar suas queixas a Queiroz e aguardar para ver se elas surtiriam efeito.
Outro incômodo da ex-jogadora é quanto à política do ministério para os esportes olímpicos.
Embora a sua secretaria seja responsável pelo alto rendimento (modalidades que objetivam resultados e performance), Paula defende que os recursos do governo para essa área não fiquem concentrados nas mãos de confederações e atletas de renome, que já têm patrocínios próprios.
Neste ano, a verba pública destinada ao Comitê Olímpico Brasileiro, proveniente da Lei Piva (que destina 2% da arrecadação de loterias federais ao esporte), deverá superar o orçamento do ministério, de R$ 43,1 milhões.
Ainda assim, Queiroz acena com mais dinheiro para o COB ao defender, por exemplo, que a verba do esporte educacional da Lei Piva (15% do que o comitê recebe) vá para a construção de um instituto para formar treinadores.
"Não dá para a gente aqui investir nossos poucos recursos numa confederação que tem patrocínio estatal, que tem a Lei Piva, enquanto o primo pobre não tem nada", criticou Paula.
"O que a Lei Piva aporta para outros esportes é maior do que temos para todos os nossos projetos. O que eles têm não está bom, mas a grana que teria que focar no atleta não está indo, o problema continua. A verba da Lei Piva favorece as confederações, para pagar despesas. E o atleta segue nessa insegurança, sem patrocínio. Temos de ter critérios diferentes."
A secretária também viu de forma atravessada o empenho do ministério para obter patrocínios de estatais a confederações, como o da Eletrobrás à CBB (basquete), entidade cuja administração é contestada pela ex-atleta.
A cobrança de hoje é a mesma feita na véspera de assumir o cargo, em maio. Disse Paula na ocasião: "As confederações têm de formar atletas. Várias delas empregam o dinheiro que recebem da Lei Piva apenas em competições, mas não acho certo esse dinheiro pagar só bilhete aéreo e estadia. Vou cobrar contrapartida".
Embora aparentemente nada tenha mudado em cinco meses, Paula -que antes de ir para Brasília era administradora do Centro Olímpico do Ibirapuera, da Prefeitura de São Paulo- disse não ter conversado ainda com Queiroz sobre suas angústias.
"Não, não tive tempo ainda. Vou conversar com ele, claro. Mas ele sabe de tudo isso."
Base versus elite é dilema desde as gestões de FHC
DO PAINEL FC E
DA REPORTAGEM LOCAL
Sai governo, entra governo, o debate sobre o destino das verbas públicas para esportes olímpicos segue igual: vale mais investir na base -a longo prazo, formando atletas no nascedouro- ou no topo, injetando recursos em atletas de elite que dão retorno imediato?
Nas duas gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o Estado passou a aportar mais recursos no esporte, especialmente nas modalidades olímpicas, via estatais ou por verba orçamentária.
O divisor de águas foi a Lei Piva. Aprovada em julho de 2001 sob o nome de um ex-senador tucano (Pedro Piva) e sancionada por FHC, a legislação que destina 2% da arrecadação das loterias aos esportes olímpicos foi formulada também pelo então deputado comunista Agnelo Queiroz.
Embora, nos anos FHC, a elite tenha ganho boa parte da verba pública, no governo Lula -o primeiro a criar um ministério exclusivo para o setor- o patrocínio de estatais a esportes de alto rendimento cresceu.
O que une as duas gestões é a míngua da verba orçamentária do ministério. Hoje é a menor da Esplanada: R$ 43,1 milhões.
Nas potências esportivas do continente -EUA, Cuba e Canadá-, a realidade é bem diferente, assim como as cifras.
Nos EUA, o Usoc, comitê olímpico local, diz que o investimento em esporte em 2002 foi superior a US$ 700 milhões, somando verbas federais e do próprio órgão. Os recursos do Usoc são na maior parte privados, e o dinheiro começa a ser empregado nas escolas.
Em Cuba, esporte é uma das prioridades do governo, ao lado de educação e saúde.
No Canadá o comitê olímpico arrecada cerca de US$ 11 milhões/ano, só da iniciativa privada. E o governo investe outros US$ 200 milhões.(FV e JCA)
Queiroz evita duelo e diz que é "opinião dela"
DO PAINEL FC
Dois principais alvos das críticas de Paula, o ministro Agnelo Queiroz e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, não se manifestaram sobre as declarações da secretária nacional de alto rendimento.
Queiroz afirmou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que não entraria no mérito do conteúdo das declarações. Segundo o ministro, tratam-se de "opiniões pessoais" de Paula, que a ex-jogadora tem o direito de externar. Disse ainda desconhecer que a ex-atleta tenha cogitado deixar seu cargo no ministério.
Paula foi nomeada por Queiroz pela visibilidade nacional que desfruta como ex-jogadora, uma das maiores da história do basquete no país, mas também pelo papel que desempenhou à frente do Centro Olímpico do Ibirapuera, órgão da Prefeitura de São Paulo, cuja Secretaria de Esporte é comandada por Nádia Campeão, do PC do B -como o ministro.
Já Carlos Arthur Nuzman não foi localizado para comentar. Embora a Folha tenha contatado a assessoria do COB às 16h de ontem e informado o teor da reportagem, o dirigente não deu retorno até o fechamento desta edição. Segundo seus assessores, Nuzman foi a um enterro e em seguida participaria de uma reunião.
Não é de hoje que são espinhosas as relações entre Paula e o comitê. Antes de assumir o cargo no ministério, ela sugeriu que a verba da Lei Piva, repassada pelo COB às confederações, era usada para pagar passagens aéreas e diárias de hotel.
A manifestação enfureceu Nuzman. Logo após Paula assumir, o cartola, que tem ótimo trânsito com Queiroz e é frequentador assíduo da Esplanada, encontrou-se com a secretária no ministério. Ela disse que suas declarações haviam sido tiradas de contexto, enquanto ele negou a "farra das passagens".(FV)
Fonte: Folha de São Paulo
As críticas à condução da política esportiva do país na gestão de Agnelo Queiroz (PC do B) não são de tucanos ou pefelistas. Vêm da própria Esplanada dos Ministérios, mais precisamente de dentro da pasta que Queiroz conduz há dez meses. A autora é a funcionária mais famosa do órgão, a ex-jogadora Paula, 41, secretária nacional de esporte de alto rendimento.
"Estou reivindicando coisas que são angústias de muitas pessoas aqui dentro [do ministério]. Nós, os secretários, precisamos ter mais autonomia. Vim aqui para trabalhar, não vim para brincar, para morar em Brasília. Vim para ver as coisas acontecerem e quero que as pessoas confiem na gente. Vou lutar até a hora em que eu achar que não tem mais jeito", afirmou Paula à Folha.
Há três secretarias no ministério: além da de Paula, as de Esporte Educacional (Orlando Júnior) e Desenvolvimento de Esporte e de Lazer (Lino Castellani Filho). Os titulares se queixam que a secretaria-executiva da pasta centraliza, sem diálogo, as decisões sobre projetos e verbas. A crise causou a queda do secretário-executivo Gil Castelo Branco, cuja exoneração será publicada hoje.
Segundo a Folha apurou, nos últimos dias Paula cogitou deixar o cargo, mas resolveu levar suas queixas a Queiroz e aguardar para ver se elas surtiriam efeito.
Outro incômodo da ex-jogadora é quanto à política do ministério para os esportes olímpicos.
Embora a sua secretaria seja responsável pelo alto rendimento (modalidades que objetivam resultados e performance), Paula defende que os recursos do governo para essa área não fiquem concentrados nas mãos de confederações e atletas de renome, que já têm patrocínios próprios.
Neste ano, a verba pública destinada ao Comitê Olímpico Brasileiro, proveniente da Lei Piva (que destina 2% da arrecadação de loterias federais ao esporte), deverá superar o orçamento do ministério, de R$ 43,1 milhões.
Ainda assim, Queiroz acena com mais dinheiro para o COB ao defender, por exemplo, que a verba do esporte educacional da Lei Piva (15% do que o comitê recebe) vá para a construção de um instituto para formar treinadores.
"Não dá para a gente aqui investir nossos poucos recursos numa confederação que tem patrocínio estatal, que tem a Lei Piva, enquanto o primo pobre não tem nada", criticou Paula.
"O que a Lei Piva aporta para outros esportes é maior do que temos para todos os nossos projetos. O que eles têm não está bom, mas a grana que teria que focar no atleta não está indo, o problema continua. A verba da Lei Piva favorece as confederações, para pagar despesas. E o atleta segue nessa insegurança, sem patrocínio. Temos de ter critérios diferentes."
A secretária também viu de forma atravessada o empenho do ministério para obter patrocínios de estatais a confederações, como o da Eletrobrás à CBB (basquete), entidade cuja administração é contestada pela ex-atleta.
A cobrança de hoje é a mesma feita na véspera de assumir o cargo, em maio. Disse Paula na ocasião: "As confederações têm de formar atletas. Várias delas empregam o dinheiro que recebem da Lei Piva apenas em competições, mas não acho certo esse dinheiro pagar só bilhete aéreo e estadia. Vou cobrar contrapartida".
Embora aparentemente nada tenha mudado em cinco meses, Paula -que antes de ir para Brasília era administradora do Centro Olímpico do Ibirapuera, da Prefeitura de São Paulo- disse não ter conversado ainda com Queiroz sobre suas angústias.
"Não, não tive tempo ainda. Vou conversar com ele, claro. Mas ele sabe de tudo isso."
Base versus elite é dilema desde as gestões de FHC
DO PAINEL FC E
DA REPORTAGEM LOCAL
Sai governo, entra governo, o debate sobre o destino das verbas públicas para esportes olímpicos segue igual: vale mais investir na base -a longo prazo, formando atletas no nascedouro- ou no topo, injetando recursos em atletas de elite que dão retorno imediato?
Nas duas gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o Estado passou a aportar mais recursos no esporte, especialmente nas modalidades olímpicas, via estatais ou por verba orçamentária.
O divisor de águas foi a Lei Piva. Aprovada em julho de 2001 sob o nome de um ex-senador tucano (Pedro Piva) e sancionada por FHC, a legislação que destina 2% da arrecadação das loterias aos esportes olímpicos foi formulada também pelo então deputado comunista Agnelo Queiroz.
Embora, nos anos FHC, a elite tenha ganho boa parte da verba pública, no governo Lula -o primeiro a criar um ministério exclusivo para o setor- o patrocínio de estatais a esportes de alto rendimento cresceu.
O que une as duas gestões é a míngua da verba orçamentária do ministério. Hoje é a menor da Esplanada: R$ 43,1 milhões.
Nas potências esportivas do continente -EUA, Cuba e Canadá-, a realidade é bem diferente, assim como as cifras.
Nos EUA, o Usoc, comitê olímpico local, diz que o investimento em esporte em 2002 foi superior a US$ 700 milhões, somando verbas federais e do próprio órgão. Os recursos do Usoc são na maior parte privados, e o dinheiro começa a ser empregado nas escolas.
Em Cuba, esporte é uma das prioridades do governo, ao lado de educação e saúde.
No Canadá o comitê olímpico arrecada cerca de US$ 11 milhões/ano, só da iniciativa privada. E o governo investe outros US$ 200 milhões.(FV e JCA)
Queiroz evita duelo e diz que é "opinião dela"
DO PAINEL FC
Dois principais alvos das críticas de Paula, o ministro Agnelo Queiroz e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, não se manifestaram sobre as declarações da secretária nacional de alto rendimento.
Queiroz afirmou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que não entraria no mérito do conteúdo das declarações. Segundo o ministro, tratam-se de "opiniões pessoais" de Paula, que a ex-jogadora tem o direito de externar. Disse ainda desconhecer que a ex-atleta tenha cogitado deixar seu cargo no ministério.
Paula foi nomeada por Queiroz pela visibilidade nacional que desfruta como ex-jogadora, uma das maiores da história do basquete no país, mas também pelo papel que desempenhou à frente do Centro Olímpico do Ibirapuera, órgão da Prefeitura de São Paulo, cuja Secretaria de Esporte é comandada por Nádia Campeão, do PC do B -como o ministro.
Já Carlos Arthur Nuzman não foi localizado para comentar. Embora a Folha tenha contatado a assessoria do COB às 16h de ontem e informado o teor da reportagem, o dirigente não deu retorno até o fechamento desta edição. Segundo seus assessores, Nuzman foi a um enterro e em seguida participaria de uma reunião.
Não é de hoje que são espinhosas as relações entre Paula e o comitê. Antes de assumir o cargo no ministério, ela sugeriu que a verba da Lei Piva, repassada pelo COB às confederações, era usada para pagar passagens aéreas e diárias de hotel.
A manifestação enfureceu Nuzman. Logo após Paula assumir, o cartola, que tem ótimo trânsito com Queiroz e é frequentador assíduo da Esplanada, encontrou-se com a secretária no ministério. Ela disse que suas declarações haviam sido tiradas de contexto, enquanto ele negou a "farra das passagens".(FV)
Fonte: Folha de São Paulo
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