quinta-feira, 23 de outubro de 2003

Cesta na Rede, Toda Sexta na Rede

Por Marcelo Suwabe

Os caminhos de Paula

Imagine um pescador.

Um pescador que ama seu ofício e que nasceu para aquilo.

Um pescador que conhece bem as técnicas da pesca, os tipos de isca, o melhor horário para pescar. Um pescador que use toda a sua criatividade, que não exista tempo feio pra ele. Um pescador que sabe, olhando a direção do vento e o movimento das ondas, o caminho exato para os maiores cardumes.

Agora imaginem este pescador sem seus apetrechos de pesca. Imaginem que alguém apareça e tire o seu anzol e a sua vara e fale para ele que ele não pode mais pescar.

A situação que a Paula se encontra como secretária de esportes de alto rendimento talvez seja parecido com a do pescador impedido de pescar.

Pior ainda, no caso da Paula é como se alguém tivesse tirado a bola de basquete de suas mãos. Não a deixassem jogar.

Voltemos um pouquinho no tempo e relembremos as atuações da Paula quando ela ainda jogava. O que Paula fazia em quadra, não era apenas a repetição de alguns lances treinados à exaustão. Não era apenas o jump automático, o arremesso preciso e a cesta certeira. Paula tinha um dom especial. Paula conhecia os caminhos, os atalhos das quadras.

Quando ela entrava em cena a única coisa que sabíamos é que ela não faria os mesmos movimentos do jogo anterior. Em quadra sua criatividade aflorava. A cada jogada, uma nova surpresa. O inesperado era a única coisa que se esperava de nossa querida Magic Paula.

Esta sempre foi a graça da Paula. Paula percorria o caminho do inusitado, o caminho da criatividade. Num país sem recursos, a criatividade sempre estará na ordem do dia.

Paula jogava por prazer e sempre foi meio avessa ao marketing e ao dinheiro.

Suas atuações como Diretora do Centro Olímpico do Ibirapuera em São Paulo e como Secretaria de Esportes de Alto Rendimento mostram que Paula trouxe seu brilho para a administração pública. Ela continua percorrendo o mesmo caminho, o caminho da ética.

Ela, porém, encontra-se de mãos atadas. Justo ela que sempre teve tanta habilidade com suas mãos. O que fazer?

Em administração e em marketing, quando estamos realizando um projeto, dividimos tal projeto no que chamamos de missão e visão. A visão do projeto é algo inatingível, mas que guia a idéia central para que o projeto seja realizado com excelência. Já a missão é algo dentro do possível, algo atingível, um caminho realizável.

Parece que a visão de algumas pessoas que estão no poder político/esportivo aqui no Brasil é apenas conseguir grandes resultados com esportes de alto rendimento. Digo visão (e não missão) por que basta a gente rever as últimas olimpíadas que perceberemos que grandes resultados foram coisas inatingíveis. Além disto, falando de algo mais recente, ninguém é bobo de achar que os resultados do Pan 2003 (quando EUA e Canadá não participaram com sua força total) coloca o Brasil entre as maiores potências esportivas mundiais. Será que nossos políticos do esporte estão no caminho certo?

Paula tem uma missão muito maior do que apenas bons resultados em Olimpíadas e Mundiais. Sua missão está ligado à melhoria de qualidade de vida da população através do esporte.

A possível saída de Paula da pasta de Esportes do Governo Lula não resolve o problema do esporte brasileiro e, o pior, se outro entrar, as coisas podem ir por caminhos avessos às nossas expectativas.

Precisamos de uma representante que pense o esporte como um todo, que pense na educação e na qualidade de vida da população. Precisamos de uma pessoa que pense na formação de novos talentos e pense, também, no cidadão em si. Precisamos de uma porta-voz que seja de nossa confiança, que seja criativa, que seja ética, que seja Paula.

É difícil, para quem sempre pôde mostrar suas mágicas, ficar de mãos atadas. O trabalho dentro da política é osso duro de roer. Paula já conseguiu seu espaço, está precisando que a deixem trabalhar, que a deixem fazer dribles e passes, que a deixem mostrar o caminho da cesta.

Paula, não desanime.

Você chegou onde muita gente, oportunista (diga-se de passagem) queria estar. Mas você chegou lá, por méritos próprios. Seu grito pode ainda ser pequeno, mas não é único.

Você nunca deixou que interesses pessoais prevalecessem em cima dos interesses da melhoria do esporte.

Grite por nós. Nós fazemos coro junto com você.

Não se cale.

Não permita que te calem.

É de você que nós precisamos. O caminho certo é você.

Nenhum comentário: